O jogo político do STF e a plateia catatônica
A mídia não manda nenhum repórter à Suíça para entrevistar autoridades do país responsáveis por denunciar a existência das contas de Eduardo Cunha, um homem poderoso, porém já enviou dezenas para monitorar cada passo de Pizzolato, um indivíduo que nunca teve qualquer poder político - quanto mais agora
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O país assiste ao show diário de horrores das conspirações midiático-judiciais com um cansaço catatônico. Com o golpe parlamentar suspenso por tempo indeterminado, volta-se ao circo de sempre, com direito a um revival tedioso daquele que foi, por assim dizer, o golpismo originário: o julgamento farsesco do mensalão. Ao se recusar, por medo, tática e incompetência política (mais provavelmente os três juntos), a construir uma estratégia de combate a este golpismo, o PT e o governo deixaram a doença se espalhar e contaminar todo o Estado. Agora muitos procuradores e juízes querem fazer justiça com as próprias mãos e, para isso, dispensam provas e montam teorias ao sabor de seus desejos e rancores partidários.
Falo evidentemente do previsível circo montado para receber Henrique Pizzolato. A mídia não manda nenhum repórter à Suíça para entrevistar autoridades do país responsáveis por denunciar a existência das contas de Eduardo Cunha, um homem poderoso, porém já enviou dezenas para monitorar cada passo de um indivíduo que nunca teve qualquer poder político - quanto mais agora.
O Cafezinho acompanhou o processo de Pizzolato. Ele é, em verdade, o calcanhar de aquiles da farsa do mensalão, porque há provas fartas de que não poderia ter mexido nos recursos do Visanet e, portanto, não poderia ser o elo financeiro do esquema de caixa 2 montado pelo PT.
Pizzolato é inocente de suas acusações. É sintomático do nosso tempo que a imprensa tenha perdido qualquer compromisso com a verdade. Se houvesse qualquer ética jornalística no país, a defesa de Pizzolato seria ouvida e a história do Brasil seria contada de maneira diferente.
Sem Pizzolato, porém, toda a farsa cai por terra, e não por outra razão o seu caso foi cercado de tanto ódio político por parte da mídia e da Procuradoria, que montou uma estratégia milionária para provar sua culpabilidade e lhe trazer da Itália.
O PT, por sua vez, por ver Pizzolato como figura menor no partido, fez cálculos apressados e entendeu que não havia outra chance senão oferecê-lo como cordeiro para o sacrifício. Os outros réus petistas, como Dirceu, Cunha e Genoíno, jamais acreditaram que o STF chegaria onde chegou, condenando sem provas, e elaboraram estratégias individualizadas, ao invés de montarem uma estratégia coletiva para desmontar o mérito de toda a peça de acusação.
No front econômico, temos notícias ruins sobre a inflação, mas ainda sob controle. O Banco Central emitiu sinais ambíguos sobre os juros, mas o mercado entendeu que ele sinalizou que poderá relaxar um pouco ao longo de 2016, fazendo os juros futuros caírem.
A bolsa subiu vigorosamente nesta quinta-feira, sinal de que o mercado associa estabilidade à volta do crescimento, uma lógica que prejudica o golpe.
No campo progressista, houve uma certa irritação com a decisão de Teori Zavascki de não dar habeas corpus a Marcelo Odebrecht, mas trata-se, mais uma vez, de política.
O STF cortou as asas do golpismo parlamentar, apesar deste ainda tentar cantar - pateticamente - de galo, sob os olhos complacentes da imprensa, e por isso mesmo ele - o STF - precisa agora assoprar um pouco as feridas do golpismo.
A tendência, porém, é a estabilidade, sob pressão agora dos agentes econômicos, satisfeitos com um governo enfraquecido politicamente e, por isso, sob influência fácil da mídia.
O que talvez seja um elemento surpresa, conforme salientei em análise anterior, e está passando despercebido pela imprensa partidária, é que Dilma pode sair fortalecida do processo de tentativa de golpe.
Tudo vai depender, naturalmente, das estratégias de política e comunicação do Planalto.
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