O império gasta seus últimos centavos
As finanças usam os EUA, hoje a serviço dos “gestores de ativos”, para ameaçar, punir, corromper pessoas, instituições e países, para ter alguma sobrevida
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“Se a China fez a Revolução que fez, o Brasil pode fazer muito mais”, general Antônio Carlos de Andrada Serpa (1916-1996), palestra aos estudantes na Universidade de Brasília (1982).
Ocorreram diversos fatos, nestes últimos dias, tratados como isolados por todas as mídias, que, no entanto, têm um fio bastante nítido a costura-los: o fim do Império, não só estadunidense, mas do capital financeiro apátrida.
Brevíssima recordação. Durante o século XX, a verdadeira luta não se travou entre os comunismos e os capitalismos. Disputaram-na o capitalismo industrial e o capitalismo financeiro com a vitória deste último, obtida com as desregulações promovidas pelo Reino Unido (Margaret Thatcher) e pelos Estados Unidos da América – EUA (Ronald Reagan), na década 1980, com o Consenso de Washington (1989) e com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (1991).
Vitorioso o capital financeiro, nele penetrou, em volumes cada vez maiores, o capital marginal, oriundo de toda sorte de ilícitos, assim considerados pelas legislações nacionais e pelos tratados internacionais, tais como: tráfico de drogas, contrabando de armas, venda de seres e órgãos humanos, evasão fiscal, corrupção etc.
No entanto, a conquista do poder foi cara. A mais importante arma do capital financeiro é a compra: do corpo e da alma, de pessoas físicas e jurídicas, de empresas e de Estados Nacionais. E a conquista do poder exigiu muito, muitíssimo dinheiro, e, consequentemente, a necessidade do mais rápido ressarcimento possível, para poder se sustentar. Desta necessidade surgiram as sete crises entre 1992 e 2002 (Europa, México, Gigantes asiáticos, Rússia, Brasil, EUA – internet e Argentina) e a emissão de bilhões ou trilhões de dólares em papéis sem lastro, evidenciados na crise 2008-2010.
Ao lado desta montanha de papel pintado de verde (agora também azul) surgiam taxas de juros sem correspondência com as economias, desemprego, redução de produção, precariedade dos trabalhos, crises e redução das previdências e assistências sociais, e, novas formas de controle da demografia: produção de vírus em laboratórios. E era no Ocidente que tudo isso atingia mais fortemente. Porque no Oriente estava se construindo um novo padrão civilizatório, multipolar, de investimentos produtivos, baseado no trabalho: a nova China que já havia causado admiração ao general Serpa.
Hoje temos a Nova Rota da Seda, com 145 países, 21 da América Latina, uma influência indiscutível e crescente, ameaçando a decadente primazia do “fim da história”, do mundo unipolar.
E as finanças usam os EUA, a antiga potência nacional, hoje a serviço dos “gestores de ativos”, para ameaçar, punir se possível, e corromper pessoas, instituições e países, para ter alguma sobrevida.
Estas ações que foram desentendidas e mal analisadas pela mídia.
No mundo a expatriação de Julian Assange, criador da WikiLeaks, que já não causaria qualquer outro desconforto, mas sua morte nos EUA é um ato de vingança e intimidação que as finanças exigem. A mudança de posição de Recep Tayyip Erdoğan, da Turquia, em relação à admissão da Finlândia e da Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que deve ter custado bastante caro, caríssimo, para quem já tem dívida na ordem de quatrilhões de dólares estadunidenses, conforme levantamento do think thank alemão, Instituto Schiller. E as eleições e campanhas eleitorais na América do Sul, patrocinadas por um dos magnatas, George Soros e sua Open Society Foundations, as que ocorreram no Chile e na Colômbia e acontecerão no Brasil.
Antes de tratar do Brasil, ainda é importante ressaltar outros eventos de repercussão internacional que mostram a fragilidade das finanças:
a) O sigilosíssimo encontro do Clube de Bilderberg, ainda mais escondido este ano, pois nada mais ocorreu do que uma série de lamentos e busca por culpados. De forma inédita não saiu a diretriz impositiva para bancos e instituições financeiras mundiais, com objetivos precisos para suas execuções.
b) O fracassado encontro de Biden com a Cúpula das Américas, mas caracterizado pelas ausências do que pelas imposições, que levou Joe Biden a se dirigir a quem não estava presente, como o México e a Argentina.
c) O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, com discurso por teleconferência do ator cômico Volodimir Zelenski, na presidência da Ucrânia, onde a Rússia dá insofismável demonstração de capacitação bélica em cima dos EUA e da OTAN. Tão ridículo foi este velório das finanças que até a grande mídia ocidental deu-lhe pouco espaço.
d) Tão insignificante tem sido o desempenho das finanças apátridas, em questões mundiais, que o fato mais marcante neste primeiro semestre de 2022 foi a requentada epidemia do covid e suas variantes. Mas sem tocar na fabricação de vírus pela indústria farmacêutica que tem como seus principais acionistas, quem também controla os gestores de ativos: BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, BNY Mellon, J.P.Morgan, Capital Group, PIMCO, Amundi, UBS Global, entre outros.
Cuidemos do Brasil sempre nossa maior preocupação.
A eleição de outubro não somente nos interessa como ao capital financeiro apátrida, em especial pelo enorme buraco que os títulos de crédito e outros papéis que sustentam fundos de investimentos, sem qualquer lastro, e fazem antever tal crise que, pelo volume da dívida, deixará a de 1929, na Bolsa de Nova Iorque, nos EUA e no mundo, causadora de guerras, desde a de 1939-1945, e todas as que delas decorreram, como a disputa de crianças, na mesa de doces, numa festa de aniversário.
O Golpe de 2016 teve como maior motivação a produção em tempo recorde, pela Petrobrás, do pré-sal, mostrando imensas reservas de petróleo de excelente qualidade, API em torno de 30º, e de reservatórios de altíssima produtividade, 1,95 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boed), em 2021. Traduzindo: muito petróleo bom e barato, ideal para sustentar a montanha de papeis sem lastro.
Seria muita ingenuidade pensar que o custo do golpe se satisfaria com as privatizações na Petrobrás, da Eletrobrás e outras menores. Caríssimos, um golpe desses é para durar, no mínimo, uma geração, 25 anos, como o de 1964.
Quando a eleição é minimamente honesta, limpa, correta, como foi a de 1950, o golpe nem dura seis anos. O povo toma o controle do processo. A sofisticação da informática, o controle que as finanças têm desta teoria matemática da comunicação desde seus primórdios, os anos 1940/50, dá-nos certeza que nesta eleição serão eleitos os representantes do capital financeiro.
Porém quem será seu candidato à Presidente?
O que nos parece bastante plausível é que o Bolsonaro não mostrou capacidade. Eles, os capitais apátridas, não querem apenas obediência cega, querem iniciativa, ideias como aquelas que deles são expedidas. O ideal é outro Fernando Henrique Cardoso que espoliou o Brasil, mudou a Constituição para único benefício do capital financeiro (fim da empresa nacional, da cabotagem brasileira, do monopólio brasileiro do petróleo, estabelecer a precariedade do trabalho e aumento do desemprego, reforma da previdência e do Estado e dezenas de outras maldades) e ainda ganha no grito um segundo mandato. Realmente é o Homem da Banca no Ano! Outra Baronesa Thatcher!
Então começa a desconstrução do Bolsonaro pelas finanças apátridas. Ele dizia não haver corrupção no seu governo? Então prende um ministro em flagrante e indiscutível ato de corrupção, deixando em suspense não ser o único do governo. Ele se dizia protetor da família? Então seu Presidente do Banco Público de maior penetração entre a população brasileira é acusado, com diversas testemunhas, de assédio sexual. Atos que nenhum homem de família e religioso cometeria. E aguardem os próximos capítulos. Já não dá para culpar a “Globolixo”, nem os jornalistas “da esquerdalha”. É a própria polícia do Bolsonaro quem está se encarregando de colocar estes exemplos nas mídias.
O Lula seria o candidato das finanças? Em suas próprias palavras, nunca antes na história do Brasil os “banqueiros lucraram tanto” quanto em seu governo. É verdade. Primeiro, todos os malfeitos e mudanças constitucionais de nossa Baronesa Thatcher foram mantidos. Nenhuma revogação, nenhuma alteração. Veio de Fernando Cardoso e ficou. Segundo, nos seus oito anos o chefe do dinheiro, quem controlou a moeda nacional foi o ex-presidente do BankBoston, onde passou 28 anos e pode se formar no “Advanced Management Program (AMP)” da Harvard Business School. Pessoa da mais alta confiança das finanças internacionais.
Não seria surpreendente, mas seria decepcionante para os lulistas e, ainda mais, para o Partido do Trabalhador (PT) e toda a esquerda brasileira. Um verdadeiro assassinato sem corpo. Ponto para as finanças apátridas.
Só há uma condição que mostre a insatisfação com o Brasil que as finanças estão fazendo, desconstruindo, acabando com a soberania e o próprio Estado Nacional: o povo na rua. É e sempre foi o maior medo do poder, qualquer poder que não tenha sua sustentação no povo, no interesse do povo. Ao completar um século o Partido Comunista Chinês (PCCh), seu dirigente, respondendo à longevidade do PCCh, disse que desde a fundação foi a felicidade, o interesse do povo, o que guiou o Partido. E isso lhe garantiu, mesmo nos momentos mais difíceis, de guerra e de divergências com outros países comunistas, o apoio da maioria absoluta da população.
E, assim, a República Popular da China pode fazer e alterar sua constituição, prosseguir nos planos de longo prazo, pois o povo se identifica e apoia os projetos e os dirigentes, e a nação, que há pouco mais de um século, sofria humilhação, hoje é potência mundial.
Nada que não seja o poder que se apossou do Brasil com o neoliberalismo, esta sujeição ao capital apátrida, de apelido “mercado”, pode nos impedir de ser outra China, à brasileira, com nossa cultura verde e amarela, com nosso povo miscigenado, com nossa alegria e solidariedade. Basta ir às ruas.
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