O impeachment volta a ser possível
Sociólogo Emir Sader avalia que o escanteio que Jair Bolsonaro deu no Centrão ao não escolher Ludhmila Hajjar para o Ministério da Saúde pode abrir rachaduras na sua base de apoio. "Quem sabe o impeachment se torne realmente possível de novo e o país possa superar a mais grave crise da sua história em prazos mais curtos", afirma
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Quando sentiu que perdia apoios e bandeiras – Moro e a luta contra a corrupção e a velha política -, Bolsonaro tratou de se escudar com o auxílio emergencial – para substituir bases de apoio perdidas – e com o Centrão, para bloquear o impeachment no Congresso e mostrar ao empresariado que ele tem apoio para aprovar os projetos neoliberais. Bolsonaro jogou todos os recursos e conseguiu eleger um deputado do Centrão presidente da Câmara, que ele considera um anteparo seguro contra qualquer tentativa de impeachment.
O outro eixo em que passou a se assentar o governo foi a acelerada militarização do governo, em todos os ministérios e nos cargos centrais do governo. Se calcula a incrível cifra de militares no governo em alguns milhares.
Isso funcionou, até que a pandemia desandou. Ele tinha se segurado, terceirizando a culpa com os governadores e a mídia, até que o auxílio emergencial terminou e o outro – bem menos – demora a sair. E a pandemia se alastrou de forma alarmante, sem qualquer ação do governo. E, pior para ele, o tema das vacinas passou a ser central. E se chocou com seu negacionismo, já no ano passado, e agora dificulta que ele corra atrás do prejuízo.
Pazuello personificou a incompetência do governo para responder à pandemia. Quando os índices de rejeição do governo voltam a seu nível mais baixo, outro fenômeno veio mudar o clima político: a recuperação dos direitos políticos de Lula e sua extraordinária intervenção para todo o país.
As pesquisas mais recentes já refletem como Lula se tornou favorito para ganhar. A situação da pandemia é um fator determinante. Mas, ao mesmo tempo, os índices recordes das vítimas da pandemia e a lenta vacinação, indicam que a economia não vai voltar a crescer antes do próximo ano. Isto é, o clima eleitoral será de recessão econômica e, também, dos efeitos negativos da pandemia, clima que favorece ainda mais o Lula.
Como reação à reaparição e o aceno que o Lula faz a uma alternativa para o Brasil, políticos como o Maia, o FHC, o Kassab, o Delfim, como expressão do novo clima político, se dispõe a apoiar Lula, já no primeiro ou no segundo turno. E o próprio Centrão, muito descontente com a condução do governo na pandemia, afirma seu descontentamento na não nomeação da médica que eles apoiavam e na desconfiança de que nada mudará com o indicado para ser o novo ministro.
O mais grave é que suas bases parlamentares de apoio começam a ser afetadas diretamente pela situação gravíssima da pandemia e pela incompetência do governo diante dela. A nomeação do novo ministro vai se revelando uma farsa, mais como uma forma de continuidade do que de mudança das orientações desastrosas do Pazuello, que parece que sai, mas fica no ministério.
Mas, principalmente, as orientações do Pazuello se mantém. Na verdade, até este momento, nem sequer a nomeação do novo saiu no Diário Oficial. O suposto novo ministro já disse que espera contar com o Pazuello no ministério. Viajaram juntos para reunião com a Fiocruz, para receber uma nova dose e vacinas. Pazuello é tudo, até agora, menos ex-ministro. Ele já afirmou que não haverá transição, porque haverá continuidade.
Essa situação causa profunda inquietação no Centrão que, como se diz, não carrega caixão de outros, não vai querer sofrer o desgaste de apoio a um governo responsável. Se diz, além disso, que o Centrão cobra mais uns 5 ministros, para manter o apoio ao governo.
Se abre a perspectiva de rachaduras na base parlamentar de apoio a Bolsonaro. O que pode recolocar a possibilidade do impeachment. Uma saída para o país, quando não se sabe como poderemos cruzar de aqui até a posse de um novo presidente, com milhares de mortos semanais e a falta de vacinas. Quem sabe o impeachment se torne realmente possível de novo e o país possa superar a mais grave crise da sua história em prazos mais curtos.
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