O impeachment é um toma-lá-dá-cá
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Ansioso por desvendar o futuro político do Brasil e reconhecendo minha completa incompetência para tal, decidi pedir ajuda às pitonisas do oráculo de Delfos que são, como se sabe, as mais afamadas videntes da Grécia Antiga. Elas pediram que eu visualizasse o site da Câmara dos Depurados na página que mostra a composição partidária para entender o que elas tinham a me dizer e então responderam:
"Olha, um processo de impeachment não é uma luta entre o Bem e o Mal, como você escreveu ontem"...
"Foi modo de falar"...
"Um modo de falar errado. O processo de impeachment é uma nova eleição ou um terceiro turno, como você quiser, entre o partido da presidente e o partido do vice, com 513 votos em disputa. Praticamente um colégio eleitoral".
"Mas eles são aliados"...
"Não são mais. Desde o instante em que Eduardo Cunha deflagrou o impeachment ele deu início à luta pelo poder entre o seu partido e o partido da presidente"...
"Mas ele está sem munição, a bala de prata dele ele já disparou".
"Outro engano seu. Você já reparou no calendário que rege o processo de cassação contra Cunha e o do impeachment da Dilma? O dela demora quinze sessões do conselho e o dele 90 dias. Ou seja, ele será presidente da Câmara dos Deputados enquanto for debatido e votado o impeachment dela, o que significa que ele poderá convencer seus pares a derrubarem a presidente do alto do seu cargo".
"Mas ele é o vilão... ela é a mocinha... como ele vai convencê-los a votar contra ela"?
"Você continua achando que a vida imita a novela. Nada disso. O Congresso do seu país só funciona na base do toma-lá-dá-cá. Vai ter mais votos quem oferecer mais. E, cá entre nós, a presidente não tem mais cargos a oferecer, se despejar os atuais ocupantes perderá votos. Ao contrário, Cunha e seu grupo e mais especificamente Michel Temer têm muito a oferecer aos deputados: um novo governo, com novos ministros e dezenas de milhares de empregos. Temer é a única esperança de Cunha de sobreviver pois, se ele assumir vai mudar tudo, inclusive o Procurador Geral da República. Além do mais, o perfil da Câmara é conservador e, portanto, contrário a Dilma".
"Mas o Temer vai trair a Dilma"?
"Não se trata de trair. Os deputados, menos os fiéis a Dilma, como PT, PCdoB, PSOL, Rede, PV vão optar tranquilamente pelo que Temer tem a lhes oferecer por osmose, sem levar em conta os argumentos do Planalto – de que foi chantagem do Cunha, de que a presidente não fez nada de errado e aquela ladainha toda – em nome da salvação nacional. De mais a mais, os articuladores políticos da oposição são muito mais hábeis que os da situação, a começar do líder do PT, Sibá Machado, praticamente um trainee".
"Mas e se o povo sair às ruas para defender o governo Dilma"?
"Lembra-se das Diretas Já? Milhões foram às ruas, mas o Congresso virou as costas. E era menos conservador do que o atual".
"Quer dizer que vocês preveem a queda da Dilma? Ela não poderá ser salva no Senado"?
"Se ela perder na Câmara, ba-bau. Não volta mais. Os senadores, embora não sejam tão afoitos por cargos quanto os deputados também estarão diante do dilema entre um governo velho e falido, que só tem a oferecer sangue, suor e lágrimas e um novo que tem 'uma ponte para o futuro'. E que mesmo antes de assumir já promete uma obra faraônica".
"Qual"?
"A tal 'ponte para o futuro'. Deve ser imensa já que o futuro é infinito".
"Engraçadinha".
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