O impeachment e o fascismo
O golpe irá fortalecer a extrema-direita, o que resultará em cada vez maior repressão. Cada vez maior perseguição. O ajuste iniciado por Dilma será elevado à décima potência
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A direita brasileira derrotada nas eleições do ano passado decidiu que não deveria deixar o PT governar o país. Para isso iniciaram uma ampla campanha de mobilização dos setores mais reacionários da classe média com esse objetivo.
Nas ruas, por várias vezes, uniram-se carecas, integralistas, liberais, defensores da ditadura militar.
A imprensa burguesa não deixou um minuto sequer de trabalhar nesse sentido. Magnatas internacionais como os irmãos Koch e Soros (que também financiou o golpe nazista na Ucrânia) investiram milhões em organizações como Estudantes pela Liberdade e seu fachada MBL, Revoltados On-Line, Vem para Rua, e outros. Instaurou-se um verdadeiro estado de exceção no Paraná com Moro à frente para minar o PT através da prisão de seus membros - o argumento seria de que estaria combatendo a corrupção, mas essa fantasia logo mostrou a realidade, afinal nem Cunha, nem Aécio, nem FHC foram presos.
Nesse contexto de polarização política, setores fascistas realizaram diversos ataques violentos contra sindicatos utilizando bombas inclusive.
Durante os últimos meses havia se chegado a um impasse em relação ao golpe de estado. Ao mesmo tempo, essa base fascista radicalizava-se. Não à toa, foi nas últimas semanas que fascistas dispararam com armas de fogo contra a manifestação das mulheres negras.
A extrema-direita havia mobilizado a massa fascistóide, mas não estava cumprindo sua promessa. O que mostrava a esses setores que deveriam tomar a tarefa nas suas próprias mãos, e por isso, sinais de exaspero chegaram a superfície.
Essa semana Cunha instaurou o processo de impeachment. Não se trata de mero impulso emocional de Cunha diante da negativa dos deputados petistas em protege-lo contra o processo que pesa sobre ele como a imprensa procura mostrar. O plano está montado à meses. A denúncia jurídica estava já na gaveta de Cunha pronta para vir à tona a qualquer momento.
A prisão de Delcídio mostrou que a extrema-direita e sua máquina de pressão política (denominada imprensa) conseguiram impor uma derrota aos direitos democráticos. Congresso, STF, até a presidência do PT se curvaram diante da arbitrariedade.
O fim de ano, ao mesmo tempo, é um momento onde deixa a maior parte das organizações do movimento operário burocratizadas de calça curta. Por que não agora?
Há aqueles otimistas inveterados que ainda subestimam a possibilidade do golpe, mesmo que o impeachment esteja iniciado. Há aqueles que apostam que o Congresso (seja na Câmara, seja no Senado) mais conservador de nossa história não aprovará o impeachment. Quem confia nesses deputados?
Nós, por nossa parte, confiamos apenas nos trabalhadores organizados, na juventude progressista, nos movimentos sociais para derrotar a extrema-direita. Seja qual seja a questão colocada.
O golpe irá fortalecer a extrema-direita, o que resultará em cada vez maior repressão. Cada vez maior perseguição. O ajuste iniciado por Dilma será elevado à décima potência. O patrimônio nacional, tal como a Petrobras, encontrará o mesmo destino da Vale durante o governo FHC. A reorganização da educação pública, executada por Alckmin dominará o cenário nacional.
Ou seja, por todos os motivos citados e muito outros ainda (pois citar todos aqui transformaria esse texto num enorme compêndio) mostram a necessidade imperiosa de impedir que o golpe seja desferido.
Supondo, porém, que os otimistas estejam corretos na sua previsão: que o congresso negue o pedido do impeachment.
Há o que comemorar? Sim e não.
Não, porque a massa fascista mobilizada desde o começo do ano não se dará por vencida. Muito menos os setores imperialistas que desejam o golpe para que seus interesses sejam representados diretamente.
O que acontecerá então? Os fascistas e o imperialismo terão tido a lição que não é possível confiar seus objetivos ao PSDB, PMDB, DEM, etc. Os partidos burgueses tradicionais já não servirão aos propósitos. Logo deverão ser superados.
Grupos pára-militares serão impulsionados para intimidar a esquerda. E nesse processo, surgirá novas lideranças e novos partidos que tenham a finalidade de executar o plano desejado.
Ai perguntariam-nos: então o impeachment atual não é fascista? Sim e não. O golpe branco dado, o governo instalado tenderia a ser uma ditadura civil inicialmente, podendo evoluir rapidamente para uma ditadura militar inclusive, ou para outras combinações, diante da possível e provável reação popular contra este governo e suas medidas de austeridade ainda mais duras. Mas esse golpe seria parcialmente fascista (no sentido estrito do termo), pois seria relativamente apoiado pelas massas pequeno-burguesas reacionárias. E teria que, necessariamente, destruir as organizações operários, sejam políticas, sejam sindicais. Eis a essência do fascismo.
O impeachment fracassado, restaria aos fascistas organizarem-se em milícias pára-militares para disputar o poder abertamente, por fora (sem relação e disputando) dos atuais partidos de direita.
Os dois processos são variantes diferentes da evolução política. Mas o conteúdo de classe de ambos similares. E o resultado para os trabalhadores desastroso também em ambos os casos.
Qual seria o motivo então de postergar a luta contra a direita fascista? Nenhum motivo minimamente razoável. Os trabalhadores, os movimentos sociais, a esquerda de conjunto só tem a ganhar saindo às ruas para lutar contra o golpe.
Pois se o golpe, ao invés de fracassar nas mãos dos parlamentares burgueses, ser derrotado pela massa dos trabalhadores deixará pouco espaço de manobra para o fascismo declarado posteriormente, ou pelo menos, estaremos em condições de desbarata-los mais rapidamente. Afinal já teríamos acumulado forças e organização maior que a atual para derrota-los.
Ao mesmo tempo, se um movimento gigantesco dos trabalhadores for colocado em marcha agora com objetivos essencialmente defensivos, ou seja, não deixar que ocorra o golpe, ele tenderá rapidamente, e ainda mais se obter sucesso derrotando o impeachment, a passar para a ofensiva por mais direitos, mais conquistas.
O movimento de massas, ultrapassado um certo limite, adquire dinâmica própria, incapaz de ser controlado por fins outros que não sejam os seus próprios interesses.
É nisso que temos que colocar todas nossas forças.
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