O hotel dos sonhos perdidos

O belo filme "Fortaleza Hotel" começa com uma casualidade e acaba falando sobre sentimentos que vicejam mesmo onde tudo é diferença e transitoriedade.

Filme 'Fortaleza Hotel'
Filme 'Fortaleza Hotel' (Foto: Divulgação)


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Hotéis são por definição lugares de trânsito e de encontros temporários, onde não há raízes. Hotéis são pontos flutuantes entre origem e destino. Em Fortaleza Hotel, duas mulheres têm seus caminhos cruzados da maneira mais inusitada possível. O belo filme de Armando Praça começa com uma casualidade e acaba falando sobre sentimentos que vicejam mesmo onde tudo é diferença e transitoriedade.

Pilar (Clebia Souza) é camareira no hotel-título. Tem planos de mudar de vida e emigrar para a Irlanda, onde uma amiga já se encontra. Seu inglês razoável lhe permite trocar algumas palavras com a hóspede sul-coreana Shin (Lee Young-lan), recém-chegada para cremar o corpo do marido, que trabalhava na capital cearense. Como Pilar, Shin também planejava começar uma nova vida bem longe de sua terra, em Fortaleza ao lado do marido.

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Eis que de repente um certo acontecimento familiar impede Pilar de viajar e as duas se veem equiparadas pela frustração de seus planos. Enquanto a camareira ajuda a hóspede a resolver o funeral do marido, e ambas passam a precisar de dinheiro, o esboço de sororidade entre elas será posto a dura prova. 

A relação entre Pilar e Shin é construída a conta-gotas com extrema sutileza. A distância cultural, de classe e de idade é insinuada por uma constante interposição de pórticos, treliças e até mesmo sombras entre as duas, afora boa parte do filme em que elas contracenam em planos separados. Daí a beleza particular da sequência culminante da dança, quando ambas se encontram no mesmo plano e sem mais nada a isolar uma da outra.  

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Fortaleza Hotel carrega a pátina melancólica que tem caracterizado filmes cearenses recentes, como Inferninho e Greta, longa anterior de Armando Praça. Mesmo uma passagem jubilosa como a dos jovens mergulhando de um velho pier compartilha uma tristeza doce. Afinal, o mar é naquelas circunstâncias um índice de morte. além de ser aquilo que separa Pilar e Shin de seus sonhos.
Mais ainda que em Greta, a direção logra um precioso senso de medida entre a crônica da violência que domina a periferia de Fortaleza e as delicadas emoções em jogo nas personagens. Percebe-se uma grande harmonia conceitual entre os vários setores do filme, seja no ritmo da montagem, seja na trilha sonora de O grivo ou na fotografia de Heloisa Passos. As composições cuidadosas e a iluminação levemente expressionista preenchem a tela com grande apuro estético e sugestão dramática. Nisso se destaca a tomada final, uma bonita condensação do que significa um Ano Novo. 


>> Fortaleza Hotel está no Now, Vivo Play e Oi Play.

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O trailer:

Uma boa entrevista com o diretor, o corroteirista Pedro Candido e a atriz Clebia Souza está no Youtube, no canal 3 em Cena.

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