O horror, o horror!
? A quem, afinal, servem essas Forças Armadas tão dispendiosas, incompetentes, golpistas e inúteis? Do além, responde o Coronel Kurtz: “ao horror, ao horror”!
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É pela pena de Joseph Conrad, em Coração das Trevas (1899), que a expressão “o horror, o horror” ganhou o mundo e desde então nos atormenta. A fala é do Coronel Kurtz, que também ganhou vida pelas mãos de Marlon Brando, no filme Apocalypse Now (1979) sob a direção de Francis Ford Copolla. Exatamente a que se refere o que diz o personagem com “o horror, o horror”, não se sabe muito bem, embora haja um leque de possibilidades que mantém acesas as discussões, estudos e debates acerca do que poderia ser.
O horror observável na narrativa de Conrad se aproxima do horror causado pelas guerras e, consequentemente, por toda a sorte de infortúnios, tristeza e miséria que assolam os seres humanos nos mais recônditos lugares do Planeta. Isso se houvesse alguma escala capaz de mensurar os níveis de horror que nos assombram dia após dia. E o que dizer dos horrores causados pelas sangrentas ditaduras que assassinaram de forma bárbara crianças, jovens, homens e mulheres por toda a América Latina, por exemplo? Nos dias de hoje, causa indignação quando um ou outro aloprado tripudia sobre a memória dos desaparecidos e mortos por essas sangrentas ditaduras, afirmando que “houve excesso de parte a parte”. É fácil vomitar tamanho impropério, quando o outro lado desapareceu, assassinado pelo Estado. Aqueles que ironizam um dos mais tristes acontecimentos desses povos, o fazem demonstrando todo seu sadismo e crueldade. São, no mínimo, delinquentes por defenderem e até enaltecerem o horror por eles mesmos praticado.
Em qualquer lugar que seja, não há graça nenhuma em ver o algoz debochar da dor e da angústia daqueles que perderam seus filhos e filhas na luta por um país melhor. Isso quando tiveram a chance de lutar, quando muitos foram covardemente assassinados pelo braço forte e a mão amiga do Estado. No Brasil, por exemplo, áudios divulgados recentemente comprovam o que muitos já sabiam, ou seja, que juízes e tribunais militares sabiam desde sempre que aconteciam torturas físicas e psicológicas nos porões da ditadura brasileira, inclusive em mulheres grávidas.
Passados cinquenta e oito anos do golpe militar (não foi revolução nem foi movimento. Foi golpe!) que destruiu esta nação, eles, que não se envergonham de viver no luxo e na opulência, enquanto o povo passa fome, certamente não lamentam as pilhas de cadáveres nas valas clandestinas, os rastros de sangue, a vergonha que pende de cada medalha ganha sem mérito algum. Assim, não serão os áudios comprobatórios da tortura como método de Estado que estragarão a Páscoa de qualquer nobre general, ou o impedirão de ir à missa todos os domingos rezar ao Senhor, seu Deus, como faz todo bom e rico cidadão de bem que, como tal, deixará uma gorda pensão aos seus entes queridos, não menos parasitas.
O Brasil perdeu o bonde da história, quando não condenou todos os agentes da repressão, comandantes e comandados das grandes chacinas perpetradas contra aqueles que se levantaram contra a selvageria da ditadura. E como não o fez, esse mesmo povo é obrigado a ver todo santo dia suas Forças Aramadas, servidores pagos com dinheiro público, demonstrando não seguir nenhuma hierarquia constitucional, inclusive sentindo-se bastante à vontade para intimidar a Suprema Corte do país. Em um nível mais básico, apenas para se ter uma idéia do descalabro fardado, é inadmissível que em meio a uma pandemia, por volta de 36 mil militares tenham se recusado a tomar a vacina contra a Covid-19 e, mesmo assim estejam circulando e pondo a vida da população em risco. Que país é esse onde o horror, a ameaça, a intimidação e a constante interferência militar no poder civil são consideradas como normais e aceitáveis?
Os áudios que confirmam as torturas vêm juntar-se ao combo de absurdos ao qual temos tido acesso por intermédio da mídia, a saber, licitações de remédios para disfunção erétil, próteses penianas, lubrificante íntimo, desvio de dinheiro destinado ao SUS etc. Assim, os discursos raivosos e irônicos vociferados por servidores públicos fardados, semialfabetizados, e pagos com o suado dinheirinho do contribuinte, são meras tentativas de amenizar a imagem porca da porca que, de muito gorda já não anda. Logo, já passa da hora de se rever a Lei da Anistia promulgada no Brasil, ora vejam, durante o regime militar, no ano de 1979. Se isso já tivesse sido feito, muito da violência e dos ataques às Instituições e ao Estado Democrático de Direito - incluam-se aí os discursos torpes e irônicos – não estariam acontecendo hoje.
Como se tudo isso já não fosse suficientemente constrangedor, temos que ler na mídia que o candidato que conta com a maior aprovação nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República teve que escalar um ex-ministro do STF, para sondar junto à cúpula das Forças Armadas se, caso eleito, conseguirá tomar posse. Vejam a que ponto chegamos! Diante de tamanho absurdo, urge perguntar que tipo de democracia é essa que só existe se as Forças armadas permitirem? O Brasil e suas Instituições civis estão sob a tutela das Forças Armadas? A quem, afinal, servem essas Forças Armadas tão dispendiosas, incompetentes, golpistas e inúteis? Do além, responde o Coronel Kurtz: “ao horror, ao horror”!
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