O golpista alienista

A única maneira de Temer silenciar todo mundo que acusa o golpe (já que ele afirmou que "não tolerará" ser chamado de golpista) é trancafiar a todos na Casa Verde, como fez Simão Bacamarte no livro O Alienista, de Machado de Assis, mas enfrentará resistência

A única maneira de Temer silenciar todo mundo que acusa o golpe (já que ele afirmou que "não tolerará" ser chamado de golpista) é trancafiar a todos na Casa Verde, como fez Simão Bacamarte no livro O Alienista, de Machado de Assis, mas enfrentará resistência
A única maneira de Temer silenciar todo mundo que acusa o golpe (já que ele afirmou que "não tolerará" ser chamado de golpista) é trancafiar a todos na Casa Verde, como fez Simão Bacamarte no livro O Alienista, de Machado de Assis, mas enfrentará resistência (Foto: Jean Wyllys)


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Está tudo dito e repetido até o cansaço. Não faz sentido, neste momento, repetir argumentos técnicos sobre "pedaladas", decretos e toda a ficção jurídica que foi criada para distrair a atenção do público enquanto a conspiração palaciana era articulada. Todos os atores políticos envolvidos na organização do golpe de Estado finalmente consumado nesta quarta-feira 31 sabem que isso é conversa fiada – algo que a imprensa internacional advertiu desde o primeiro dia – e que a discussão em "juridiquês" e "economiquês" tinha como único objetivo fazer com que a maioria da população não entendesse o que estava sendo falado.

Não vou perder tempo com isso.

(E recomendo a quem ainda tiver dúvidas a respeito que assista no YouTube à defesa da presidenta realizada pelo advogado José Eduardo Cardozo e às respostas dela mesma no Senado às perguntas dos senadores Reguffe e Agripino Maia. Nesses vídeos tem uma resposta clara e contundente às falsas acusações usadas como pretexto para o impeachment.)

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Agora que chegamos, finalmente, ao dia em que o Senado decidiu jogar no lixo 54 milhões de votos, num jogo de cartas marcadas que todos nós sabíamos como terminaria, eu quero falar para a Dilma como cidadão. Não a presidenta e o deputado, mas as pessoas, os militantes. E continuarei a chamá-la de presidenta porque me recuso a dar aos golpistas o prazer de retirar dela o título que o povo lhe deu nas urnas – mas falo para a companheira.

Presidenta, a senhora sabe que temos discordado bastante ao longo dos últimos anos. De fato, eu fui muito crítico do seu governo e, se deixei de repetir minhas críticas a partir do início desta farsa de impeachment, não foi porque tenha me esquecido daquilo em que discordamos, mas porque a defesa da democracia nos uniu – e a senhora, que sofreu no corpo a tragédia da ditadura, passando inclusive pela prisão e a tortura, sabe ainda melhor do que eu que a democracia é muito mais importante do que qualquer divergência política ou ideológica.

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Presidenta, as minhas críticas ao seu governo tiveram, na maioria dos casos, o mesmo motivo: as concessões e recuos que a senhora fez diante das pressões e a chantagem permanente daqueles que depois a traíram. Essa gente não tem limites: primeiro toma o que lhe é dado sob pressão e depois pega o resto na marra.

Esses golpistas são canalhas, bandidos, ladrões, fundamentalistas, fascistas, homofóbicos, machistas, racistas, plutocratas, egoístas, conspiradores, autoritários e inimigos da liberdade, da igualdade e da democracia. E sempre querem mais.

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Querem tudo.

Mas eu quero dizer à senhora que, independentemente das nossas diferenças, pode contar comigo. Não falo apenas como deputado, mas como pessoa. Muitos ainda não perceberam que o que esteve em jogo ao longo de todo este processo não foi a continuidade de um governo, com seus erros e acertos, mas a defesa da democracia como forma de vida, que os golpistas estão nos roubando. As consequências do golpe serão graves e duradouras e afetarão nossas liberdades, nossos direitos e as conquistas sociais dos últimos anos.

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Numa votação entre 81 senadores, que decidiram cassar 54 milhões de votos, venceram os canalhas, os falsos profetas, os ufanistas de araque, os que foram contra o Bolsa Família, os que falam abertamente na restrição de direitos das mulheres e das pessoas LGBT, os que são contra cotas raciais mínimas, os grileiros de terra, os que nutrem ódio pelos indígenas.

Nessa votação, venceram os que se lambuzam, de norte a sul do País, com o dinheiro de empreiteiros corruptos, com os banqueiros sonegadores; os que vivem dos sobrenomes herdados, os que nunca trabalharam, os que creem que o progresso do País é a melhoria das próprias contas bancárias.

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Sem a participação do povo, venceram os egoístas.

Mas essa luta não terminou. Ela está apenas começando. Que não duvidem por um minuto: haverá muita luta contra o governo golpista e seu programa reacionário, conservador e contrário aos direitos humanos e à classe trabalhadora. O Brasil não desistirá de sua democracia.

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O que vem agora são tempos sombrios, mas, ao mesmo tempo, tempos de resistência. Vamos resistir ao governo ilegítimo e suas políticas que ninguém votou. Vamos resistir a todo ataque às liberdades individuais e aos direitos civis e políticos. Vamos resistir ao programa reacionário urdido pelos poderes econômicos e os fundamentalistas.

A única maneira de Temer silenciar todo mundo que acusa o golpe (já que ele afirmou que "não tolerará" ser chamado de golpista) é trancafiar a todos na Casa Verde, como fez Simão Bacamarte no livro O Alienista, de Machado de Assis.

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Vamos resistir, sim. Vamos continuar chamando Temer de golpista, sim. Vamos continuar defendendo a democracia, sim. E eu estarei na resistência: no Congresso, e, sempre que necessário, nas ruas!

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