O gestor preguiçoso

Ao gestor preguiçoso falta criatividade e sobra medo, situação que joga mais combustível na incerteza das consequências de seus atos



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À pressão do órgão superior, o gestor preguiçoso responde subserviente, coibido, de cabeça baixa até. Em instituições de inovação tecnológica esperava-se uma postura mais proativa, ousada, criativa, quando desponta a crise do corte orçamentário. A posição intermediária deste gestor preguiçoso é emblemática. De um lado, seus subordinados são investigadores e cada qual conduz seus projetos e propostas para contribuir com o desenvolvimento do país. Colegas de profissão, portanto. De outro lado está o órgão público, cujo ocupante do cargo superior pode ser um burocrata provisório, um ministro político e não necessariamente alguém que consiga transformar custos em valores.

O gestor preguiçoso não questiona o grau de conhecimento ou comprometimento desse superior. Teme por sua própria posição na hierarquia, pois crê que corre o risco de ser o próximo na lista de dispensas – e pode estar certo, a manter essa postura sem altivez. Se houvesse lampejos de questionamentos, poderia ter surpresas agradáveis, pois o político deixa de agir ou atua mal, muitas vezes, por pura ignorância ou mau assessoramento. Não possui a excelência técnica que nosso gestor preguiçoso deveria possuir. Em 2008, com crises internacionais, o país inovou ao reduzir juros e estimular consumo, o que resultou em sobrevida quando o mundo falia. O quase pleno emprego de hoje tem sua dívida com aquelas medidas ousadas, quase abusadas. Parece que o gestor preguiçoso padece de desmemória, mesmo sendo ele mais propenso, até por dever de ofício, a soluções criativas. Se não consegue ou não quer assim proceder, como é a qualidade da pesquisa científica e tecnológica que desenvolve? A mesmice da repetição do trabalho alheio? Ficam dúvidas.

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A figura do gestor preguiçoso é notória em outros setores distintos, como os que envolvem questões ambientais. Queimar lixo, por exemplo, é pouco trabalhoso, mas muito menos eficaz que a implementação e prática de uma política de coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos. Novamente vemos as características da preguiça: preferir enterrar ou queimar a buscar soluções criativas, sustentáveis e duradouras. Deveria, assim, nosso gestor preguiçoso saber converter questionamentos em futuro, não ficar apenas remoendo presentes para entender passados.

Contratações são sujeitas a riscos. Espera-se que haja o balizamento da garantia do recurso em função do desempenho esperado do pesquisador contratado para não frustrar aquele que se prontifica a encarar o desafio. O profissional está abdicando de outra carreira ou oportunidade para estar ali, junto ao grupo, com o afã da possibilidade da aplicação científica na tecnologia de ponta em questões estratégicas. Pelo menos foi assim que lhe venderam a posição de trabalho.

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A pulga coça atrás da orelha quando as ações do gestor preguiçoso vêm à tona, sem uma lógica aparente. Questiona-se para saber o quanto é sua incompetência – ou não competência – e quanto dessa timidez e subserviência pode ser decisão política, previamente já tomada, tendo em vista ousadias não aceitas de outros gestores precedentes. Sim, mesmo em instituições de altíssima tecnologia, a inveja e os ciúmes continuam sendo características humanas.

Ao gestor preguiçoso falta criatividade e sobra medo, situação que joga mais combustível na incerteza das consequências de seus atos. Perderá o país em desenvolvimento tecnológico ou a pasmaceira institucional é, de certa forma, benéfica? Ruim, omisso, sucateador, sabotador, eliminativo, leniente, letal. Outros rótulos poderiam ser colocados, ficando esses para sua identificação.

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