O general genocida e seu covarde silêncio

"O pedido de Habeas Corpus solicitado pela Advocacia Geral da União em favor do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, é a prova que o atual governo trata a República e suas instituições como artifícios em favor da vida privada de seus integrantes e amigos", afirma a colunista Carla Teixeira

Eduardo Pazuello
Eduardo Pazuello (Foto: Reprodução)


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Ainda bem que o Brasil não é um país afeito a guerras e conflitos bélicos. Do contrário, quem nos defenderia: os velhos generais da reserva que tomaram vacina escondido por medo do presidente ou o general da ativa que obedeceu bovinamente as ordens assassinas de um tenente promovido a capitão após ser expulso da corporação?

Causa espécie e profunda indignação perceber que o Exército brasileiro, ao longo da história, serviu apenas para matar seu povo e garantir o atraso social, atuando com crueldade e covardia, completamente distante dos preceitos profissionais que se espera dos integrantes das Armas.

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Sem contar com um projeto de defesa nacional, as Forças Armadas são como parasitas que tiram dinheiro da saúde e da educação, provocam crise política e federativa para, em seguida, apresentarem-se como portadores de soluções para os problemas criados por elas mesmas. Seria cômico se não fosse trágico e custasse milhares de vidas inocentes.

O pedido de Habeas Corpus solicitado pela Advocacia Geral da União em favor do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, é a prova que o atual governo trata a República e suas instituições como artifícios em favor da vida privada de seus integrantes e amigos, numa autêntica demonstração de que o velho patrimonialismo forjado na época do Império se mantém vivo junto ao que há de pior em nossa cultura política republicana. 

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A legislação brasileira, por inquestionável e necessário princípio democrático, garante a qualquer investigado o direito de permanecer em silêncio para que não produza provas contra si mesmo. Foi a partir de tal princípio que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, concedeu ao general o direito de manter-se em silêncio caso seja questionado sobre ações pessoais que tenha praticado durante a pandemia, mas não o livra de responder sobre ações de terceiros que, porventura, sejam objeto de inquirição da CPI do Genocídio. 

O direito ao silêncio concedido ao “gordo favorito” do presidente afrouxa, mas não tira a corda do seu pescoço às vias de estrangular as intenções assassinas e desumanas que guiaram a condução genocida que praticou durante a pandemia, a mando do seu chefe. Fica patente que além de incompetente e desqualificado, o general Pazuello também é um covarde incapaz de assumir suas responsabilidades.

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Por sua vez, é o silêncio ensurdecedor dos 430 mil mortos pela covid-19 que não se pode deixar de notar. A imposição do silêncio provocado pelas mortes contrasta com o direito ao silêncio adquirido pelo general genocida que recusou-se a comprar vacinas, seringas, agulhas, fornecer oxigênio e sedativos às vítimas que sufocaram em diversas regiões do país enquanto o Exército produzia e distribuía cloroquina para asseverar que o sujo serviço de assassinato em massa tivesse êxito garantido.

Depois de utilizar a desculpa de ter mantido contato com pessoas infectadas pelo coronavírus para fugir do seu depoimento, marcado para o dia 4 passado, e contando com a confirmação de suspeita de infecção proferida pelo próprio comandante do Exército, general Paulo Sérgio, não há como deixar de suspeitar que a ação de fuga de Pazuello foi orquestrada pelo Exército com apoio do Planalto para que se ganhasse tempo a fim de conquistar o HC adquirido.

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Os senadores seguem dizendo que o Exército não será investigado pela CPI do Genocídio, mas não há como dissocia-lo da tragédia que estamos vivendo, principalmente ao pensar que foram três generais que atuaram, diretamente, para atrasar a vacinação no Brasil enquanto a instituição trabalhava para distribuir medicamentos ineficazes com valores superfaturados. E, agora, com a CPI, o próprio comandante envolveu-se para corroborar a versão de suspeita de infecção, garantindo a ausência de Pazuello, numa palavra de fé pública que convence tanto quanto a idoneidade dos policiais que protagonizaram a recente chacina de Jacarezinho, no Rio de Janeiro. São filhotes da ditadura, diria o velho Briza. Tudo a mesma sopa, na versão de Mino Carta.

Enquanto a sociedade civil não enfrentar a sanha dos políticos-generais, seguiremos reféns de assassinos que utilizam a farda e as instituições da República para se livrarem dos sucessivos crimes que cometem, surfando na onda de conciliação e acomodação que garante suas posições hegemônicas. No fim das contas, os defensores do autoritarismo acabam salvos pelos dispositivos da democracia que atacam. O chiste é verdadeiro: os apoiadores do AI-5 adoram um Habeas Corpus. Eu conto ou vocês contam?

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