O Flamengo do meu viver
Rumo à vitória! Saudações Rubro-Negras!
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SRN!
“Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar. Flamengo, Flamengo, campeão de terra e mar”.
"Por que o Flamengo tornou-se o clube mais amado do Brasil? Porque o Flamengo se deixa amar à vontade". (Do rubro-negro Mário Filho)
"Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável". (Do tricolor Nélson Rodrigues)
“Meu sobrinho, seu pai me disse que você é Flamengo. Ele disse que você ganhou camisa, calção e meiões do Flamengo. Você é mesmo Flamengo? Ah, tá... Então façamos o seguinte: você pode detestar o Vasco e o Botafogo, menos o Fluminense. Explico o motivo. O Botafogo é muito chato, cri-cri, enche o saco; e o Vasco não dá, sem condições, muito antipático; e eu sou tricolor. O Flu e o Flamengo são irmãos...”
Olhei para o meu tio, e ri. Todos os presentes à conversa naquele almoço, em Copacabana, riram.
Existem algumas coisas que são inexplicáveis na vida. Na minha vida, o Clube de Regatas do Flamengo é uma delas, se não for a mais importante, porque indecifrável. Eu já era Flamengo no Rio Grande do Sul, onde morei com a minha família na cidade de Santa Rosa (terra de Xuxa e Taffarel) nos idos de 1965 à metade do ano de 1969, quando meus pais foram morar no Rio de Janeiro, sendo que antes passamos um feriado, em 1968, no bairro de Copacabana, onde moravam a irmã e os irmãos do meu pai.
A primeira realidade que me impressionou e chamou a minha atenção quando pisei nas ruas da Guanabara pela primeira vez, em 1968, foi a quantidade de crianças e adolescentes a usarem a camisa do Flamengo --- o Manto Sagrado ---, em um tempo que o acesso a camisas de clubes era muito mais difícil do que nos dias de hoje.
Mesmo sendo apenas um menino, lembro-me da atmosfera a cheirar maresia e a vivenciar uma época eletrizante, marca daqueles tempos, com hippies e suas roupas multicoloridas e psicodélicas nas ruas, ao tempo em que senhoras e senhores ainda usavam chapéus e vestimentas como se estivessem a viver nas décadas de 1940 e 1950, além dos carros modernos (fuscas e muitos fuscas), que se misturavam aos automóveis (lindos) de inúmeros designers das décadas passadas.
Porém, como nunca tinha morado em edifícios, para aquele guri vindo de Santa Rosa o que importava mesmo era ir à praia de Copacabana e mexer na porta pantográfica do elevador, que levava ao apartamento da irmã do meu pai no 8º andar, da Rua Guimarães Natal, no Posto 2. Também me empenhava bastante para ser o primeiro a tocar a campainha do AP da minha tia antes das minhas duas irmãs, que reclamavam, choramingando, com os meus pais. Eu era mais rápido (rsrs).
Em plena Copacabana ainda sem seu famoso e largo calçadão, de uma Avenida Atlântica que se considerava pertencente ao Rio Antigo e por isso com apenas uma pista. Respiravam-se os ares da outrora Bossa Nova do icônico Beco das Garrafas, agora acompanhada da barulhenta e popular Jovem Guarda, de Roberto, Erasmo e Wanderléa, e da revolucionária Tropicália, de artistas de diversificadas artes, sendo que nesta ramificação musical à frente os irmãos Veloso, Gal e Gil, em honra ao nome de Hélio Oiticica.
A música e as artes explodiram, em 1968, o ano do "É "Proibido Proibir", que correu o mundo, incendiou Paris, e mexeu com os alicerces da sociedade ocidental, a entrar no Brasil sem pedir licença e a irritar a ditadura civil-militar, que respondeu com o AI-5, com o propósito de recrudescer as ações repressoras contra as liberdades de cidadania --- os direitos civis. A ditadura militar, a que violou todas as leis e, com efeito, impôs o regime do medo e da morte, pois o mais cruel da história do Brasil e dos brasileiros.
“Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, “Sá Marina”, na voz de Wilson Simonal, e “Pata Pata”, com Miriam Makeba, a famosa cantora sul-africana, eram canções que saíam pelas janelas dos prédios e tomavam as ruas de Copacabana com seus bares, que reverberavam as músicas, além das lanchonetes enfeitadas com variedades de frutas, como se fossem adereços tropicalescos, em um colorido de colorir os olhos de quem as olhassem para se sentir bem. Momentos incríveis!
Estava na praia com a minha família, quando o meu tio, tricolor de coração, disse que iria me levar à tarde ao Maracanã, em um jogo do Flamengo contra o também hoje centenário clube do Bonsucesso, de camisa azul e vermelha, que, para quem não sabe, é o time em que o histórico Leônidas da Silva surgiu para valer como craque fora de série, antes de se tornar um dos heróis mitológicos da história do Flamengo (1936/1942), bem como se tornou o primeiro ídolo brasileiro em âmbitos nacional e internacional.
Diamante Negro, o apelido de Leônidas, o inventor da bicicleta, o gênio rubro-negro e artilheiro da Copa de 1938, tornou-se nome do famoso e popular chocolate.
Era um Maracanã realmente frequentado pelo povão, que o lotava mesmo quando o Rubro-Negro enfrentava um time pequeno, a exemplo do tradicional Bonsucesso. O estádio parecia algo surreal e fora do alcance do imaginário daquele menino a vestir o Manto Sagrado e que iria, logo, logo, ver o Flamengo entrar em campo pela primeira vez, à espera de um título que não veio, pois a amarga derrota de 2 a 0 para o time da Leopoldina levou, posteriormente, o Flamengo a não se tornar o campeão carioca de 1968.
Foi a minha primeira real derrota como torcedor do Flamengo e foram as derrotas e não as vitórias que forjaram e moldaram o torcedor que eu sou como metal em brasa, de maneira a perseverar e acreditar que o Rubro-Negro da Gávea é, sem sombra de dúvida, o maior clube de futebol do Brasil e das Américas, que se transformou em um poderoso conquistador de títulos, a ter como maior patrimônio a torcida como seu sustentáculo eterno e presente, independente das vitórias e das derrotas.
O Flamengo de Claudinei; Murilo, Guilherme, Onça e Paulo Henrique; Liminha, Carlinhos e Rodrigues; Luís Carlos (Zezinho), Fio e Silva --- o Batuta. Treinador: Valter Miráglia. Este time não era dos mais vencedores, mas era o Flamengo histórico, de raiz e alma, que disputava palmo a palmo os espaços do campo, a consagrar sua fibra, determinação e coragem de time do povo, pois o mais popular do mundo e indelevelmente presente em todas as classes sociais.
O clube dedicado ao sacerdócio da sobrevivência, a honrar sua existência com suor e sangue, por intermédio da raça ancestral nas disputas pela bola, que se traduz em amor e respeito pelo Manto Sagrado, como expressam suas cores vermelhas e pretas consagradas por sua torcida --- a Magnética. Cores que são moldadas em forjas, que retratam e simbolizam a luta intermitente do Rubro-Negro pela glória das vitórias e dos títulos. O Flamengo, como assevera o hino por três vezes, nasceu para “Vencer, vencer, vencer!”
Por sua vez, tornei-me ainda menino de seis anos um rubro-negro convicto e adversário ferrenho dos meus amigos e colegas, principalmente quando o Flamengo enfrentava seus adversários, cariocas ou não. Era um tempo em que clubes como América e Bangu eram fortes, só para termos uma ideia de quão pungente e talentoso era o futebol brasileiro e, em particular, o carioca, em um tempo que todos os craques ficavam no Brasil e no Rio.
Quero asseverar que eu me tornei um torcedor rubro-negro de coração e alma por causa das derrotas do que das vitórias, porque mesmo menino tive firmeza de opinião, coerência e determinação para ser e defender o Rubro-Negro, principalmente na escola e nas ruas, sendo que quando acontecia a derrota (o Flamengo venceu muito mais do que perdeu em sua história), meu coração sofria, mas os meus olhos expressavam o furor dos que tem resiliência para suportar o estresse e as provocações, de forma a dar a volta por cima, a fim de superar seus adversários.
Sem dúvida, foram os reveses do Flamengo que me tornaram um rubro-negro combativo em busca das vitórias e conquistas do time perante a maledicência e o desrespeito dos adversários contra o clube do povo brasileiro e da grande maioria dos cariocas.
Eu ouvia pelo rádio, em Santa Rosa, alguns jogos do Flamengo quando era possível por parte das transmissões muitas vezes ruins. O Flamengo chamava atenção, porque era o clube que mesmo de muito longe acalentava o meu coração infantil e pleno de orgulho e satisfação por ser rubro-negro.
A verdade é que eu e o Flamengo teríamos um encontro para toda a eternidade, que aconteceu no Maracanã contra o Bonsucesso, em jogo decisivo pela Taça Guanabara, quando o Rubro-Negro precisava apenas de um empate para ser o campeão do torneio, que naquela época era independente do Campeonato Carioca. Meu rosto ficou crispado e senti gosto de fel na boca. O amargor atingiu em cheio meu coração. Em silêncio, meus olhos marejaram.
Derrotas marcantes do Flamengo como a de 1973, em mais um Fla x Flu sensacional, fizeram-me sofrer aos 13 anos, a já morar na Urca e no Rio desde 1969. O Flamengo foi valente e jogou debaixo de um temporal, quase um dilúvio, e conseguiu com dois gols de Dario, o Dadá Maravilha, empatar com o Fluminense em 2 a 2, que depois marcou mais dois gols e levou o menino a ficar ainda mais torcedor do Flamengo, por causa de sua raça e fibra no decorrer dessa peleja. Contudo, sou testemunha e cúmplice de grandes conquistas, como ocorreu em 1974, quando o Flamengo foi campeão Carioca, sendo que em 1972 já tinha sido o time campeão. Aliás, a primeira vez que fui campeão como torcedor de um clube que não conquistava título desde 1965.
O ano de 1974 foi o ano que consolidou o Zico como craque extraordinário, o maior e mais importante de sua geração, mas desde 1971 o via jogar pelo juvenil (não se falava juniores), com o meu pai a me levar ao Maracanã para ver aquele loirinho, ainda meio franzino, a realizar jogadas individuais fantásticas e gols de falta de perder o fôlego. Os jogos de Zico sempre aconteciam antes da partida dos jogadores profissionais.
Videotape e à espera de ser campeão --- Em 1969, o Flamengo perdeu o título para o Fluminense de Félix, Samarone, Flávio e Lula. Tarde da noite, vi o meu pai sentado no sofá a ver o jogo, sendo que eu fiquei um pouco afastado do aparelho de tevê preto e branco, pois ansioso, a ver o jogo escondido do meu pai, pois tinha aula na manhã seguinte. Eu, com nove anos, rezei pelo Flamengo, pois desconhecia que não havia jogo tão tarde e muito menos que se tratava de um videotape.
Realmente, em 1969 o acesso à informação e às tecnologias da época praticamente não existia, assim como as crianças não tinham tanto suas vontades atendidas, como ocorre nos dias de hoje. Acho. Entretanto, as duas derrotas para o Fluminense e, em especial, os 6 a 0 para o Botafogo, em 1972, tornaram-me um rubro-negro de raiz e ratificaram o meu amor indelével pelo Clube de Regatas do Flamengo.
Anos depois o Flamengo foi à forra e nos vingou com juros e correção monetária, quando impôs duas goleadas ao Botafogo, a primeira, em 1981, foi de 6 a 0, e a segunda, em 1985, o placar foi de 6 a 1. Comemorei as goleadas como verdadeiros títulos, principalmente a de 1981. Nunca mais tive de ver e ouvir botafoguenses a encher o saco, notadamente quando eu era aluno do primeiro grau (1972), sendo que o sorrisinho sarcástico da cachorrada sumiu de vez --- definitivamente! Mengoooooo!!!
Evidentemente, o Flamengo é feito muito mais de vitórias e conquistas do que derrotas. E como esta realidade agrada e me deixa contente. Inúmeras vitórias e títulos, os quais fazem parte da minha vida rubro-negra. Vi inúmeros títulos, no campo e na tevê, a ter o rádio como principal companhia, amigo inseparável de infância. O Flamengo é realmente um fenômeno da natureza, como dizia o irmão do rubro-negro Mário Filho --- o Nelson Rodrigues.
O Flamengo é tudo e de tudo o mais importante quanto à sua onipresença no País e nos corações rubro-negros são suas cores vermelha e preta e seus escudos a darem caráter à temida camisa listrada, assim como a emoção profunda e inexplicável que o Clube de Regatas do Flamengo causa à sua torcida. Rumo à vitória! Saudações Rubro-Negras!
É isso aí.
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