O fio da História que matou Vladimir Herzog alcançou Marcelo Arruda

"Inquérito de Foz confirma a sobrevivência de um princípio da ditadura: impedir toda investigação verdadeira sobre crimes políticos", diz Paulo Moreira Leite

Marcelo Arruda, petista assassinado em Foz do Iguaçu
Marcelo Arruda, petista assassinado em Foz do Iguaçu (Foto: Arquivo pessoal)


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Brasileiras e brasileiros que compreendem a importância de estudar a Historia do  país, separando o essencial do secundário, devem reconhecer as semelhanças fundamentais que unem a morte de Marcelo  Arruda, em julho de 2022, num salão de festas improvisado onde comemorava seu aniversário, e a morte de Vladimir Herzog, em outubro de 1975, massacrado pela tortura no DOI-CODI paulista. 

Claro que, 47 anos depois,  as diferenças são enormes, no cenário do país e na cena da tragédia. Não se pode comparar o Brasil onde vigora a Carta de 1988, onde presidentes são eleitos pelo voto direto do povo, com aquela republica dominada pelos generais de um regime onde a tortura e o assassinato eram métodos triviais de governo e o porão militar irradiava uma força que ninguém ousava desafiar.  

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Há meio século, os presidentes eram escolhidos pelo Alto Comando do Exército.  

No Brasil no qual Herzog foi morto, as greves de trabalhadores eram proibidas e derrotadas com violência e prisões de uma justiça subjugada.  Em 2022, o principal líder das lutas operárias do país disputa como favorito seu terceiro mandato a Presidência da República. Mas há uma semelhança importante, que se encontra num dos centros de poder do Estado.  

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Em outubro de 1975, o comando do DOI CODI onde Herzog foi massacrado pertencia ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, patrono assumido da violência contra prisioneiros. No Brasil de 2022, a presidência da República está nas mãos de um discípulo assumido de Ustra, a quem dedicou seu voto num momento crucial de nosso retrocesso político -- a sessão em que o Congresso consumou o golpe parlamentar de 2016, que afastou Dilma Rousseff da presidência, primeiro passo para o retorno de um núcleo militar de extrema-direita ao Planalto. 

O fio de continuidade aqui reside num ponto conhecido -- o princípio covarde de que ninguém será punido e muito menos investigado por crimes políticos.  No esforço para esconder responsabilidades pelo assassinato de Herzog, operadores do porão chegaram a forjar uma cena de suicídio -- com fotografia e tudo.  Embora ninguém tenha sido punido, muitos implicados no crime foram identificados e desmascarados.  

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Em julho de 2022, o ambiente político não permite tamanha desfaçatez. Mesmo assim, a  linha da impunidade a todo custo permanece, num simulacro de investigação policial se inicia pelo descarte da hipótese óbvia de crime político, confirmada por diálogos filmados e gravados em vídeo, e termina pela decisão de deixar de periciar o celular de Jorge Guaranho, que disparou os tiros que mataram o petista Marcelo Arruda. A questão central permanece. 

Está em vigor, no Brasil, a lei 13.260, de 16/3/2016, aprovada pelo Congresso e sancionada por Dilma Rousseff. Ali se define,  no artigo 2o, o que são "atos de terrorismo. "No item V, do parágrafo segundo, a questão está clara: "atentar contra a vida e integridade física de pessoa". 

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