O filho da dona Lindu

O fato é que o atrevido filho da Dona Lindu ao falar da nossa aldeia e falou do mundo

(Foto: Ricardo Stuckert / PR)


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Participei de um debate virtual sobre a performance do filho da Dona Lindu na “Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global em Paris” e, num ambiente virtual, afirmei que a imagem do pernambucano de Caetés ao lado de Emmanuel Macron, proferindo o discurso mais aplaudido do evento, foi emocionante para quem ama o Brasil e que diz “nós o povo”, ao invés de: “eles [o povo] são ignorantes”

O Brasil que o filho da Dona Lindu representa tem muito a dizer ao mundo, pois tem ao seu lado o que há de melhor no Brasil: a alma do povo brasileiro. 

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Em Paris ele falou pelo Brasil branco, preto, mulato, pelos povos originários; por cada um dos trabalhadores, trabalhadoras; pelos pequenos e grandes do campo; pelos pequenos e grandes empreendedores, falou por todos que veem escorrer o suor pelos seus rostos, suor do trabalho que são gotas-sementes dos sonhos, das paixões, as quais construíram e constroem nossos destinos e o destino da nação. 

O filho da Dona Lindu é síntese desse Brasil, por isso é universal.  

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Não é fácil compreender o Brasil, ainda mais para aqueles que trocaram a decência e a honestidade intelectual, por um punhado de dinheiro e por um estilo de vida que os aprisiona e eles nem se dão conta disso.

Há muita gente bem-educada e bem-nascida, cheia de graduações, MBAs e pós-graduações, que ainda mal andavam e já conheciam Miami e suas praias assépticas, mas nunca foi a Ponta Negra, Genipabu, Maracaja, Praia da Pipa ou na lúdica Praia do Amor, nem sabe onde ficam essas praias; não conhecem “sua aldeia”, o que torna impossível a eles falar ao mundo e compreendê-lo.

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Para mudar a realidade é preciso conhecê-la, caminhar pela rua, conversar com as pessoas, reconhecer-se parte de tudo e alcançar a compreensão de que “nós somos o povo” e, por essa , somos a única solução transcendente capaz de vencer a lógica liberal, que, em mais de quarenta anos de hegemonia, legou ao mundo: a concentração de riqueza na mão de poucos e duas gerações de imbecis a aplaudir a miséria e a injustiça, acreditando que o “mercado se incumbe de resolver isso”, que são apenas “externalidades”.Minha vida, feita de “sangue nos olhos e lama nos sapatos”, tanto quanto possível, me conectou à realidade, mas falta muito para conhecer e para ler... Confesso que para alguém como eu, apenas esforçado, serão necessárias algumas vidas para ler todas as obras fundamentais a compreender o Brasil.

A verdade é que sou um privilegiado, pois meu avô Pedro - sobre quem escrevo muito pouco, considerando a importância que ele teve e tem na minha vida -, me indicou o caminho para buscar a compreensão válida do que somos e do que podemos ser; foi ele que me levou até a “Casa-Grande & Senzala” de Gilberto Freyre, às “Raízes do Brasil” de Sérgio Buarque de Holanda e “A formação do Brasil contemporâneo: Colônia” de Caio Prado. 

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Isso vale mais uma história. 

O ano era 1980, eu tinha dezesseis anos, morava com meus avó, vivia em êxtase com a minha primeira namorada e com a fundação do PT, isso era o que me interessava de verdade (além dos jogos da Ponte Preta, que acompanhava no rádio Solid State - Ford Philco, que ficava na cozinha de casa).

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Meu avô, comunista e apaixonado pelo Brasil criado por Vargas – Petrobrás, CSN, Vale do Rio Doce, dentre outras empresas que até hoje representam e garantem o desenvolvimento nacional -, se opunha à criação do PT, pois, segundo ele, um partido com as suas características poderia representar o enfraquecimento do trabalhismo, dos partidos social-democratas e socialistas; ele acreditava que o trabalhismo de Vargas, que tinha como herdeiro Leonel Brizola, deveria ser fortalecido. Concordávamos em relação à PONTE PRETA e à necessidade de reconstrução da democracia, mas não em relação ao PT. 

Olhando aquele tempo com “olhos de ver”, como dizem em Portugal, percebo que não dei atenção suficiente ao meu avô. Eu o via como um “senhorzinho”, com ideias ultrapassadas e excessivamente apegado ao passado - ele tinha apenas sessenta e seis anos -, e não era, nem um senhorzinho, nem tinha ideias ultrapassadas.

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Quando ele se opunha às minhas convicções o que ele fazia na verdade era, de forma delicada e amorosa, me “colocar para pensar”, me fazia estudar para construir argumentos racionais necessários a sustentar minhas convicções e paixões. Foi ele que me ensinou a deixar o espírito crítico apropriar-se de mim, pois somente assim as representações, ideias e sentimentos se revelam verdadeiras ou não; meu avô fazia o que tento fazer hoje aqui no CORREIO, ele refletia sobre o que via, o que viu e pensava livremente sobre o porvir.

Na casa modesta, de um honrado funcionário público, o “seo” Pedrinho, meu avô querido, mantinha à nossa disposição obras fundamentais, algumas li muito jovem e, não entendi nada, outras que fui ler depois, muito tempo depois. 

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Com ele aprendi que os livros, aliados do tempo, são guardiões zelosos de seus conteúdos, por isso mantem-se pacientemente nas estantes esperando por nós, esperando o momento certo, esperando estarmos prontos para compreender o que eles guardam.

Voltando à “Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global”, o fato é que o atrevido filho da Dona Lindu ao falar da nossa aldeia e falou do mundo, para todo o mundo, ele foi capaz de levar a Paris uma mensagem poderosa, carregada de verdades inconvenientes, tanto para os colonizadores, quanto para colonizados servis. 

A mensagem que o Brasil levou é a de que um outro mundo é possível, um mundo mais justo e igualitário, o qual só depende de nós. 

Essas são as reflexões, diretamente do distrito de Sousas.

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