O Fiat Elba de Bolsonaro

"Há mais semelhanças entre os casos Collor e Bolsonaro do que supõe a nossa vã política", escreve Alex Solnik sobre o escândalo da compra da Covaxin pelo governo federal

(Foto: Alan Santos/PR | Reprodução)


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Há mais semelhanças entre os casos Collor e Bolsonaro do que supõe a nossa vã política.

A 10 de maio de 1992, o empresário Pedro Collor concedeu uma entrevista bomba a Luiz Costa Pinto, da revista Veja, na qual denunciou as relações espúrias entre seu irmão presidente da República, Fernando Collor e seu ex-chefe de campanha, Paulo César Farias, conhecido por PC Farias.

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A 26 de maio foi instalada a CPI do PC Farias, a fim de investigar as denúncias de Pedro Collor. Ele, PC Farias, a ministra Zélia Cardoso de Mello e outros depoentes foram ouvidos, mas não havia provas contra Collor.

Em julho, os repórteres Mino Pedrosa e João Santana publicaram, na IstoÉ, reportagem com Eriberto França, ex-motorista da secretária de Collor, Ana Aciolly, na qual afirmou e provou ter comprado um Fiat Elba para a mulher de Collor com cheque-fantasma que recebeu de PC Farias.

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A 29 de setembro, a Câmara dos Deputados abriu o processo de impeachment.

A 29 de dezembro, quando o Senado iria confirmar o impeachment, Collor renunciou.

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Vinte e nove anos depois...

A 29 de abril de 2021 foi aberta, no Senado, a CPI da Covid com objetivo de investigar omissões e irresponsabilidades do governo Bolsonaro na condução da pandemia. Houve depoimentos contundentes, mas que não atingiam em cheio o presidente da República.

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Hoje, 23 de junho, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) concedeu entrevista bomba à CNN Brasil, na qual denunciou “corrupção pesada” no Ministério da Saúde na aquisição da vacina Covaxin, do laboratório indiano Barath Biontech.

Ele disse que seu irmão, Luís Ricardo Miranda, chefe da Divisão de Importação do Ministério da Saúde estava sendo pressionado para pagar antecipadamente US$ 46 milhões a uma empresa de Singapura chamada Madison, que não constava do contrato de R$1,6 bilhão, assinado entre o laboratório indiano e a empresa brasileira Precisa Medicamentos, intermediária do negócio, a 25 de fevereiro.

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Além disso, o contrato não mencionava pagamento antecipado; os 20 milhões de doses só seriam pagos depois da entrega.

No dia 19 de março de 2021, uma sexta-feira, a pressão tornou-se insuportável: Luís Ricardo recebeu, às 23h00, mensagem de seu chefe, coronel Pires, que era um verdadeiro ultimatum. E contou o que estava se passando ao irmão.

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O deputado, aliado de Bolsonaro, decidiu, então, levar a denúncia, devidamente documentada, ao presidente, com quem ele e seu irmão se encontraram, a 20 de março, no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro prometeu acionar o Diretor Geral da Polícia Federal, mas, depois desse dia, os irmãos não receberam qualquer retorno do presidente. Pior: o deputado começou a ser retaliado pelo governo, que nunca mais atendeu a seus pleitos.

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No dia 31 de março, Luís Ricardo Miranda prestou depoimento sigiloso a Luciana Loureiro, procuradora do Ministério Público Federal de Brasília.

Ontem, seu irmão deputado revelou a visita a Bolsonaro ao presidente, ao relator e ao vice-presidente da CPI da Covid, propondo contar, ao lado do irmão, tudo o que sabe sobre o episódio ocorrido na gestão do ministro Eduardo Pazzuelo. A oitiva está marcada para sexta-feira, 25 de junho.

Na entrevista à CNN Brasil, o deputado revelou estar preocupado com a sua segurança. “O jogo é mais pesado do que se imagina”, disse ele. E pediu proteção policial à CPI.

Não é sem motivo.

A 24 de junho de 1996, há exatos 25 anos, PC Farias foi assassinado por seus seguranças.

Até hoje não se sabe quem foi o mandante.

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