O fetiche do jatinho
Eis uma questão intrigante: por que os políticos brasileiros não aceitam viajar como gente normal e têm pelas aeronaves exclusivas uma atração quase sexual?
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Só Freud explica o fascínio que as aeronaves exclusivas, os jatinhos, exercem sobre políticos brasileiros. É um encantamento de ordem sexual, que faz com que o passageiro se sinta acima e mais poderoso do que o comum dos mortais. Uma questão fálica, um fetiche. Só recorrendo à psicanálise é possível entender por que homens públicos de carreiras promissoras coloquem tudo a perder a troco de algumas horas de voo sem a companhia de desconhecidos.
O último a cair em tentação foi André Vargas. Depois de 14 anos como parlamentar, o político havia chegado quase ao topo da carreira política. Era vice-presidente da Câmara dos Deputados e tentaria concorrer ao Senado, em 2014. Seu sonho, declarado, era o de presidir o Senado. Virou pesadelo quando se descobriu que ele e a família foram de Londrina (PR) a João Pessoa (PB) num jatinho tomado de empréstimo junto ao doleiro Alberto Youssef. Uma viagem, diga-se de passagem, totalmente desnecessária, posto que suportável na aviação comercial – menos de seis horas de trajeto, com apenas uma escala.
Antes dele, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), levou amigos a um jogo da Seleção Brasileira num jato da FAB. Seu colega no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi a um casamento. Quando descobertos, decidiram devolver os recursos, desembolsando muito mais do que teriam gasto na aviação comercial.
A grande questão é: por quê? Que sensação é essa que um jato produz? Eu tenho, você não tem?
Não por acaso, o Brasil se transformou num dos maiores mercados para a aviação executiva no mundo. E não necessariamente porque os donos desses aviões precisem dos brinquedos – caros para comprar e também para manter – para suas viagens particulares. Na realidade, o que interessa a empreiteiros, doleiros, financistas e muitos outros donos de aeronaves é usá-las como instrumento de lobby e de favor. Uma espécie de pé-de-cabra para abrir portas no mundo político.
Mas quem se submete a isso, seja por status ou por fetiche, corre o risco de sair da política pela porta dos fundos.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247