O fascismo religioso continua vivo. É fundamental organizar a militância religiosa progressista
Este é o caminho para combater o fascismo religioso. Amar como Jesus amou!
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Estamos participando de um momento histórico que deixará marcas. A nossa vitória será contada em verso e prosa, como diziam os antigos poetas. Aliás, a poesia e não o lamento poderá ser feito neste momento, em larga medida por esta razão! O curso da história está sendo mudado, contudo, essa manobra requer ainda muito tempo, reflexão e dedicação militante para ser concluída.
A extrema direita política, historicamente, jamais alcançou ideologicamente as classes sociais menos abastadas “C”, “D” e “E” por uma razão curiosamente simples. A extrema direita odeia pobres! Três são as bases políticas da Direita que justificam sua ojeriza aos pobres. Antes, no máximo compravam votos e se aproximavam com seus políticos populistas. Mas a extrema direita não tem carisma. Exerce poder!
Compreender essa tríade, "tradição, família e propriedade”, que é o alicerce do conservadorismo e como, a partir dele, a extrema direita se organizou, atropelando a direita tradicional e excluindo o conservadorismo tradicional católico é um desafio que pode ter explicação no sistema religioso e, é essa a razão desta proposta de reflexão e ação. Primeiro precisamos compreender como se alicerçou historicamente a Direita Católica. São três camadas que alicerçam essa proposta.
1) A TRADIÇÃO como forma de proteção ao acesso exclusivo das elites, às benesses do poder econômico, político e religioso.
2) A FAMÍLIA , sem definição exata do que significa defesa, já que uma das características dessas famílias é a hipocrisia:
3) A PROPRIEDADE como fator de agregação e razão da existência e manutenção desta tradição e da suposta defesa do chamam hipocritamente de família.
Foi através da religião que a extrema direita conseguiu quebrar essa barreira, penetrando o ideário dos pobres. Parafraseando o inigualável Luis Inácio Lula da Silva, nunca antes na história desse país, houve tantos pobres das classes sociais mais sofredoras, defendendo ideologicamente a extrema direita e sendo formados por ela, como agora. Foi inoculado o veneno de um conservadorismo atroz, extremista e carregado de uma fé que trouxe um novo modelo de cristianismo.O cristianimso free style, ou o cristianismo sem evangelho, ou seja, sem boas notícias, apenas defendendo um mito sem noção de realidade, sem compromisso com os pilares fundamentais do cristianismo, apenas num projeto sem sentido de poder e por esta razão distante do amor ágape.
Compreender estes acontecimentos é fundamental para que possamos reagir contra o reacionarismo. Um consenso é que a extrema direita se solidificou no Brasil e que embora ferida, está longe de estar morta. E é isso que precisamos entender. Desde o início dos anos 2000, tenho acompanhado este movimento político e algumas coisas me chamam a atenção. A Extrema Direita sempre teve guarida em seus discursos e práticas nefastas, nas bancadas da Bala e do Boi. (Tradição e Propriedade) Mas descobriu, ao se encontrar com a Bancada da Bíblia, que ali tem um terreno fértil para desovar sua ideologia nazi-fascista, sob o engodo da defesa de algo que convencionaram chamar de defesa da família.
Não será fácil destruir esse ninho, mas quem tem a função de chocar esses ovos, certamente é a bancada da Bíblia. Portanto, o difusor destas ideias no meio dos pobres é o sistema religioso. Estudos demonstram que a cabeça é católica (Ives Gandra), que com professor Aquino e outros sequestraram dentro da Igreja Católica, posições como por exemplo a Canção Nova e por consequência difundir suas ideias no meio católico através da Renovação Carismática Católica (RCC). Mas a Igreja Católica tem freios e contrapesos em sua teologia, em sua filosofia e no peso de sua história milenar, que não permitem (neste momento histórico) um avanço maior da extrema direita, por isso, usaram corpo externo que é evangélico e neopentecostal (bancada da bíblia). É nesse ninho popular e periférico que a extrema direita brasileira choca seus ovos de serpente.
Todos nós, militantes de esquerda, particularmente cristãs e cristãos e dentro deste setor, os católicos inseridos nas pastorais sociais, movimentos populares, sindicais e partidos de esquerda e os evangélicos que passaram por um batismo de sangue enfrentando o tsunami do fascismo dentro de suas comunidades que agiu de forma explícita de forma mais profunda nas igrejas evangélicas como um todo, mas particularmente nas de orientação pentescostal e neopentecostal, onde o envenenamento, a mentira e o uso do nome de Deus em vão foi uma prática jamais vista em Igrejas como Assembleia de Deus e TODAS as denominações religiosas que têm a Teologia da Prosperidade como filosofia pastoral e que penetrou fortemente nas classes “C” e na Classe Média histórica. Todos nós, religiosos, sentimos na pele esse movimento. E isso atingiu a sociedade em geral e particularmente os mais pobres.
A cura virá a longo prazo. Penso que estes fatores foram facilitados pela pandemia, que tornou as pessoas alvos fáceis de uma proposta da extrema direita difundida pelas redes sociais ao gosto de Steve Bannon e Olavo de Carvalho, já que o contato pessoal foi profundamente limitado em razão da restrição de contatos pessoais.
Por isso é necessário em curtíssimo prazo de uma proposta concreta que passa pela reorganização das forças progressistas dentro das Igrejas, essa proposta passa pelas pessoas que foram fundadoras ou formadas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), das Primeiras Pastorais Sociais e as pessoas que tem em sua origem a lógica da Teologia da Libertação como princípio filosófico de sua fé, e da “Opção Preferencial pelos Pobres” como práxis cotidiana a partir desta formação filosófica no caso católico e na retomada das obras sociais nas periferias no campo evangélico! Por esta razão, a solução para o diálogo governamental com setores evangélicos, por exemplo, não é pela via religiosa. A conversa tem que ser no campo político, com pessoas que tenham sensibilidade religiosa.
Nesse sentido, pipocam experiências de agregação de diversos grupos virtuais de cristãos e cristãs da Igreja católica e evangélicas por vários cantos do Brasil. A nossa experiência particular nasce no começo de 2020, construindo o núcleo nacional de militantes ligados à Teologia da Libertação, chamado Política e Religião. Deste grupo, nasce grupos estaduais com a mesma característica de ser progressista e ligados à Teologia da Libertação, que é algo meio difuso, mas tem sua singularidade.
Grupos regionais com militantes ligados à Igreja é uma realidade em todos os estados com características semelhantes. Estes grupos são ligados a militantes de grupos de Fé e Política, Igreja em saída, Teologia da Libertação e por aí vai! Mas todos eles (inclusive o nosso) carecem de uma objetividade maior, uma direção, um propósito. Assim são os processos de formação. Eles se auto constroem. Mas precisamos urgenciar a organização local e presencial destes grupos para que isso possa se consolidar como uma barreira contra o fascismo religioso.
Essa nossa experiência do grupo Política e Religião tem dois pontos que são menos comuns nos outros. O primeiro é a troca de experiências militante. Muita gente experiente, misturada com uma juventude atuante dentro da PJ, PJMP, PJR, entre outras, gera um caldo bom. Dentro deste ponto, também temos muita gente influente, como deputados e deputadas, vereadoras e vereadores que tem sua origem vinculadas à estas experiências de comunidades de fé, que gestam políticas e constróem pontes importantíssimas, que por sua vez, gera uma fixação das pessoas, pois nestes grupos, circulam informações importantes e seguras de gente que faz.
O núcleo nacional da Teologia da Libertação Política e Religião foi responsável pela facilitação de muitos contatos e pessoas no campo religioso e político deste ano de 2022. Não foi orgânico no sentido burocrático, mas foi balizador do processo eleitoral. Por dentro nas entranhas deste grupo, lá onde bate o coração e pulsa a alma, pessoas se encontraram e encaminhamentos fundamentais foram realizados.
Esse, de certo modo, foi o propósito da criação deste grupo. Missão cumprida! Sim. Missão cumprida! Todos e todas nós, desde o mais modesto ou modesta companheira, até o mais importante dos militantes, fizeram bem feito a missão que lhes foi confiada.
A luta contínua!! (com acento no Í mesmo)
Mas e agora? Bem. Quando uma missão termina, outra começa! Quando uma gestação se finda, é exatamente o momento que um novo ciclo se inicia, até mesmo quando a irmã morte nos bate à porta, ali, está o início da vida plena! Então, se nem mesmo a morte tem o poder de fazer parar o ciclo da vida, é hora de viver a plenos pulmões e recomeçar nova fase! Por isso dizemos, PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE! Eis aqui o chamado. Devemos nos aproximar mais de nossas realidades locais. Precisamos levar essa experiência que estamos vivendo virtualmente em grupos de whatsapp e redes sociais nos nossos estados e ali iniciar uma nova fase desta caminhada! Temos muito a fazer!
A começar por resgatar gente que fez uma experiência de fé e não encontra mais dentro de suas comunidades religiosas espaços para prosseguir e construir essa caminhada. Também localizar gente que está dentro destes espaços religiosos e reacender a chama da TdL e por fim, apresentar aos jovens essa perspectiva de ser Igreja! A Igreja que Papa Francisco tem insistentemente convocado a tomarmos posse! Uma Igreja em Saída!!
Mas e onde essa Igreja não mais existir? Oras... e quem disse que precisamos de quatro paredes para ser igreja e para fazer valer o chamado de Cristo? A igreja será a consequência natural a partir do momento que localizarmos as pessoas! Elas serão abrigadas na mais importante das Igrejas, a chamada Igreja doméstica. Tenho certeza disso! Se a reunião não puder ser na igreja, façamos do Salão do movimento popular ou do Sindicato, nossa casa de oração e comunhão! É lá que Cristo vai estar! Mas precisamos fazer o convite! Quantos irmãos e irmãs nossos, estão aguardando esse chamado!? São muitos! São muitas! Mais do que o que podemos imaginar!
Precisamos jogar nossas redes em águas mais profundas! Precisamos fazer a experiências de convidar sindicalistas e militantes de movimentos sociais para fazer parte desta experiência, precisamos ouvi-los e enquanto cristãos e cristãs dizer a eles que queremos caminhar juntos, saber onde está a dor e o que podemos fazer para amenizá-la quando não for possível curar e curá-la quando isso estiver ao nosso alcance!
Um santo católico que gosto muito, chamado São Luís Orione deixou um ensinamento bonito, instruiu ele: “Não importa seu nome, nem de onde vens, mas sim a dor que sentes”!
POR UMA FÉ POLÍTICA: O frei dominicano Zé Fernandes, nos ensina que devemos ter uma fé política. Ou seja, não podemos separar a fé da vida. Quando isso acontece, essa fé se esvazia de sentido e abre espaço para as propostas de uma teologia que promete uma prosperidade individualista e egoísta que propõe usar o nome de Deus para odiar e acumular, rejeitando tudo que é coletivo e amoroso por essência. Por isso, é necessário reagir. Penso que devemos reforçar os grupos já criados, e aprofundar a vinculação destes grupos com nossas bases para sairmos do mundo virtual e nos encontrarmos presencialmente.Este é o caminho para combater o fascismo religioso. Amar como Jesus amou!
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