O Exército e os mosquitos
Por seis anos vimos o quanto fiéis às instituições democráticas e civis os militares são
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Não houve justiça para punir os 20 anos de delinquência dos militares que se perpetuaram no poder de 64 à 85. Mais que isso: não houve o desmonte de suas instituições corruptas e absurdas como a polícia militar, os setores de “inteligência”, seu código penal e a justiça militar. Muito mais que tudo isso: a impunidade e a perpetuação de instituições perversas geraram uma sociedade demente e governos civis, na prática tutelados e amedrontados pelo exército, que acreditam que há uma alma que preste e alguma força que reste nessa instituição catética, com generais tão corruptos como obscurantistas e uma estrutura formada de pé rapados, lambe botas do imperialismo e de suas expressões mais decadentes, como o bolsonarismo.
A tudo isso não houve até hoje um governo civil que se levantou contra, com exceção talvez de FHC, que colocou o exército para a única função que lhe cabe bem (porque em qualquer outra é lastimável): matar mosquitos da dengue. Lula quis engordar essa instituição com orçamento decente e colheu a obesidade mórbida de velhos golpistas que lembram com saudade os dias em que torturavam meninas e ainda não possuíam disfunção erétil.
Agora alguém nessa nação deverá explicar para as gerações futuras por que Lula nomeia militares para o GSI? Ou melhor: por que existe GSI?
Quer inteligência? Isso é coisa de civil. Caso não se tenha imaginação ou literatura para esse assunto, que se aponte um militar no serviço secreto dos EUA, ou de Israel, ou de Cuba, ou da China, ou da Rússia. Não existe. Esses cargos são exercidos por civis, assim como a polícia e a justiça. Justiça Militar é tão ridícula como a Justiça Desportiva da CBF… E um governo que a respeite é igualmente ridículo.
Bolsonaro tem muito o que explicar de seu desgoverno para a justiça e os seus seguidores terão muito o que explicar para seus netos a razão pela a qual receberam remédio para matar piolhos como forma de evitar e combater o vírus da COVID.
Que Lula não cometa o mesmo erro com os militares e nos façam ter que explicar aos nossos netos porque um governo civil, eleito com mais de 50 milhões de votos de civis, manteve os atuais membros das forças armadas em qualquer lugar que não no olho da rua e por que manteve a existência dessas instituições ridículas como BOPE, ROTA et caterva. Segurança pública é dever dos Estados, mas se será civil ou militar é uma questão federal.
Por seis anos vimos o quanto fiéis às instituições democráticas e civis os militares são. Agora com todo o apoio internacional e da sociedade civil para enfim cortar o cordão umbilical de nossa democracia com o exército, Lula vai vacilar? Não foi a ele negado um habeas corpus por ameaças veladas do general Heleno a um STF acovardado? Quem pagou por isso? Lula perdeu uma eleição e mais de 500 dias de liberdade. Mas ao povo - povo que nele votou - esse perdeu muito mais: perdeu o acesso à comida e à dignidade.
Quer se vingar do Moro? Comece por acabar com as estruturas autoritárias que o criou. Prisão provisória sem data para acabar foi criação de 64. Não foi por ela que Moro colecionou delações contra Lula? Tivéssemos acertado as contas com os militares, Moro nem juíz teria sido. Bolsonaro seria dono de boteco e o país teria avançado muito mais em termos de direito e civilidade.
Hoje, já fomos longe demais, entreguemos a esse exército o que ele merece: os mosquitos. A tempo um novo exército deve se formar: pelas mãos e pela tutela do poder democrático e civil.
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