O exato instante da dor
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A dor ocupa um lugar importante nas concepções fascistas, onde elas surgiram no mundo. Há para eles um sentido em infringir sofrimento, angústia, medo, no rol de experiências que a realidade, dominada pelos “chefes”, os que assumiram os conteúdos do discurso, gostam de ver oprimindo e sufocando inimigos. São situações que o século XX conheceu em abundância antes da II Grande Guerra, na Itália, na Alemanha, e em bolsões aqui e ali, onde aquela ideologia se tornou predominante. Isso explicará, talvez, os acontecimentos de Brasília, com a ocupação da Praça dos Três Poderes e do que se passou em seguida nos prédios históricos do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF. Tratava-se de uma dor anunciada e mesmo assim aconteceu, dada a atmosfera de contaminação que o bolso-fascismo legou na esfera do Estado. À frente e atrás das ações de vandalismo, manifestaram-se alegrias perversas, com requintes de crueldade, cada vez que a turba localizava uma obra de arte da nossa tradição cultural e, repleta de desprezo, buscava destruí-la. Isso para não mencionar a velocidade escatológica em que abandonaram no chão dos palácios os produtos de suas excrescências intestinais.
“Amigo Di Cavalcanti / A hora é grave e inconstante. / Tudo aquilo que prezamos / O povo, a arte, a cultura / Vemos sendo desfigurado / Pelos homens do passado / Que por terror ao futuro / Optaram pela tortura.” Os versos de Vinícius de Moraes soam perfeitos, escritos hoje, para quem, como Lula e os Governadores, caminharam sobre os escombros.
O exato instante da dor, o momento em que ela se transveste de humanidade e nos diz respeito, quando, passada a tempestade, nos perguntamos por quê? – este intervalo entre uma coisa e outra, na aventura do existir, fala sobre o que somos e como desejamos ser. Felizmente, temos um político da qualidade de Luís Inácio Lula da Silva, uma pessoa que, por que conheceu os efeitos do sofrimento e sabe traduzi-los em sabedoria, possui as condições de entender, organizar a recuperação dos bens públicos e dar a volta por cima contra as expectativas dos destruidores. A cena do nosso mandatário, à testa da pequena multidão de governadores e autoridades, sem deixar de lembrar a Ministra Rosa Weber, não mais sairá das nossas retinas. Naquele segundo, com a sensação de que deixávamos o passado para trás e caminhávamos em direção ao futuro; ali, fomos colhidos por um ponto de interrogação da eternidade. Continuemos, disse uma voz interior em nossos ouvidos, continuemos por que, apesar de tudo, vale a pena.
O que os bolso-fascistas têm dificuldade em discernir é, justamente, a capacidade de cada um de resistir. É o que os leva a retroceder. Isto por que nenhuma iniciativa que se torne digna desse nome se revela capaz de, com efeito, arrasar tudo e não deixar rastros. Eles não esperavam que um sentido de união interviesse com a solidez do aço na defesa do Estado e de nossas tradições. Para não repetir Vinícius, temos Sophia de Mello Breyner Andresen: “Apesar das ruínas e da morte, / Onde sempre acabou cada ilusão, / A força dos meus sonhos é tão forte, / Que de tudo renasce a exaltação / E nunca as minhas mãos ficam vazias”.
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