O esquema do Açaí
"Primeiro foram as matérias da Folha a respeito da Wal do Açaí, que recebia como funcionária do gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, mas na vida real vendia açaí numa praia do estado do Rio. Depois, a revelação da movimentação suspeita na conta do amigo de Bolsonaro e funcionário do gabinete de seu filho, o já famoso Fabrício Queiróz", diz o colunista Alex Solnik acerca das suspeitas sobre o clã Bolsonaro; para ele, o não comparecimento de Queiróz para prestar depoimento é uma "manobra para que ele seja ouvido somente depois da posse do novo presidente";
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia - Primeiro foram as matérias da Folha a respeito da Wal do Açaí, que recebia como funcionária do gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro, mas na vida real vendia açaí numa praia do estado do Rio. Depois, a revelação da movimentação suspeita na conta do amigo de Bolsonaro e funcionário do gabinete de seu filho, o já famoso Fabrício Queiróz. Aquele de quem ninguém viu a cara, mas virou figurinha carimbada do dia para a noite.
Depois de mais de duas semanas de silêncio profundo a respeito do caso, sua oitiva estava marcada para ontem, no MP do Rio de Janeiro. Mas ele alegou doença repentina para não comparecer. Nova oitiva foi marcada para amanhã.
Está evidente a manobra para que ele seja ouvido somente depois da posse do novo presidente. "Para não empanar o brilho da cerimônia de posse" é a justificativa oficial de seus porta-vozes. Tudo será feito para manter Jair Bolsonaro a quilômetros de distância do caso, embora o cheque de R$24 mil à sua mulher esteja no rolo.
Por mais que seus acólitos tentem espalhar a fake news de que ele não tem nada a ver com o peixe, só um idiota não percebe que ele é o Papai Urso da história, que ensina aos filhinhos ursos o que devem fazer.
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O que os dois casos mostraram ao Brasil foi o modus operandi de deputados do baixo clero. Como conseguem se reeleger, por exemplo, sem jamais apresentar um projeto. Como conseguem aumentar seu patrimônio sem participar dos rachunchos comuns entre deputados do "alto clero", os mais importantes. O esquema do Açaí explica.
Quem se propõe a ser deputado do baixo clero não precisa de assessores qualificados para ajudá-lo em projetos, discursos e temas de debate. O que ele quer é que esqueçam dele. Ele só comparece às sessões e vota. Senta nas últimas cadeiras do plenário.
A polpuda verba de gabinete, destinada à contratação de especialistas nas diversas áreas em que um deputado sério precisa atuar é utilizada de outra forma.
Uma pequena parte da verba se destina a contratar alguns poucos funcionários reais, absolutamente necessários, mas a maior parte vai para funcionários de fachada, pessoas que têm outras ocupações – a Wal com o açaí, a filha de Fabrício é personal trainner, outro funcionário de Flávio Bolsonaro passou mais tempo em Portugal que no gabinete – que aceitam um acordo mediante o qual o contratante fica com a maior parte do salário, já que o contratado não precisa fazer nada, o que receber é lucro.
O "esquema do açaí" virou tradição na política brasileira. Ficou tão banalizado que ninguém chama de crime. Mas é, sem dúvida, uma outra forma de corrupção. Não é das empreiteiras que um deputado do baixo clero se aproveita, mas do dinheiro público que desvia a seu favor.
Isso explica o nervosismo de Bolsonaro sempre que se toca no caso Wal do Açaí. Ele é a ponta de um iceberg que não poderá ser objeto de impeachment, já que ocorreu antes do mandato presidencial, mas trinca definitivamente a imagem impoluta do futuro presidente e de seu clã.
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