O escárnio do pesadelo
"Bolsonaro só não estava sozinho porque seria estranho demais, até para a campanha troglodita dele. Pôs Paulo Guedes ao seu lado, quase como um castigo. O economista, mudo, inerte, figurava ali como um vaso de flores mortas", diz o linguista Gustavo Conde sobre o pronunciamento ao país do candidato do PSL; para Conde Bolsonaro foge de jornalistas e do público como o diabo foge da cruz
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A fala de Bolsonaro ao seu eleitor depois do primeiro turno é a expressão do que ele significa, se a olharmos de semiótica em punho. Ele estava atrás de uma mesa pesada de madeira, ampla, artificialmente bagunçada, em um ambiente escuro, captado por uma câmera de celular com poucos pixels.
Bolsonaro só não estava sozinho porque seria estranho demais, até para a campanha troglodita dele. Pôs Paulo Guedes ao seu lado, quase como um castigo. O economista, mudo, inerte, figurava ali como um vaso de flores mortas.
Alguém deve ter pensado: “só os dois não fica bom. Põe uma intérprete de língua de sinais do outro lado”. Puseram. Algo totalmente inusitado (a tradução em libras, em transmissões é feita à parte, em outra janela de vídeo). Inovação? Esculhambação.
O som dos gestos da tradutora podia ser ouvido na transmissão. Tapas, gemidos e fricções.
Ambiente controlado, apartado da realidade, das pessoas, do próprio eleitor. Longe das TVs abertas, da imprensa, dos jornalistas.
O discurso? O mais tolo, demagógico e desconectado de tudo.
É isso que o eleitor brasileiro, saturado pela própria existência, pela própria insignificância e pela própria animalidade está gostando.
Destaque-se: Bolsonaro se auto exila de toda e qualquer conexão com o mundo público do país e pode, assim, alçar o maior cargo público deste mesmo país.
É um recado da história para todos nós. Há algo muito mais arraigado, muito mais estrutural do que Globo, guerra híbrida, conservadorismo, saturação da política e pulsão de morte em curso.
Estamos diante de um colapso dos sentidos, de uma entropia linguística.
Todas as estratégias de comunicação – até as mais sofisticadas – estão furiosamente fadadas ao fracasso diante desse extermínio a céu aberto da linguagem, seja ela política, história ou fática.
A ascensão de Bolsonaro não é similar à ascensão do nazismo. É pior.
Ela é o escárnio do pesadelo.
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