O erro de Doria na campanha de imunização custará a vida de quem tem entre 45 e 60 anos de idade

Doria agiu corretamente ao buscar vacinas, mas errou feio ao postegar imunização de pessoas de meia idade, que têm 4 vezes mais risco de hospitalização e morte do que jovens com comorbidades, analisa Joaquim de Carvalho

Vacina de Covid-19: Jair Bolsonaro e João Doria
Vacina de Covid-19: Jair Bolsonaro e João Doria (Foto: Agência Brasil | Reuters)


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O governador João Doria e os de outros Estados cometem um erro terrível na gestão do plano de imunização contra o coronavírus.

Em vez de seguirem o critério de faixa etária, isto é, a vacina seria aplicada em ordem decrescente de idade, eles decidiram imunizar pessoas que supostamente têm comorbidade, independentemente da faixa etária. 

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Assim, hoje estão sendo vacinadas pessoas com 30 anos. 

Digo supostamente porque o critério abre brecha para fraude em benefício dos mais ricos, que podem comprar atestado médico ou se tratam, e prejudica os mais pobres, pessoas que têm comorbidade e não se tratam ou não têm tempo para procurar um posto de saúde em busca de atestado. 

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Tem muito bacana jovem sendo vacinado sem comorbidade, porque consegue atestado. A escritora Tati Bernardi escreveu um interessante texto essa trambicagem (Comorbidade Nutella).

Outro aspecto importante é que o risco de hospitalização e morte por coronavírus é quatro vez maior entre as pessoas  com idade entre 45 e 60 anos do que aquelas que efetivamente têm comorbidades.

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O dado é de uma pesquisa da Fiocruz e Fundação de Medicina Tropical, divulgada hoje na Folha

Há dez dias, quando conversei com o médico Marcus Lacerda, de Manaus, ele disse que é um erro colocar a comodidade à frente de quem tem entre 40 e 60 anos.

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“Você acha que pobre tem tempo para correr atrás de atestado em posto de saúde ou condições de procurar um consultório particular?”, disse ele, um dos autores do estudo publicado em abril do ano passado que desmontar a farsa da cloroquina.

A decisão de Doria e desses outros governadores não vai reduzir as hospitalizações e mortes na velocidade esperada. Em consequência, os leitos UTI continuarão com grande demanda e, pior, os cemitérios também.

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Eu tenho 58 anos, não tenho comorbidade e não fui vacinado. Jamais procuraria um médico para obter atestado e furar a fila, ainda que eu tenha sido submetido, há 13 anos, a uma ablação para corrigir arritmia provocada pela Síndrome de Wolff-Parkinson-White, pois considero que estou curado.

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Mas tem gente desencavando doenças antigas para se enquadrar no critério da comorbidade. E nenhuma delas é pobre. Pelo contrário. 

Há Estados que já estão vacinando pessoas com menos de 60 anos. 

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Este critério é o correto, do ponto de vista epidemiológico.

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Outra crítica importante. Gosto muito quando amigos, mesmo os jovens, postam fotos tomando vacina. Maravilha. Fico feliz por eles. Porém, há um aspecto levantado pelo jornalista Walter Falceta que precisa ser levado em conta.

Quando alguém posta uma foto comemorando a vacina, é como se alguém, no naufrágio do Titanic, postasse uma foto com um bote salva-vidas.

Tem que ter bote para todos, já que o comandante deste Titanic chamado Brasil não agiu como deveria. 

Façamos a nossa parte e, em vez de comemorarmos que conseguimos lugar no bote salva-vidas, gritemos por mais vacinas para todos. 

Enquanto isso não ocorre, que se siga o critério epidemiológico correto.

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