O Equador contra Lenin deve inspirar a esquerda contra Bolsonaro

Colunista Valério Carcary destaca, ao comentar os motivos de protestos no Equador, que o país vizinho pode se alinhar "com os preços mundiais exigido pela negociação de empréstimo do FMI, que consiste em um ataque brutal às condições de existência de milhões". "O impulso é revolucionário porque o que começou como um protesto ameaça derrubar o governo", diz

(Foto: Reuters | Mídia Ninja)


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Só quando “os de baixo” não querem, e “os de cima”não podem continuar vivendo como antes, só então pode triunfar a revolução. 

Vladimir Ilitch Ulianov, alias, Lenin

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O nome do presidente do Equador, que abandonou a capital Quito tomada por uma semi-insurreição popular, é uma excentricidade, até meio surreal: Lenin Moreno. O Lenin Moreno equatoriano tem o apoio de Trump, Bolsonaro e do FMI, e conseguiu incendiar a fúria popular.

Parece ter saído de um livro de ficção no melhor estilo da escola do realismo mágico latino-americano. Vladimir Ilitch Ulianov, o revolucionário russo que passou para a história como Lenin, e Hugo Bressano, o trotskista argentino, conhecido como Nahuel Moreno, não mereciam. 

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Nos últimos dias, o mundo está acompanhando a uma mobilização de massas com impulso revolucionário contra um pacote de medidas, encabeçado por um aumento de mais de 100% no preço dos combustíveis. Trata-se de um alinhamento com os preços mundiais exigido pela negociação de emprétimo do FMI, que consiste em um ataque brutal às condições de existência de milhões. 

O impulso é revolucionário porque o que começou como um protesto ameaça derrubar o governo. Assistimos a soldados se recusando a reprimir e unindo-se aos trabalhadores, a um tanque de guerra sendo queimado, um presidente transferindo a sede do governo para Guayaquil, a sede do Parlamento invadida, e o país paralizado por uma greve geral. São dezenas de milhares em mobilização ativa e têm o apoio de muitos milhões. Trabalhadores da indústria do petróleo, a mais importante do país, se unem ao povo camponês e indígena.

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Recordemos que uma revolução não deve se confundida com o triunfo de uma insurreição. Há insurreições que não são revoluções. A História está repleta de exemplos de “putchs” e quarteladas que triunfaram, apesar da indiferença e apatia popular. Ocorreram, também, inversamente, autênticos processos revolucionários que foram derrotados, antes que tivesse chegado a hora da insurreição. No Equador a insurreição parece ter aberto uma situação revolucionária. 

Revoluções são uma etapa da vida de uma nação em que a disputa pelo poder assume formas dramáticas, porque milhões de pessoas até então, politicamente, inativas decidem tomar nas suas mãos o futuro. Não podemos saber, neste momento, se Lenin Moreno será ou não derrubado. 

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Mas o que está em marcha no Equador não se resolverá facilmente. Uma revolução é um processo, não um evento. O destino de uma nação não pode permanecer indefinido por anos. A hora de medir forças entre revolução e contrarrevolução parece iminente em Quito. Quando se abre uma etapa de máxima tensão na luta de classes, uma situação revolucionária, a fratura da sociedade esgota os nervos das classes em luta, e expõe os conflitos em carne viva. Quando uma revolução está em movimento acontece uma sequência explosiva de combates. 

É muito difícil prever exatamente quando um processo revolucionário irá se precipitar. Por que as grandes multidões populares, urbanas ou rurais, aceitaram com passividade e resignação situações tirânicas durante anos ou décadas? Por que depois se colocaram em movimento e despertaram com fúria para a arena política em busca de uma solução para as suas reivindicações? As oscilações das relações de forças entre as classes dependem de uma articulação de causalidades objetivas e subjetivas tão complexa que tem sido até hoje imprevisível. Mas não por ausência de causas, por excesso.  

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Como se pode concluir da citação de Lenin, uma revolução tem, portanto, dois elementos definidores fundamentais, sempre mesclados, mas que devemos desmembrar: (a) uma crise terminal do regime político de dominação, com o colapso, pelo menos parcial, da autoridade das instituições; esta crise do regime, é uma refração do que podemos chamar as condições objetivas da situação revolucionária que expressam a decadência do país, a perda de peso da nação dentro mercado mundial, o empobrecimento da sociedade, o impasse histórico a que foi conduzida, ainda que as classes em luta não tenham, ainda, uma percepção clara de que estão sendo arrastadas para uma catástrofe; (b) uma inversão geral da relação de forças entre as classes tão desfavorável às classes proprietárias, pela ação direta das camadas mais exploradas e oprimidas do povo, que se abre um período de pluralidade de poderes, esteja ou não “institucionalizada” na forma de organismos reconhecidos pelas massas em mobilização, e estejam ou não esses organismos centralizados como uma alternativa de poder. 

O Itamaraty soltou uma nota responsabilizando Maduro. As chancelarias da Colômbia, Argentina, Paraguai, Peru, Guatemala e El Salvador soltaram notas idênticas. Todas correspondem à posição do governo Trump e confessam o alinhamento incondicional com o governo dos Estados Unidos.

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A esquerda brasileira deve ser solidária com o povo equatoriano.

Eles nos inspiram. 

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