O eleitor vai ver Lula em Haddad?

"Nas quatro eleições vitoriosas - duas de Lula e duas de Dilma - o PT contou com dois marqueteiros brilhantes. Nesta que é a campanha mais difícil desde 2002, o marqueteiro parece ser o próprio Lula. Usando a metáfora futebolística que Lula consagrou, é mais ou menos como o sujeito ser técnico e jogador ao mesmo tempo. Dirigir o filme e ser o ator. Às vezes dá certo", diz o colunista Alex Solnik

O eleitor vai ver Lula em Haddad?
O eleitor vai ver Lula em Haddad? (Foto: Ricardo Stuckert)


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Haddad é o vice ideal de Lula? Parecia que sim no afogadilho do último fim de semana quando ele foi oficialmente indicado. Mas ele é o ideal para aparecer em lugar de Lula na urna eletrônica? Essa é a dúvida suscitada no PT. E que impede que o bloco de Haddad vá decididamente para a rua. Haddad é mais uma vítima da síndrome do vice.

   Criou-se, no Brasil, o conceito de que o vice, apesar de não ter uma função determinada no governo tem que ser o complemento do cabeça de chapa. Tem que ser diferente. Senão o oposto.

   Se o cabeça é do Sul, o vice tem ser do Nordeste. Se é homem, vice tem de ser mulher. Se é branco, o vice é preto. Se é extremado, o vice é moderado. Ou seja, o vice, de acordo com essa visão, não tem que ser igual ao cabeça de chapa, tem que ser diferente. Ele tem que trazer à chapa o que o cabeça de chapa não consegue trazer.

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   O conceito é lindo, mas falta combinar com os eleitores. Quem escolhe o vice é o partido ou o candidato, não o eleitor, ele vota no vice de cambulhada. O eleitor só descobre quem é o vice quando acontece alguma coisa com o titular. É aí que o bicho pega.

   Em 1985, o povo foi às ruas em uníssono apoiar Tancredo como primeiro presidente civil após a ditadura militar. Mas ele adoeceu (depois morreu) antes da posse e assumiu seu vice, José Sarney, herdeiro da ditadura militar que a população detestava. Sarney teria recebido a consagração de Tancredo se fosse candidato a presidente? É óbvio que não.

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   Em 1989, o eleitor escolheu o intrépido, milionário e jovem “caçador de marajás” Fernando Collor, mas ele renunciou para não ser impedido por suspeita de corrupção e em seu lugar assumiu um vice pouco intrépido, velho, classe média e moderado – o que foi muito bom para o país, porque ele finalmente estancou a inflação. Mas quem teria votado em Itamar se ele fosse o candidato a presidente?

   Daí em diante, os vices sempre foram o oposto do titular. O ex-arenista e aliado da ditadura militar Marco Maciel foi vice de Fernando Henrique, que lutou contra a ditadura. O empresário e milionário José de Alencar foi vice do ex-operário Lula duas vezes. Se eles tivessem assumido, o que diria o eleitor, que votou num defensor da democracia e obteve um golpista? Que votou num amigo do povo e obteve um industrial bem-sucedido à custa de pagar baixos salários ao povo? O que Temer tinha a ver com Dilma? Tanto não tinha que na primeira oportunidade conspirou para tomar o palácio.

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   Apesar de inúmeros exemplos desastrosos, o conceito continua valendo até hoje. Lula é bom de palanque, carismático, extrovertido, autodidata, nenhum diploma, ex-metalúrgico; Haddad é classe média, sem carisma, professor universitário, contido, nunca brilhou por seus discursos. Lula é a figura mais popular do país, Haddad é conhecido apenas em São Paulo.  

   Se a eleição fosse normal ninguém nem prestaria atenção ao vice, ninguém discutiria se Haddad é o melhor vice de Lula, a não ser jornalistas e institutos de pesquisa, mas o caso é que está chegando a hora de o vice pegar o papel do protagonista. E a dúvida cresce dentro do PT: o eleitor vai engolir Haddad por Lula? O eleitor vai ver Lula em Haddad?

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   Nas quatro eleições vitoriosas - duas de Lula e duas de Dilma - o PT contou com dois marqueteiros brilhantes. Nesta que é a campanha mais difícil desde 2002, o marqueteiro parece ser o próprio Lula. Usando a metáfora futebolística que Lula consagrou, é mais ou menos como o sujeito ser técnico e jogador ao mesmo tempo. Dirigir o filme e ser o ator.

   Às vezes dá certo.

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