O efeito Kátia Abreu nos movimentos sociais

Os líderes camponeses brasileiros, ou quase a totalidade deles, apoiaram e sempre vão apoiar Dilma. E não se trata apenas de generosidade, mas de visão histórica

Os líderes camponeses brasileiros, ou quase a totalidade deles, apoiaram e sempre vão apoiar Dilma. E não se trata apenas de generosidade, mas de visão histórica
Os líderes camponeses brasileiros, ou quase a totalidade deles, apoiaram e sempre vão apoiar Dilma. E não se trata apenas de generosidade, mas de visão histórica (Foto: Leandro Fortes)


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“Eu juro que, quando eu soube, pensei que vocês iriam incendiar o Palácio do Planalto”, brinquei.

“Será que ainda dá tempo?”, brincou outro, com mais espírito.

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O rápido diálogo se deu há poucos dias, quando fui falar na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), em Brasília.

Fui, como de costume, generosamente convidado pela direção da Contag para dar uma aula sobre mídia e as eleições, desta vez no 5º Curso Nacional de Formação de Educadoras e Educadores em Ação Sindical e Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário.

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Trata-se de um curso anual que reúne, em Brasília, algumas das principais lideranças nacionais da luta no campo. Há representantes das federações de camponeses de todos os estados, gente simples nos modos, mas com uma compreensão sofisticada da política nacional pelo viés dos movimentos populares.

Para mim, não há outro fórum mais prazeroso e eficiente de se discutir o País.

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Mas eles não são muito ouvidos.

O diálogo que inicia este texto tratava da nomeação de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.

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Lá, na Contag, uma a uma das lideranças, cada uma a seu modo, descreveu a descrença profunda que se abateu sobre a luta quando a senadora Kátia, a representante mais simbólica do latifúndio brasileiro, foi nomeada ministra.

Os líderes camponeses brasileiros, ou quase a totalidade deles, apoiaram e sempre vão apoiar Dilma. E não se trata apenas de generosidade – embora, no caso deles, seja bom valorizar essa variável –, mas de visão histórica.

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Os governos do PT causaram, reconhecidamente, uma quebra de expectativa dentro dos movimentos pela reforma agrária no Brasil. Em termos estatísticos, segundo levantamento do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foram desapropriadas fazendas para apenas 4,7 mil famílias, em 2014. Menos do que fez o general João Figueiredo, último presidente-general da ditadura.

João Pedro Stedile, principal liderança do MST, diz, com razão, que a reforma agrária está “bloqueada”. E, por conta desse bloqueio, aumenta a concentração da propriedade da terra e o avanço do capital sobre a agricultura aumenta.

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Não priorizar, no entanto, não significou abandono. O governo da presidenta Dilma assentou 75 mil famílias e incorporou cerca de 2,3 milhões de hectares ao programa de reforma agrária, segundo dados do Incra.

Além disso, não há vivalma entre as lideranças camponesas incapaz de reconhecer o óbvio: sem Dilma e o PT, o campo vai cair definitivamente nas mãos da turma de Kátia Abreu, novamente, sob o manto protetor do agronegócio, esse eufemismo bacana bolado pelos ruralistas para não pronunciar a palavra maldita “latifúndio”.

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Mas, o que fazer quando Kátia Abreu já está no governo?

Esse nó não foi desatado na minha aula.

Mas talvez precise ser afrouxado se a mídia conseguir reunir de novo sua manada de rebeldes do horário nobre, insatisfeitos com-tudo-que-aí-está, nas ruas.

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