O dragão da maldade contra o santo guerreiro

'Na luta do dragão da maldade contra o santo guerreiro, Lula sabe que há os peregrinos de Monte Santo, à espera do milagre do fim da fome", escreve Denise Assis

Lula ao lado do ministro Wellington Dias na cerimônia de relançamento do Bolsa Família
Lula ao lado do ministro Wellington Dias na cerimônia de relançamento do Bolsa Família (Foto: Ricardo Stuckert)


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Nesta semana o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu importante e abrangente entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo. Até quem por ele não nutre simpatia, foi obrigado a admitir que, sim, Reinaldo marcou um tento. Havia ali um clima de simpatia, camaradagem e, até mesmo, cumplicidade, com direito a piscadelas do entrevistador para Lula, que retribuía com sorrisos.

Ainda assim, não foi possível ignorar que o presidente em alguns momentos se mostrou “exasperado”, demonstrando que tem pressa, está aflito. Certamente com os anos de experiência na política, Lula anteviu que pegaria um país em pandarecos, no farelo. Tinha plena consciência do fosso à sua frente - e tanto é assim que antes mesmo de tomar posse articulou a aprovação da PEC do Bolsa Família -, que a mídia tradicional, sem que ele houvesse nem mesmo tomado posse, já apelidava de “PEC da gastança” ou “PEC fura teto”. Faziam o discurso demagógico do: “tudo pelo social”, mas batiam sem dó no socorro aos 33 milhões de esfomeados.

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Eram necessários 49 votos e o projeto de emenda foi aprovado com 64, em dois turnos. A aprovação propiciou um aumento do teto de gastos em R$ 145 bilhões, dos quais R$ 70 bilhões destinados ao Bolsa Família, relançado no Planalto, na quinta-feira (02). O programa destina R$ 600 para as famílias e um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos.A impressão que dá é que Lula sapateia numa chapa quente. E está, de fato, em brasas o seu caminho. Convém lembrar que no ano de 2002, ele conquistou a vitória surfando na crise em que o país vivia e ofereceu o discurso de mudança no segundo turno contra José Serra (PSDB). Resultado: 52.793.364 votos, contra 33.370.739 de Serra (61,27%).

Em 2006, Lula se reelegeu outra vez no segundo turno, disputando contra o seu atual vice, Geraldo Alckmin. O petista levou 58.295.042 votos, ante 37.543.178 do candidato do PSDB (60,83%).

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E, agora, apesar de termos de registrar que foi a maior votação da história de um presidente da República, no segundo turno - Lula bateu Jair Bolsonaro (PL), alcançando 60.345.999 votos (50,90%), contra 58.206.354 do candidato da ultradireita – foi também uma das vitórias mais apertadas da sua vida. 

E não apenas isso influencia no seu momento. Enquanto Lula amargava 580 dias de prisão nos últimos anos, antes de ser declarado livre para concorrer às eleições, o mundo capotava. Em artigo ao portal Outras Palavras, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos descreveu assim, a cena geopolítica:

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“Assistimos na Europa à (re)emergência alarmante de duas realidades destrutivas dos “domínios do espírito”: a destruição da democracia, com o crescimento das forças políticas de extrema-direita; e a destruição da paz, com a naturalização da guerra. Qualquer destas destruições é legitimada pelos valores que visa destruir: a apologia do fascismo é feita em nome da democracia; a apologia da guerra, em nome da paz.”

Quando foi retirado da disputa política, Lula tinha como referência de “Centrão”, aquele grupão fisiológico, nascido na Constituinte e guiado pelo lema cunhado pelo deputado do Partido Democrata Cristão (PDC), Roberto Cardoso Alves: “É dando que se recebe”.

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Com todo o cinismo que Deus lhe deu, o deputado fez uma “adaptação livre” da oração de S. Francisco de Assis para traduzir o que de fato eram: oportunistas.

O máximo de virulência política a que Lula assistiu, assim mesmo já com as atenções voltadas para a sua própria defesa, foi o do rolo compressor que moeu Dilma Rousseff e a atirou para fora do poder. Naquela época, o processo era conduzido atrás das cortinas, com requintes de raposice, pelo deputado Eduardo Cunha. 

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Daí por diante, o nível de virulência, ganância e grosserias atingiu o seu ápice. Quem não se lembra da foto do Estadão, exibindo a fila na porta de uma saleta no corredor da Câmara, para distribuir a verba do orçamento secreto?

Agora que chegou ao poder com margem exígua de votação, travando guerra contra o fascismo de que nos fala Boaventura, Lula deu de cara com o novo chefe do cofre. Ao esticar o pescoço para avaliar a profundidade do fosso, deparou-se com o imperador das Alagoas, com o dragão da maldade. Sem pejo, Arthur Lira bate na mesa e grita: “eu quero”. E lambe a barba de Lula com as labaredas de suas ventas, assustadoramente. Não há mais cortinas. O troca-troca agora é feito às escâncaras, com direito a câmeras e entrevistas. Tudo para agora. Tudo para ontem. 

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O que o presidente Lula faz é gritar por cima do muro do Planalto, com a esperança de ser ouvido nas ruas e que elas se conscientizem de que o que está fazendo é pautar  a sociedade, a opinião pública, tentando sacudir as consciências. Em seu socorro, vem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, brandindo o programa de governo, para que a militância não se esqueça do que foi proposto e se organize, com ela cerre fileiras na cobrança. Enganam-se os senhores da mídia, quando pensam que ainda coíbem Lula com ameaças e pressões. Lula tem maturidade e pressa, mas tem também noção do quanto pode, sim, espernear. Na luta do dragão da maldade contra o santo guerreiro, Lula sabe que há os peregrinos de Monte Santo, à espera do milagre do fim da fome. É Deus e o diabo na terra do sol. E Lula é como Corisco. Ele não se entrega não.

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