O discurso histórico e irretocável de Lula prova que ele ainda é a maior força (e esperança) da Esquerda brasileira
É inegável o que há uma espécie de genocídio direcionado aos mais vulneráveis, e sua colocação de que a doença foi oportunisticamente transformada em arma de destruição de massa é perfeita
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Faço aniversário em 6 de setembro, véspera do feriado em que comemora-se a Independência do Brasil. Este ano, como presente, além do carinho de minha esposa e de meus queridíssimxs amigxs, recebi também o discurso que considero o melhor de todos do presidente Lula.
Desde que o Golpe de 2016, assisti a quase todas (e certamente às principais) falas, entrevistas, discursos e depoimentos de Lula. A primeira dentro da prisão foi impactante, aquela logo após sua soltura foi comovedor, o encontro com o Papa Francisco foi memorável e por aí vai. Mas em minha opinião nenhum discurso foi tão irretocável como este.
Quem acompanha minha trajetória talvez conheça a importância que Lula tem em minha vida. Logo que ele foi libertado de sua injusta prisão, escrevi a ele uma carta de apoio e convidei meus e minhas amigxs judias e judeus para assinar. Foram centenas de valiosas assinaturas. Com a ajuda da organização de queridxs companheirxs, conseguimos organizar em 30 de janeiro de 2020 em São Paulo o evento ‘Judias e judeus com Lula’, no qual tive o prazer de entregar a carta a Lula em mãos. Contamos também com a presença de Haddad, Gleisi, Celso Amorim, Suplicy, e muitas outras personalidades da política e da sociedade brasileira, que compareceram em consideração a nós e à nossa voz.
Algum dia escreverei um artigo contando detalhadamente como foi minha conversa com o presidente, o que ele me disse, o que me contou, como agiu e tudo mais. Foi realmente mágico. Mas isso fica para algum dia por vir.
Hoje quero comentar o discurso de hoje de Lula, que ao meu modo de ver foi o melhor, mais forte, mais combativo e mais inteligente de todos até aqui. E eu sempre o critiquei em falas que achei rarefeitas e de pouco conteúdo, afinal admirar um político significa também analisá-lo, cobrá-lo, criticá-lo quando necessário.
E por que acho que hoje, neste simbólico dia, ele foi tão impecável assim? Pois ele não somente encostou em todas as questões necessárias neste momento, como também acusou e denunciou claramente os culpados. Exatamente como um líder da Esquerda, da Resistência, da Oposição, deve fazer. Resumidamente podemos colocar assim:
Primeiramente ele falou da pandemia e da horripilante conduta do governo brasileiro sobre esta. E deixou claríssimo aquilo que nos é óbvio, falando “sem rodeios” e de forma clara e incisiva:
“Teria sido possível sim evitar tantas mortes. (…) Estamos entregues a um governo que não dá valor à vida e banaliza a morte. Um governo insensível, irresponsável e incompetente. Converteu o Corona-Vírus em uma arma de destruição em massa.”
É inegável o que há uma espécie de genocídio direcionado aos mais vulneráveis, e sua colocação de que a doença foi oportunisticamente transformada em arma de destruição de massa é perfeita.
Ele segue então expondo a postura entreguista do atual presidente, que utilizando-se deste momento de discórdia, simplesmente oferece o país aos interesses de forças internacionais e de minorias bilionárias que com tais ações se beneficiam:
“O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para sorrateiramente cometer um crime de lesa-pátria. Um crime politicamente imprescritível. O maior crime que um governo pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional.”
Ele prossegue então com uma completa listagem de grande parte das medidas que vêm levando o Brasil a um pleno desmanche: as privatizações das empresas nacionais, os ataques à Educação em todas aos seus estágios, aos intelectuais, aos artistas e assim por diante.
Mudando de tom, Lula fala então sobre suas reflexões pessoais e as funções que ainda lhe restam enquanto político no Brasil, traçando um panorama muito claro daquilo que almeja e defende. Aborda a questão democrática e também as diretrizes de desenvolvimento e cooperação com outros países, frisando diversas vezes a importância do trabalhador e do menos favorecido.
“Minhas amigas e meus amigos, no isolamento da quarentena tenho refletido muito sobre o Brasil e sobre mim mesmo. Sobre meus erros e acertos e sobre o papel que ainda pode me caber na luta do nosso povo por melhores condições de vida. Decidi me concentrar, ao lado de vocês, na reconstrução do Brasil, como nação independente, com instituições democráticas, sem privilégios oligárquicos e autoritários. Um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com fundamento na soberania popular. Uma nação voltada para a igualdade e o pluralismo. Uma nação inserida na nova ordem internacional baseada no multilateralismo, na cooperação e na Democracia, integrada na América do Sul e solidária com outras nações em desenvolvimento. O Brasil que quero reconstruir com vocês é uma nação comprometida com a libertação do nosso povo, dos trabalhadores e dos excluídos. (…) Um país em que a riqueza produzida por todos seja distribuída para todos, mas em primeiro lugar para os explorados, os oprimidos e os excluídos.”
Após isso, ele se dirige com relação ao caminho histórico do país no século XXI, das administrações do PT, ao Golpe de 2016, à distópica realidade em que nos encontramos hoje. E soma-se aos seus dizeres algo essencial: em outros discursos critiquei Lula por não combater Bolsonaro diretamente. Defendi que não era hora de um novo ‘Lulinha Paz e Amor’, como foi necessário no passado, mas sim do Lula combativo, que não se esquiva em acusar alguém daquilo que é. Hoje ele o fez:
“Ao tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, nós fizemos uma revolução neste país. Uma revolução pacífica, sem tiros nem prisões. Ao ver que este processo de ascensão social dos pobres iria continuar, que a afirmação da nossa soberania não teria volta, os que se julgam donos do Brasil, aqui dentro e lá fora, decidiram dar um basta. Nasce aí o apoio dado pelas elites conservadoras a Bolsonaro. Aceitaram como natural sua fuga dos debates. Derramaram rios de dinheiro na indústria das fake news. Fecharam os olhos para seu passado aterrador. Fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e apologia pública que fez do estupro.”
Após falar abertamente da indústria das fake news, da covardia do então candidato ao fugir de debates, de seu indiscutível enaltecimento a ditadores e da legitimação da cultura do estupro, Lula ainda prossegue:
“Com a ascensão de Bolsonaro, milicianos, atravessadores de negócios e matadores de aluguel saíram das páginas policiais e apareceram nas colunas políticas. Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos.”
Frase perfeita. Em meio à milícia e aos assassinos de aluguel, criou-se um tacanho monstro que não se consegue mais conter, mas ainda assim será mantido, enquanto os privilegiados tiverem o controle da máquina de dinheiro no país.
Lula indispensavelmente também lembra que, durante a pandemia, bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 170 bilhões. E a massa salarial dos empregados caiu em 15% em um ano, a maior descensão já registrada pelo IBGE.
Depois elenca as minorias perseguidas e oprimidas pelo autoritarismo obscurantista que se impôs. Pergunta: “Quantos George Floyd já tiveram no Brasil?”. Mencionou as nações indígenas, a violência impune contra as mulheres, o estigma pelo gênero das pessoas, o escárnio pelos quilombolas e o eterno preconceito aos pobres e à periferia.
Ele se encaminha para o fim de seu discurso, afirmando que “precisamos de um novo contrato social”, e explicando que:
“O alicerce deste contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto. É através do exercício do voto, livre de manipulações e de fake news, que devem ser formados os governos e ser feitas as grandes escolhas e as opções fundamentais da sociedade.”
E prestes a completar 75 anos de vida, se coloca ao dispôr do Brasil:
“Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos.”
Ele então cita Victor Hugo em Os miseráveis (livro com o qual tenho uma conexão pessoal e metafísica, uma vez que recebi meu nome por causa de seu personagem principal, o reflexivo Jean Valjean.): “É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos.”
Lula então dá continuidade à frase emblemática de Hugo, registrando suas convicções trabalhistas e socialistas, ou seja, o âmago daquilo que esperamos dele e admiramos nele e naquilo que o cerca:
“Nenhuma solução terá sentido sem o povo trabalhador como protagonista. Assim, como a maioria dos brasileiros, não acredito e não aceito os chamados ‘pactos pelo alto’ com as elites. (…) Por isso quero reafirmar algumas certezas pessoais: Não apoio, não aceito e não subscrevo qualquer solução que não tenha a participação efetiva dos trabalhadores. Não contem comigo para qualquer acordo em que o povo seja mero coadjuvante.”
E no melhor estilo do incomparável Bernie Sanders, ele sabe muito bem onde e como começa a revolução:
“Mais do que nunca, estou convencido de que a luta pela igualdade social passa sim por um processo que obrigue os ricos a pagar impostos proporcionais às suas rendas e suas fortunas.”
E conclui com o recado a todos nós: “Fiquem firmes porque juntos nós somos fortes.”
E eu, falando somente por mim e por quem quiser se sentir representado, respondo: Estamos contigo, companheiro Lula, até o fim em nome da Democracia, dos Direitos Humanos e da Justiça Social. Conte conosco e força sempre.
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