O discurso genocida de Bolsonaro
"O Fora Bolsonaro! hoje nao inclui as responsabilidades que ele tem no genocídio diário do povo. Temos que conseguir isto, para poder chegar realmente ao impeachment", avalia o sociólogo Emir Sader
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Bolsonaro é o responsável pelas desgraças que o Brasil vive hoje. Desde sua aventura de assaltar o governo do país, mediante mentiras e manipulações de internet, passando pelo governo incompetente e ridículo que formou, até chegar à tragédia da pandemia. Claro que ele só pôde fazer isso porque foi apoiado pelo grande empresariado e pela mídia, cuja hostilidade ao retorno a um governo popular, democrático e soberano, justifica entregar o governo do país a um psicopata.
Bolsonaro tem conseguido se livrar das responsabilidades da pandemia, mediante um discurso que mistura má fé, mentiras e torpezas, para conseguir atribuir as responsabilidades a outros. Ele desenvolve um discurso que reverte a realidade, absolvendo-o e jogando sobre outros – como sempre na teoria do bode expiatório que o caracteriza – as responsabilidades dos efeitos graves da pandemia.
Em primeiro lugar, suas responsabilidades vêm de ter, no começo da pandemia, subestimado suas dimensões e seus efeitos, com as tais afirmações da “gripezinha”, do “resfriadinho”. Como isso, atrasou a preparação do país para a chegada da pandemia, além de não preparar as pessoas para se defender dela. Enfraquecia as medidas iniciais de isolamento social, atacou-as, propondo um impossível isolamento seletivo.
Se apoia na posição dos que dizem que o isolamento para a maioria da população, que vive em condições de conglomerados domésticos, faz com que corram mais risco de pegar o vírus em casa, do que saindo na rua. Que a saída, ao mesmo tempo, seria indispensável, para conseguir as condições mínimas de sobrevivência.
De maneira absolutamente sem vergonha ele, que nunca sequer mencionou o desemprego, nem na campanha eleitoral, nem no governo, sendo responsável por o país ter chegado a 12 milhões de desempregados e 28 milhões de trabalhadores precários, agora finge assumir as dores dessas pessoas, que necessitariam voltar a trabalhar. Ao mesmo tempo que seu governo se mostra absolutamente incompetente para fazer a irrisória quantia de 600 reais por mês a essa massa da população. Quantos mais desvalidas as pessoas, mais vão ser obrigadas a deixar suas casas para conseguir recursos que lhes faltam.
Enquanto isso, a mídia se concentra em absolver a Bolsonaro, colocando a culpa de que as vítimas da pandemia não deixam de aumentar, na falta de obediência ao isolamento social. Pesquisas indicam que mais de 70% das pessoas estão a favor do isolamento, mas apenas metade delas pratica o isolamento. A TV mostra a madames passeando os cachorrinhos, como se esse tipo de gente andando pela Avenida Paulista desse conta dos 2/3 da população que sai às ruas. Estes são os que têm necessidade de sair, pela fome que passam.
As estatísticas apontam que 62,1 milhões de pessoas, praticamente a metade da população, se somamos a eles seus dependentes, estão nessas condições e impossibilitados de ficar nas suas casas, porque não têm rendimentos garantidos para sobreviver. A culpa então recai sobre esses que não obedecem o isolamento e não sobre Bolsonaro e seu governo.
Bolsonaro está ganhando o discurso sobre o isolamento e, de alguma maneira, sobre a pandemia, porque se livra de responsabilidades. Porque, por outro lado, ele atribui aos governadores a responsabilidade do aumento da recessão e do desemprego, ao promover o isolamento social.
Bolsonaro está isolado politicamente, perde apoios, mas encontrou uma forma de falar para os mais fragilizados. O discurso de voltar a trabalhar chega aos que necessitam trabalhar, além dos pequenos e médios proprietários de empresas, enfim, chega à maioria das pessoas. O discurso e as campanhas de isolamento a todo preço, estão perdendo, porque não levam isto em conta, falam para os que vivem em casa em boas condições, os que têm renda garantida, mesmo ficando em casa. Falam para a minoria mesmo que nas pesquisas a maioria esteja a favor do isolamento, porque o argumento de dar mais importância à saúde e à vida do que à economia, é forte. Mas não leva em conta que economia é também o ganha pão cotidiano, a fome, a necessidade de pagar as contas.
O discurso genocida de Bolsonaro se dirige aos mais ricos, que controlam a economia e querem voltar a ganhar dinheiro, a qualquer preço. Mas se dirige também aos mais pobres, que são maioria, e precisam sair de casa para poder sobreviver. As forças democráticas, a esquerda, precisam levar isto em conta, se não quiserem ficar isoladas. O Fora Bolsonaro! hoje nao inclui as responsabilidades que ele tem no genocídio diário do povo. Temos que conseguir isto, para poder chegar realmente ao impeachment.
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