O direito ao desabafo

Da esq.para a dir.: Luís Costa Pinto, Helena Chagas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel
Da esq.para a dir.: Luís Costa Pinto, Helena Chagas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel (Foto: Ricardo Stuckert/PR)


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Quem restitui o último abraço não concedido ao irmão Vavá, o beijo de despedida no neto Arthur, o sofrimento, as torturas psicológicas que levaram Dona Marisa à morte, a sucessão dos dias sem perspectiva quando condenado injustamente, em Curitiba? Vencer as agruras e sair ileso, disposto a conviver sem rancor, livre de mágoas, no destino que segue, não constitui apenas um desafio. Representa uma grandeza que poucos exibem em sua trajetória. Por isso, as comparações que evoca com gente do porte de um Mandela, Luther King, Gandhi e exemplos de dimensão semelhante. O Luís Inácio Lula da Silva, em seu terceiro mandato, aos perfis conhecidos, acrescenta novos: uma fibra insuspeita, humor doce, coração fraterno e solidário. São traços que apareceram durante a entrevista concedida aos jornalistas do 247, com os quais se sentiu tão à vontade que não prendeu o choro ao revelar emoções passadas. Falando de Sérgio Moro, deu-se ao luxo de arriscar um palavrão. Logo se arrependeu e solicitou que o deletassem da entrevista, habituado, como se sabe, a uma linguagem respeitosa. Mas estava ao vivo e ninguém pensou que aquilo soaria inadequado. 

O que não perdoa a imprensa conservadora? Que as emoções aflorem e, por algo aceitável, digam o que todo mundo sabe? Prefere a hipocrisia do outro, do magistrado parcial, apagado no Senado e se debatendo para tirar da situação o proveito necessário. Lembremos que este trabalhou com Jair Bolsonaro, o campeão dos palavrões, incapaz de exprimir duas ideias sem intercalá-las com o chulo e o baixo calão. A imprensa penou em suas mãos, em particular as mulheres, a quem detestava, alérgico a qualquer das suas perguntas. Naquela época, às vésperas das eleições, o ex-juiz cercou o antigo patrão, não só lhe segurando a pasta e as pontas, como um bedel que ao lado do diretor do colégio, precisa homenageá-lo, mesmo quando não deve. 

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Bolsonaro era um mandatário difícil e mal comportado. Lula, na comparação, oferece qualidades dignas de nota. Mostra-se solidário com os desfavorecidos que o rodeiam e não hesita em apoiá-los, tomando medidas e realizando projetos de natureza social. Não é um santo e não pretende ser, desde que nos deixe um legado de sensibilidade que, depois, sirva como exemplo para que nunca mais, por má sorte ou má consciência, erremos nas escolhas dos dirigentes. Já se viu que, junto a estes, o conservadorismo reacionário aceita tudo, incluindo a grosseria e a falta de cuidado com as verbas públicas. Para deixá-los fazer o que querem, com toda a liberdade, escancaram a direção do Banco Central e sobem os juros que põem a nação em ruína. 

Desabafos podem não ser bons. Prejudicam a imagem estática de quem tem aspirações à beatitude. No entanto, desabafos restituem ao caráter o que possui de coragem muitas vezes ofuscada por conveniências estabelecidas. Presidentes que não desabafam parecem engolir espadas, com suas espinhas eretas e mal acondicionadas nos ternos. Não nos iludamos. É melhor mandatários capazes de mostrar que sentem e se emocionam, porque, na memória, deles será o reino dos céus. Basta equilibrar a alegria e as lágrimas, a confiança e o medo de errar. O público agradece por ver, transitando no poder um Homem, muito mais do que um herói. 

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