O difícil caminho da esquerda: encontrar um caminho no meio das trevas
“Não se deve promover a esperança na base de ilusões. Mas a esquerda não deveria sucumbir ao pessimismo óbvio”, escreve Emir Sader. Para o sociólogo, “sempre há um caminho. O papel da esquerda é encontrá-lo ou forçá-lo, para estar à altura dos desafios atuais”
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Por Emir Sader
O mais fácil hoje é entregar-se ao catastrofismo. Tudo convida a isso: governo negacionista, miliciano, pandemia desenfreada, vacinação lenta, fome e miséria que se estendem cada vez mais, fake news, maioria no Congresso bloqueando o impeachment, grande empresariado e mídia econômica favorável às privatizações do Paulo Guedes, prazos longos para novas eleições.
Projetado para o futuro, só permite prever catástrofes. É o que faz grande parte dos analistas, inclusive uma parte dos mais capacitados representantes da ciência, convidando ao desespero e à luta pela sobrevivência individual, quando o vírus ataca mais.
Mas este é um caminho suicida para a esquerda e para a própria democracia. Não se deve promover a esperança na base de ilusões. Mas a esquerda não deveria sucumbir ao pessimismo óbvio (deixar o pessimismo para tempos melhores, como se diz).
Mas uma esquerda que não consegue encontrar um caminho, ainda no meio das trevas, não merece esse nome, deve se render a ser crítica, renunciar a ser uma força política de massas e repousar nos artigos veementes, mas impotentes, na internet.
A esquerda se caracteriza por não sucumbir ao fatalismo, ao pessimismo puro e simples, senão renunciaria a sua natureza: a de transformar o mundo para melhor. O que sempre é possível, mesmo no pior dos mundos possíveis, que parece ser aquele em que estamos.
Com o que contamos para encontrar uma via, um atalho, que seja? Primeiro, com o fracasso desse governo – fracasso em tudo: pandemia, economia, emprego, discurso – e que a direita não encontra outro candidato que possa, pelo menos chegar ao segundo turno contra o Lula. Mas isto não nos basta, porque como faremos até novas eleições? Quantos mortos mais pelo vírus e pela fome?
Contamos com a ciência, contamos com a vacinas, contamos com o SUS, com o Instituto Butantã, com a Fiocruz. Mas tudo isso está limitado por um governo que trata, por todos os meios, de impedir que a vacinação se acelere, porque não faz nada pra termos mais vacinas, para termos mais matérias primas para fábricas as vacinas aqui, que não facilita que o SUS vacine, que promove o descrédito das vacinas, que promove alternativas já desmistificadas pela ciência.
Temos o Lula, a grande e reconhecida liderança política e favorito para ganhar as próximas eleições presidenciais. Temos muito bons governadores no nordeste, prefeitos muito bons, temos excelentes bancadas na Câmara e Senado, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores.
Nada disso, por si só, é suficiente para a esquerda encontrar um caminho para sair das trevas atuais. Mas no seu conjunto, representam força suficiente para:
- Diminuir os efeitos da pandemia
- Diminuir os efeitos da fome
- Conseguir o impeachment ou, pelo menos, o debate nacional sobre o impeachment
- Consolidar a candidatura do Lula como a grande alternativa nacional para o Brasil.
Trabalhar nessa perspectiva significa:
- Trabalhar por todos os meios para conseguir mais vacinas e acelerar o processo de vacinação
- Aprovar um imposto às grandes fortunas, para financiar um auxílio emergencial de 600 pelo prazo que durar a pandemia
- Conseguir colocar em discussão e votação o impeachment no Congresso, apoiado por mobilização nacional pelo Fora Bolsonaro!
- Retomar intensamente o trabalho de massas, mesmo nas condições de quarentena, preparando-nos para o final desta e para as imensas mobilizações de rejeição ao Bolsonaro.
- Consolidar a candidatura do Lula como única alternativa para tirar o Brasil da crise, recuperar a democracia, fazer a economia voltar a crescer, retomar políticas sociais distributivas, gerar empregos formais para milhões de trabalhadores.
Ao lado disso, desenvolver amplo processo de recrutamento de novas gerações de militantes, especialmente mulheres, jovens e negros, renovando e rejuvenescendo os quadros partidários da esquerda.
Por essas trilhas a esquerda pode reabrir as vidas de superação da crise atual, buscando os atalhos no meio das trevas atuais. Sempre há um caminho. O papel da esquerda é encontrá-lo ou forçá-lo, para estar à altura dos desafios atuais.
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