O dia seguinte do Brasil, uma incógnita

Quem também pagará um preço alto, por sua decisiva participação no impeachment, será a chamada Grande Imprensa, que abandonou a sua missão de informar para transformar-se num partido político, usando de todo o seu poder para, com notícias falsas e informações distorcidas,  fazer a cabeça dos que não usam o cérebro para pensar

Brasília- DF- Brasil- 14/03/2015- O Presidente da câmara dos deputados, deputado Eduardo Cunha Preside a Sessão Solene em Homenagem aos 50 anos da Rede Globo, ao seu lado, João Roberto Marinho (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Brasília- DF- Brasil- 14/03/2015- O Presidente da câmara dos deputados, deputado Eduardo Cunha Preside a Sessão Solene em Homenagem aos 50 anos da Rede Globo, ao seu lado, João Roberto Marinho (Antonio Cruz/Agência Brasil) (Foto: Ribamar Fonseca)


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Esta semana será decisiva para o futuro do país, não necessariamente para a presidenta Dilma Roussef. Se ela for definitivamente afastada, com a consequente manutenção de Michel Temer no Palácio do Planalto, o Brasil viverá o maior retrocesso da sua história. Se como interino  em apenas dois meses Temer já desmontou as grandes conquistas na educação, aumentou os gastos públicos, iniciou o processo de entrega de nossas riquezas naturais para o capital estrangeiro e ampliou o desemprego,  o que não fará quando não precisar mais ficar preocupado com a possibilidade de retornar à sua insignificância como vice. Com um mandato de dois anos como Presidente da República,  garantido até 2018 pelos golpistas, ele não terá a menor preocupação com as consequências dos seus atos para a população, especialmente para os pobres, pois não precisou dos votos deles para chegar ao Planalto. E vai destruir tudo o que os governos petistas de Lula e Dilma fizeram nos últimos 14 anos em benefício do povo, alterando inclusive, para pior, a legislação trabalhista, contando para isso com o apoio dos golpistas no Congresso e na mídia.

         Se, no entanto, o Senado rejeitar o impeachment e Dilma voltar para o Palácio do Planalto, não apenas a democracia será fortalecida como teremos um novo Brasil. O episódio do impeachment sem crime, condenado dentro e fora do país, terá servido para desmascarar todos os que conspiraram contra o governo, que se mostraram por inteiro convencidos de que haviam conquistado o poder sem precisar de votos. E Dilma, que confiou nesse pessoal nomeando-o para seu  ministério e  até designando o seu vice como articulador político – o que facilitou a sua conspiração para defenestrá-la  da Presidência da República – certamente será mais cautelosa na escolha dos seus auxiliares. E dará aos  traidores o que eles realmente merecem, promovendo uma faxina no Estado. Obviamente  terá dificuldades para montar uma base mais sólida no Congresso que lhe assegure a governabilidade, mas poderá superar o problema com a proposta de plebiscito para novas eleições. E os golpistas, então, terão a oportunidade de disputar o poder pelo voto, se é que acreditam que terão possibilidade de conquista-lo através das urnas.

         Se tiverem um relance de lucidez, deixando de pensar nos seus próprios interesses para pensar nos interesses maiores da Nação, os louco-juizes do tribunal-hospício, na visão do seu presidente Renan Calheiros,  rejeitarão o impeachment, até porque os debates não deixaram dúvidas de que se trata de um golpe, já que não houve crime de responsabilidade. Caso contrário, estarão lançando o Brasil numa aventura de consequências imprevisíveis e serão co- responsáveis pelos males advindos, inclusive pelo clima de tensão e conflitos que tomará conta do país, especialmente pelas suas vítimas. O mais lúcido observador terá dificuldades para prever os acontecimentos. O brasileiro é reconhecidamente um povo pacífico mas já deu mostras, particularmente na ditadura militar, que não se acomoda diante de injustiças e sem dúvida vai sair às ruas para lutar por seus direitos, pelo que acredita.

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         Além dos prejuízos causados ao povo, esse  episódio, que será lembrado como uma das páginas mais negras de nossa história, também deixará marcas profundas no Judiciário, que precisará de muito tempo para recuperar a confiança da sociedade. Acusado, inclusive pela imprensa internacional,  de conivente com a execução do golpe, o Supremo Tribunal Federal ficou bastante desgastado, perdendo aquela aura de austeridade que o caracterizava. Até mesmo durante os debates no Senado a mais alta Corte de Justiça do país sofreu mais um golpe, quando o senador Renan Calheiros, no calor da discussão com a senadora Gleisi Hoffman, afirmou quase aos gritos que intercedeu junto à Suprema Corte para que ela e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, não fossem indiciados. A declaração deixou mal o STF,  pois ficou a idéia de que os políticos, inclusive os que são investigados, interferem em suas decisões, o que talvez explique o esquecimento da delação de Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro. Recorde-se que o ex-senador Delcidio do Amaral foi preso e perdeu o mandato porque insinuou  que tinha influência junto aos ministros do Supremo. Mas ele era do PT. Se fosse de outro partido provavelmente ainda estaria de posse do seu mandato.

         Quem também pagará um preço alto, por sua decisiva participação no impeachment, será a chamada Grande Imprensa, que abandonou a sua missão de informar para transformar-se num partido político, usando de todo o seu poder para, com notícias falsas e informações distorcidas,  fazer a cabeça dos que não usam o cérebro para pensar. E, principalmente, usou suas páginas para envenenar parte  da população contra Dilma e Lula, pintados em manchetes escandalosas como os grandes vilões do país.  Como grande parte do povo já perdeu a confiança nos veículos de comunicação, em especial nas revistas semanais, verificou-se uma acentuada queda nas vendas avulsas e nas assinaturas, o que  provocou a demissão de dezenas de jornalistas. A editora Abril já fechou algumas publicações e o seu principal  veículo, a revista “Veja”, dá sinais de que agoniza. A queda nas vendas, indicador de falta de credibilidade, implicará fatalmente também na queda da publicidade e algumas publicações serão, a médio prazo, obrigadas a encerrar suas atividades. E a Globo, dependendo do desfecho do processo de impeachment, corre o risco de perder a concessão da televisão.

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         A grande expectativa, porém, está relacionada com a anunciada prisão do ex-presidente Lula. Ninguém tem dúvidas de que o líder petista é o grande troféu desse circo armado para derrubar a presidenta Dilma Roussef, com a sua eliminação da vida pública para impedir o seu retorno à Presidência da República em 2018. Se, portanto, o golpe for consumado pelo Senado o próximo passo do grupo que tomou o poder de assalto será a prisão de Lula, com base numa justificativa forjada: o sitio de Atibaia e o apartamento do Guarujá. Como não encontraram nada melhor e mais consistente para acusa-lo, os seus perseguidores, mesmo conscientes de que tais imóveis não pertencem ao ex-presidente operário, o levarão para a cadeia assim mesmo, porque enfeixam  todos os poderes: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público, a Policia Federal e a imprensa. Por isso ele procurou a Justiça fora do país. Todos os preparativos para o bote em Lula já foram realizados, conforme, aliás, noticiado pelo jornal “O Globo”, um dos seus perseguidores. Mas em uma coisa todos concordam: se cometerem a injustiça e insensatez de prendê-lo estarão ateando fogo no barril de pólvora em que o país foi transformado. E a partir daí tudo pode acontecer.

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