O dia seguinte ao não-impeachment
O que faremos com as massas divididas? Um povo, legítimo, celebrando a vitória da democracia. Outro povo, também legítimo, sofrendo a decepção após terem sido manipulados pela grande mídia e pelos interesses hegemônicos de uma elite política e empresarial, com setores do judiciário ladeando contradições, a partir da derrota de um pleito viciado em sua gênese?
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Neste instante começo a me debruçar na esperança do dia seguinte à derrubada das teses dos insurgentes de araque (certos congressistas que operam um impeachment sem crime). Senão vejamos. O que faremos com as massas divididas? Um povo, legítimo, celebrando a vitória da democracia. Outro povo, também legítimo, sofrendo a decepção após terem sido manipulados pela grande mídia e pelos interesses hegemônicos de uma elite política e empresarial, com setores do judiciário ladeando contradições, a partir da derrota de um pleito viciado em sua gênese?
Haveremos de ter maturidade para secar a incoerência das lágrimas? Seremos sábios e ordeiros no acolhimento das pautas controversas? Qual estratégia dará conta de, consubstancialmente, reconstruir a partir dos cacos as relações interpessoais entre vizinhos e amigos que se dividiram na luta? Qual será o projeto que apoiará a unidade nacional e o resgate da autoestima do povo brasileiro, nesse caso, de todas as raças, cores e bandeiras? Que País restará para ser governado? Mais que isso: que legado ficará para nossos filhos e netos?
Construímo-nos estes dias com base na intolerância, na desarmonia, no desrespeito de convivência. Pessoas se agridem gratuitamente. Não podemos fechar os olhos para tudo isso. Qualquer projeto tem de ser sensível à reedição de uma nova narrativa civilizatória. Esse é o primeiro aspecto. O segundo é a capacidade de produzir assertivas estruturantes, cuja capilaridade e criatividade possam pacificar a política, reaquecer a economia e cuidar dos mais necessitados e de todos os demais.
Dilma Rousseff, Lula, Aécio Neves, Fernando Henrique, Marina Silva, Ciro Gomes, Michel Temer, Jaques Vagner e outros líderes contemporâneos terão, como nunca, de empreenderem um conteúdo unitário de valorização da força desse imenso Brasil. Independentemente de suas diferenças ideológicas, políticas, religiosas e civilizatórias, ou chamam à lucidez as mentes e corações brasileiros, ou sofreremos com as angústias do dia a dia: desemprego que cresce; inflação avançando; falta de investimentos integrais em educação, saúde e segurança; precarização da infraestrutura nacional etc. Deixo claro, porém, que isso não é obrigação somente de Dilma, da Presidenta do Brasil. É dever, sobretudo, de cada prefeito, de cada governador, dos senadores e deputados de todos os partidos políticos e, pasmem!, de cada brasileiro e brasileira.
Um parêntese fundamental: com uma crise internacional cada vez mais gritante, e com o risco da pressão de empresas estrangeiras para tomar de assalto nosso petróleo (o pré-sal), há que se ter, primeiro, pulso firme, segundo, bom senso e respeito ao conteúdo nacional, ao valor de nossas riquezas que não podem ser entregues (como quer o PL do José Serra), desprotegendo o País e relegando migalhas ao povo.
Ao Judiciário caberá o equilíbrio e a vigilância permanentes. As instituições, talvez bem mais fortes, deverão compor o conteúdo preservador como premissa da proteção da democracia e do Estado positivado, sobretudo, sentinelas à disposição isonômica dos direitos e garantias de todas as pessoas, desta nacionalidade e dos visitantes neste majestoso território pátrio.
Empresários voltarão a investir na produção que vai gerar empregos aos montes e receitas às cidades para devolver seus impostos às comunidades em transporte público de qualidade, saneamento básico integral e lazer e cultura espraiando a sensação de vitória, finalmente, de todos nós. E estes empresários investirão somente se o Aécio respeitar a Dilma, que respeitará a Oposição, que fará política limpa, sem a preocupação com seus umbigos esfolados pelas pressas postas. Isso, essa unidade nacional (respeitados os interesses políticos legítimos) valerá ao povo alegria devolvida, autoestima e certeza de que vale a pena lutar, vale a pena acreditar no gigante chamado Brasil.
É nisso que apego minha esperança e otimismo. É essa a espera que tenho ao dia seguinte do não-impeachment da Presidente Dilma. Seremos generosos conosco e com as futuras gerações que esperam de nós sobriedade e lucidez – e lhes daremos isso. Mas quantos de nós será capaz de refletir e lutar por esse novo dia? Eu estou à disposição. E Dilma? E Aécio?... e você?
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