O dia em que o mundo parou

"A queda dos índices do mercado no mundo e o avanço do Coronavírus fez com que se parasse um pouco com tudo para uma avaliação geral", aponta o cartunista Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)


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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia - Foi o dia em que acionaram o Circuit Breaker do mundo. A queda dos índices do mercado no mundo e o avanço do Coronavírus fez com que se parasse um pouco com tudo para uma avaliação geral. 

Começou nos bairros, depois passou para as cidades inteiras, as regiões e os países. Fronteiras bloqueadas, controle estreito de todas as pessoas, estações de trem, navios de cruzeiro e aeroportos fechados. Os voos entre os continentes foram suspensos, as pessoas aconselhadas a trabalhar de casa e o resto da população largada ao próprio destino já que não tinham nem como chegar aos empregos que ainda conseguiam manter. Os patrões, alguns obrigados por lei, outros espertos em burlar a lei, computavam a tragédia como fator justificado para demissões. Nada de novo, visto que a crise já havia deixado boa parte da população com o emprego ameaçado. Com a chegada do Coronavírus o que ainda não havia caído, caiu. 

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Mas o mundo começou a perceber que havia coisas boas. No Brasil todo o governo Bolsonaro ter ficado em quarentena causou uma sensação de alívio e bem estar há muito tempo não sentidos. A viagem aos Estados Unidos trouxe finalmente uma consequência boa. Outras coisas voltaram também aos hábitos das pessoas. A contemplação por exemplo. Como é importante. Na falta do que fazer as pessoas voltaram a contemplar. Contemplavam uma paisagem, um inseto na parede, uma criança brincando. Contemplavam as mudanças do dia, o sol da manhã, e o entardecer antes daquela chuvarada boa do início da noite. O ar ficou mais limpo. Com as indústrias paradas ou no mínimo do funcionamento a poluição diminuiu. No mundo todo o desconforto e as complicações que o vírus trazia era de uma certa forma compensado pelo novo bem estar causado pelo ar mais limpo.

Com a limitação da mobilidade as pessoas passaram a olhar mais para dentro ou, no máximo, para a pessoa mais próxima. Novas sensações surgiram desta redescoberta. Novos pontos erógenos foram acionados para compensar o risco dos beijos e dos apertos de mão. O cotovelo passou a ser uma zona não só propícia à famosa dor, mas ao prazer do contato. Os olhares adquiriram poder não só de despir como de revelar sentimentos profundos. Olhar no olho de alguém passou a ser uma maneira quase comum de interagir.

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Com o fechamento das igrejas e a proibição de aglomerações as pessoas passaram a pensar mais em si mesmas. Os pastores perderam seus trabalhos e os dízimos. A população pode investir um pouco do pouco que sobrava em benefício próprio. A internet ainda mandava e o tempo em casa fez com que as pessoas mergulhassem mais tempo diante da telinha. O computador ou o celular passaram a ser fontes importantes de informação e de recomendações sobretudo das autoridades sanitárias. O  Facebook continuou bombando, apesar das acusações contra o Zuckberg que revelavam o quanto ele tinha lucrado com a pandemia. Reuniões virtuais viraram moda apesar das ameaças constantes de vírus nos computadores das pessoas.

A política partidária abriu espaço para a politica comunitária, para as resoluções coletivas de prevenção e combate ao vírus. E funcionou. Sobreviver acabou sendo mais importante do que impor através de mentiras seus pontos de vista.

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A segurança, nem preciso dizer, melhorou demais. Com pouca gente na rua e isso era respeitado pelos cidadãos e pelos marginais, a sensação bucólica da harmonia era evidente. Tudo bem que eram poucas pessoas circulando, mas assim mesmo servia como indicação para o dia em que o futuro nos reservasse novamente o direito de circular em paz. Menos pressa, menos gente, menos aflição, menos estresse.

A polícia dos países aproveitou a pausa para repensar seus métodos.

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Os esportes sofreram bastante com os novos hábitos. Com o fim do público nos estádios os atletas passaram a dedicar mais tempo a outros interesses. A vaidade diminuiu, os agradecimentos a deus, também. Se dedicaram mais às suas famílias, à cultura e, naturalmente, à saúde.

Como ficou realmente difícil se locomover em qualquer parte do mundo as pessoas passaram a conhecer seus vizinhos. Troca de olhares pela janela e o velho hábito do telefone sem fio voltaram para melhorar em muito a relação entre vizinhos.

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Enquanto isso, na África, por conta até da proibição das viagens, muitos países continuavam a viver sem uma notificação sequer do Coronavírus. Nesses países os testes não foram feitos até por falta de recursos e a população que morria era computada como estatística normal de nascimentos e mortes.

Mas nem tudo foi tranquilo. O trabalho em boa parte foi dizimado. Empresas fecharam, a infraestrutura apesar dos esforços de alguns governos não foi suficiente para segurar o equilíbrio social dos países. Os serviços foram extintos e populações inteiras começaram a vagar pelas ruas das cidades em busca do que comer. Nos presídios as revoltas se multiplicaram e muitas fugas aconteceram.

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No momento em que  terminava esse texto as notícias eram de que conflitos começavam a surgir de forma violenta nas principais cidades do mundo e do Brasil.

As eleições municipais no Brasil continuam mantidas.

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