O dia em que Jô perdeu a paciência

O colunista do 247 Alex Solnik destaca como o lançamento um livro editado por ele criou uma situação que resultou em uma bronca do humorista e apresentador Jô Soares; apesar de estarem marcadas para o mesmo dia - uma no Programa do Jô e outra no de Hebe Camargo -. e de não serem conflitantes, as entrevistas agendadas para o mesmo dia irritaram o apresentador; "Que merda é essa que você fez comigo"!?" disse Jô em um telefonema; anos depois, durante uma outra entrevista na qual estava presente, Jô Soares o chamou para comentar como se nada tivesse acontecido; "Não sei se ele conta essa história em seu "Livro do Jô" volume 2 que está lançando por esses dias. Se não conta, está contado", brinca Solnik

O dia em que Jô perdeu a paciência
O dia em que Jô perdeu a paciência (Foto: Reprodução)


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No pré-histórico ano de 1990, quando o mais irresponsável e mais brilhante jornalista da sua geração, o hercúleo Tarso de Castro lutava contra uma insistente cirrose, que o afastava da segunda coisa de que mais gostava – o cachorro engarrafado - seu maior amigo de infância, Miguel Kozma decidiu editar um livro com suas melhores crônicas, apesar de não ser editor e sim um alto executivo do governo paulista.

Fundou uma editora – a Laser Press - só para isso. E, numa de nossas infindáveis bebedeiras no Rodeio me designou – irresponsável que era também - para editá-lo.

Recebi das mãos do Tarso um calhamaço de páginas datilografadas em laudas engorduradas, rabiscadas e amassadas e um pacote de recortes com crônicas antigas publicadas nos vários jornais em que escrevera. Organizei tudo, dei novos títulos e batizei de "Pai Solteiro e Outras Histórias".

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A maior parte dos textos narrava suas tentativas hilárias de cuidar sozinho do filho de 7 anos em meio às suas aventuras etílicas e amorosas. Outro grande amigo do Tarso, o Fortuna, fez a charge da capa: Tarso oferecendo um pirulito ao filho sentado em seu colo que faz cara de nojo. (Tarso não sabia, mas estava criando um dos futuros fundadores do Porta dos Fundos.)

Livro impresso, tratamos de preparar o lançamento. Telefonei para contatos meus e do Tarso. E constatei que alguns não eram solidários nem na cirrose.

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Marquei, afinal, duas entrevistas para o Tarso em São Paulo, uma na Hebe, ao vivo e outra no Jô, gravada, ambas no SBT.

Gravamos o Jô numa quinta-feira à tarde, rimos muito, ele e Tarso tinham trabalhado juntos no Pasquim, etc etc. E nos despedimos como bons amigos. O programa seria exibido na terça-feira.

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Domingo, estou em casa diante da TV. Eis que vejo a chamada do programa da Hebe do dia seguinte: Tarso de Castro, ao vivo, lançando seu livro de crônicas.

Alguns minutos depois, meu telefone toca.

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"Que merda é essa que você fez comigo"!? berra a voz do outro lado, que não me era estranha.

Era o Jô.

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"Merda? Que merda"?

"Eu entrevistei o Tarso primeiro e você deixa a Hebe me furar!? Marca a Hebe antes do meu programa ir ao ar! Que bosta de assessor de imprensa é você"?!

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Eu não era assessor, era amigo do Tarso, tentei me defender. O importante era divulgar o livro dele, a gente não sabia quanto tempo de vida ele tinha. Nem passava pela minha cabeça que o Jô morria de ciúmes da Hebe. Tentei acalmar a fera:

"Mas Jô: o teu programa é à meia noite, o dela é às 9 da noite. O teu é para notívagos, o dela é família. Ninguém fura ninguém. Vocês não concorrem".

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Ele não se acalmou, ao contrário:

"Eu só vou colocar a entrevista no ar porque sou amigo do Tarso, senão mandaria apagar já", continuou, em meio a uma saraivada de palavrões. "Nunca mais me telefone, nunca mais me peça nada, nunca mais recomende nada porque o que você recomendar eu vou fazer questão de vetar".

E bateu o telefone na minha cara.

No dia seguinte fomos ao famoso sofá da Hebe e tivemos uma surpresa: ela também convidara, sem avisar, uma das musas do Tarso, a estonteante Doris Giesse e seus grandes olhos azuis.

Depois do programa, eu, Tarso, Miguel, Doris e José Simão, que também estava no sofá da Hebe, fomos comemorar o encontro no Esplanada Grill.

Cinco anos depois, Doris, já então minha mulher – o que não teve nada a ver com a noitada no Esplanada Grill - recebe convite para dar uma entrevista no Jô.

Meio com o pé atrás, sem saber direito como seria a reação dele, lá fui eu com ela.

Sentei no auditório quietinho, tentando parecer invisível. De repente, durante a entrevista, ele resolve falar comigo, no ar. Pensei que viria alguma pedrada, mas não, ele foi muito educado e simpático. Nem parecia o Jô do telefonema politicamente incorreto. Ou esqueceu que eu era eu, ou esqueceu aquele episódio ou era o Jô da TV e não da vida real e o Jô da TV não é grosseiro nem chulo como o Jô da vida real foi comigo aquele dia.

Não sei se ele conta essa história em seu "Livro do Jô" volume 2 que está lançando por esses dias. Se não conta, está contado. Afinal, somos dois velhinhos agora – ele tem 80 e eu quase 70 – e só o que temos é um passado pela frente.

Um beijo pro gordo.

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