O Dia da Independência

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O cenário é o de uma reunião de imperadores, déspotas ditadores e até presidentes eleitos. Todos conversam alegremente num canto. Jair, nosso herói, deslocado puxa papo com um tipo vestido como imperador.

JAIR- Gostando da festa? Não entendo nada do que dizem. ( Estende a mão) Meu nome é Jair Bolsonaro e o seu?

D.PEDRO- Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

JAIR- Caraca, queria ter um nome assim. Ia tirar a maior chinfra. De onde vem isso tudo?

D.PEDRO- É que sou o Imperador do Brasil e Rei de Portugal e Algarves.

JAIR- ( Surpreso) Você então é o famoso Pedro? O do grito? O da espada? Adoro seu estilo.

PEDRO- Obrigado, mas o senhor quem seria? Nunca ouvi falar...

JAIR- Sou o rei, digo, o presidente do Brasil. Brasil acima de tudo e Deus acima de todos.

PEDRO- Amém.

JAIR- O senhor então que mandou os portugas pra casa, proclamou a independência e reinou geral?

PEDRO- Não foi bem assim. Me livrei da minha família que queria que eu voltasse para a terrinha. Mas os ingleses não largaram do meu pé. Passei poucas e boas. Tive até que aprender inglês.

JAIR- Sei como é isso. O Trump não larga do meu pé. Quer que meu filho seja embaixador de qualquer maneira.

PEDRO- Filhos, filhos. Eu deixei o meu aqui quando voltei pra Portugal, porque mais tarde tive que voltar, pois não? 

JAIR- Eu estou querendo arranjar um filé mignon pra um deles, esse que vai pra embaixada. Mas tem o 01 e o 02...

PEDRO- Nomes estranhos. Meus filhos se chamam Maria da Glória, Miguel, João Carlos, Januária, Paula, Francisca e Pedro de Alcântara.

JAIR- Chamar os filhos por números tá na moda. 01,02,03 e eu sou o 00.

PEDRO Eu tive que voltar pra Portugal. Já não era a primeira vez que pediam. Mas na primeira vez fiquei. Fiz um discurso da sacada e bradei

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”.

JAIR- Repito isso todos os dias. A frase diz tudo.

PEDRO- Mas depois não deu mais. Tive que ir-me. A confusão lá estava grande entre liberais e absolutistas.

JAIR- Eu torço pelos Absolutistas.

PEDRO- Eu lutei pelos liberais.

JAIR- De esquerda?

PEDRO- Esquerda? Não sei do que se trata. À margem esquerda do Ipiranga?

JAIR- Não, foi à margem direita!!! Eu vi. Eu ouvi falar. Eu praticamente estava lá segurando a sua espada, fazendo arminha com a mão. Sou um grande fã seu.

PEDRO- Mas foi complicado depois. Tive que combater duas guerras, enfrentar intrigas palacianas, corte de verbas, anseios democráticos, ora vejam!!

JAIR- Passo pelo mesmo. Não posso nem ser imperador em paz. Essa tal de democracia.

PEDRO- Deixa a gente doente. No fundo no fundo sou um liberal mas acabo tendo que tomar atitudes absolutistas para conter a massa ignara, os aproveitadores. Isso me deixa doente.

JAIR- Eu também. Vira e mexe tenho que me operar. A situação complica no país e eu fico doente na mesma hora.

PEDRO- Fiquei doente, passei o poder para a minha filha, meu irmão passou a perna nela, ficou no trono.

JAIR- Eu já aprendi. Vou me operar agora mas não vou passar o trono pro Mourão.

PEDRO- Os mouros são perigosos. Bobeou eles invadem. Já invadiram a Espanha, Portugal, Itália...

JAIR- Pior que o Mourão é o Moro. Ele tá se achando agora que as pesquisas deixaram ele numa boa. Mas quem acredita em pesquisa?

PEDRO- Também não sei do que se trata.

JAIR- A voz das ruas.

PEDRO- Sempre me incomodou. Dava um grito e mandava todos calarem a boca.

JAIR- Sonho com esse dia.

Os dois se abraçam e se despedem.

JAIR- Tenho que ir. Tenho um discurso a fazer.

Jair tenta se locomover com a cadeira de rodas.

JAIR- Com licença

Pedro se afasta e dá passagem.

PEDRO- Bom discurso e cuidado com a língua.

JAIR- Talkey!!

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