O desafio maior do Brasil: Lula ou Bolsonaro

"Há dois países, dois futuros possíveis, não nos enganemos. Há uma duríssima luta entre as duas alternativas. A luta entre a força e o convencimento, entre o militar e o político, entre os decretos e os argumentos, entre o líder militar e o líder político, entre o líder de milícia e o líder popular", escreve o sociólogo Emir Sader

(Foto: Ricardo Stuckert | Reuters)


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Quanto mais passa o tempo, mais surgem novos acontecimentos, fica ainda mais claro que a encruzilhada em que se encontra o Brasil se resume no: Lula ou Bolsonaro. Dois horizontes radicalmente contraditórios, que se impõem a todas as especulações sobre outros caminhos ou sobre o vão diletantismo de que o futuro está totalmente aberto.

Há dois países, dois futuros possíveis, não nos enganemos. Há uma duríssima luta entre as duas alternativas. A luta entre a força e o convencimento, entre o militar e o político, entre os decretos e os argumentos, entre o líder militar e o líder político, entre o líder de milícia e o líder popular.

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As eleições de 2002 tinham sido as mais importantes da vida política brasileira até agora. As elites políticas tradicionais foram derrotadas e abriu-se um período de governos populares como nunca o Brasil havia tido. Foi um enorme desafio para a esquerda, que se saiu muito bem, realizando os melhores governos da história do país. Só foram interrompidos quando se rompeu com a democracia, para voltar a impor uma vontade minoritária sobre a da maioria.

Voltamos a encarar agora um momento decisivo da nossa história, uma eleição que vai definir o futuro do país por um tempo mais longo. Uma eleição decisiva, em que a direita e a esquerda se enfrentam com seus dois maiores líderes, com dois projetos radicalmente antagônicos.

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A decisão de absolvição de Pazuello demonstra a força de um lado: que conta com o Exército – senão com as Forças Armadas - sob o argumento que Bolsonaro é a única possibilidade de impedir que o PT volte a governar o Brasil. A consequência mais grave dessa decisão não é, como muitos dizem, a anarquia militar. Não é a de que agora cada militar, de qualquer patente que seja, vai sair se pronunciando politicamente pelo Lula ou por qualquer outro candidato.

Não. O exército demonstrou, ao contrário, enorme capacidade de agir de forma unida, segundo suas hierarquias, de tolerar uma decisão que afeta diretamente a disciplina, mas que foi tomada justamente com o argumento que era a forma de manter unida a instituição.  O exército se comportou como um partido político, em que as divergências internas se subordinam a uma estratégia maior, em função da qual a instituição se reinsere na vida política numa perspectiva claramente golpista.

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Porque, quanto mais passa o tempo, vai se configurando, no outro campo político, a candidatura do Lula como a que representa a grande maioria do país, tanto da sua população, quanto das forças sociais e políticas. Seu favoritismo fica cada vez mais claro, não só pelo projeto que ele apresenta ao país e que congrega cada vez mais gente, como também pela incapacidade absoluta do Bolsonaro de agregar gente, de unir as forças do campo da própria direita. Pesquisas indicam uma possível vitória do Lula no primeiro turno e dificuldades muito grandes para o Bolsonaro recuperar os apoios que perdeu, tanto pela pandemia, quanto pela crise econômica e social e pelo seu estilo truculento de agir.

Bolsonaro conta com o argumento da necessidade do voto impresso como pretexto para questionar a vitória do Lula e conta com o exército para tentar impedir, pela força, com um golpe, essa vitória. Como enfrentar essa ameaça?

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Só com a força política e de massas, juntando todas as forças e personalidades democráticas, fazendo uma campanha eleitoral por todo o país, com o Lula na liderança, para conseguir uma vitória eleitoral arrasadora no primeiro turno. Foi assim que o MAS conseguiu superar os obstáculos, inclusive dos militares e das polícias dos distintos estados: vencendo de forma arrasadora no primeiro turno.

Somente uma vitória arrasadora do primeiro turno pode garantir a vitória da democracia, o retorno do Brasil a ser um país em que a vontade da maioria se imponha, em que o país volte a ser motivo de orgulho para os brasileiros e ser respeitado no mundo.

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Será possível impor esta via ou a via truculenta se imporá? É uma disputa aberta. Por um lado, a vontade da maioria, por outro, a força das armas e da truculência, que pode continuar contar com a complacência da mídia, do Judiciário, além do apoio do grande empresariado. (se sabe agora que os evangélicos não são suporte fundamental do Bolsonaro, estão divididos, até com maioria a favor do Lula).

Uma força política de massas tem também o poder de dividir o campo inimigo, demonstrando que desta vez, ao contrário do que julgavam que havia em 1964, vão ter que se enfrentar com a grande maioria do país, das suas forças políticas, das suas organizações sociais, das personalidades mais importantes do Brasil, do repúdio do mundo.

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Esse é o desafio maior do Brasil. O país sairá melhor ou pior das próximas eleições, com um futuro que será simplesmente a continuidade e o aprofundamento da catástrofe que sofre atualmente ou será de novo um país democrático, com crescimento econômico e geração de empregos, com convivência pacífica entre posições distintas, com consciência política de que a democracia volta para ser a forma normal de vida entre os brasileiros.

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