O desafio de pensar o Brasil
Tarefa difícil que Lula terá de encarar pela frente, com um Congresso hostil e sedento de benesses e vantagens, em troca de votos e apoio parlamentar
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Disse uma vez um antropólogo que o Brasil não era para pensadores amadores, era um país complexo. Muitas foram as dialéticas propostas para entender o país. Desde a Dialética da feijoada até a Dialética da malandragem ou a malandragem pragmática. O Brasil, que já foi a terra de Jeca Tatu, Macunaíma, Gérson e Pelé, nunca foi inteligível à luz da teoria da modernização a lá Max Weber, com sua ética protestante e o espírito do capitalismo.
Pensar o Brasil da perspectiva dionisíaca, da bioenergia da Africanidade, não da modernidade ocidental, fria e calculista, abstêmia e acumulador de bens. Afinal, que país é esse? Como diria Francelino Pereira.
O nosso país já foi descrito como um misto de Bélgica e Índia. Havia esperanças de que caminhasse para o lado da Bélgica e se afastasse da Índia. Curioso. A Índia se modernizou ao seu modo. E a Bélgica continuou sendo um pequeno país da União Europeia.
E nós, como ficamos? Há de se convir que a pandemia e a precarização do trabalho contribuíram muito para o Brasil aprofundar o seu fosso social e aumentar a miséria. É um país rico e integrado à globalização, mas com um enorme contingente de miseráveis e trabalhadores precários.
Além desse enorme passivo social, temos o descompasso da sua engenharia institucional, um modelo político que só acentua suas anomalias e perversões sociais.
O que fazer? Num país que faz propaganda do agronegócio enquanto milhões de pessoas passam fome e se busca criminalizar os movimentos sociais no Campo?
Dialética difícil essa.
Mudança de mentalidade, redesenho das instituições, redistribuição de renda e políticas de emprego, mais investimentos em educação, saúde, transporte, habitação, tudo isso conta. Mas como investir mais no acanhado desenho da âncora fiscal aprovada pelo Congresso que ameaça punir o governo com o aumento do gasto social e que garante o lucro dos especuladores de títulos da dívida pública?
Tarefa difícil que Lula terá de encarar pela frente, com um Congresso hostil e sedento de benesses e vantagens, em troca de votos e apoio parlamentar. O presidente nunca subestimou as dificuldades de governar em ambiente adverso. Tem prática de negociação. Mas está sentindo o peso da responsabilidade de cumprir suas promessas nesse ambiente fisiológico e pouco republicano.
Há também o trabalho de contra hegemonia da mídia, desconstruindo a imagem do governo. A Record, a Gazeta, o SBT, a Band e a Rede Globo vêm contribuindo para este trabalho de sapa. Infelizmente as alianças e a herança bolsonarista ajudam muito nesse quesito. Muito fogo para apagar e pouco espaço para divulgar as boas iniciativas.
Cinco meses de governo dão para avaliar os passos dessa dialética complicada e difícil. Oxalá, o lado mais positivo da gestão se sobreponha às denúncias e escândalos oriundos dos remanescentes do governo anterior e que Lula imprima sua marca definitiva ao país.
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