O CRU e o COZIDO
A depressão não mata, mas faz o cabra se matar. O depressivo deve, sempre, procurar ajuda. O amigo e o familiar têm o dever moral de lhe dar suporte. A depressão pegou Bourdain, em seguida veio o suicídio
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
a depressão não mata, mas faz o cabra se matar.
o depressivo deve, sempre, procurar ajuda.
o amigo e o familiar têm o dever moral de lhe dar suporte.
a depressão pegou Anthony Bourdain, aos 61 anos, em seguida veio o suicídio.
ele tinha um histórico de complicações com o abuso de drogas.
dito isso, digo mais.
Bourdain diferia completamente de seus colegas de métier enfeitiçados pela televisão: pouco cultos, deslumbrados e exibicionistas.
à maneira do estruturalista Lévi-Straus, autor do seminal O Cru e o Cozido, Bourdain usou a gastronomia como um hipermediador.
era de cultura que ele falava quando falava de culinária.
você bem o sabe, nenhuma troca foi mais significativa para estabelecer contato entre culturas do que a troca de alimentos.
e é aí que ocorrem as trocas simbólicas, lembremos aqui de Bourdieu.
você sabe muito bem o que quer dizer "aqueles ianques comedores de hambúrguer".
e conhece o valor simbólico de uma comida colorida à mesa, regada a um bom vinho e a uma boa companhia.
o cara que diz ter nojo de comer um gafanhoto assado na Tailândia é o mesmo que come com prazer uma lesma (escargot) na França.
a brasilidade é, sobretudo, a junção de pratos de três continentes e nada africaniza mais a Bahia que o acarajé.
o mineiro é o cara do pão de queijo e do cafezinho, o gaúcho é o chimarrão e o churrasco.
foi em busca de especiarias que se "descobriu" o novo mundo. a culinária é uma produção cultural simbólica e um canal aberto de comunicação.
você é o que você come porque o alimento produzido na sua cultura está carregado de sentido identitário. sociedades que conviveram com a escassez por longos períodos formataram um padrão alimentar único, aproveitando-se, de forma criativa, do que dispunha.
por isso tem gente espetando insetos na brasa ou comendo comida crua.
antes de se entregar a seus verdugos, Jesus comeu com seus discípulos, foi à mesa que ele revelou a grande trama.
foi com alimento que ele produziu milagres e com alimento fez parábolas.
ele era à beira do fogão à lenha que a vovó transmitia valores culturais, no bate papo temperado e defumado.
a cozinha preserva a memória de um povo, seu ethos, sua trajetória histórica, sincrônica e diacrônica.
Anthony sabia de tudo isso, como um excelente storyteller ele permitiu com que todos viajassem em suas viagens.
ao contrário do viajante sélfico que viaja para tirar fotos de edifícios e pontes, Bourdain sentava-se à mesa e sentia o sabor e o saber da gente que visitava.
Bourdain, ao se permitir sentar em cantinas e biroscas, tendas e salões, chairs e tamboretes, vivenciava uma experiência quase etnográfica.
ele estava em busca da alteridade.
os chefetes de hoje só estão interessados em exibir autoridade.
fará falta!
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247