O 'centrão' não é solução

O "centrão" não é solução. A esquerda precisaria retomar a iniciativa e encontrar na sua unidade e na mobilização dos movimentos populares e sindicais os caminhos para organizar a real oposição política e social ao governo de extrema direita. Praticar uma política de alianças amplas, sem a ilusão de que o protagonismo do centrão e caciques como Maia e Alcolumbre a levará a algum lugar, argumenta José Reinaldo Carvalho, do Jornalistas pela Democracia

O 'centrão' não é solução
O 'centrão' não é solução (Foto: J. Batista / Câmara dos Deputados)


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247, por José Reinaldo Carvalho, para Jornalistas pela Democracia - O mais agudo analista sobre a conjuntura nacional jamais imaginaria que com pouco mais de cem dias de instalado, o governo de extrema direita, eleito com a pretensão de possuir respaldo popular e apoio político vasto e sólido, entraria em crise e patinasse na aprovação de qualquer medida no Parlamento.

Muitos supunham que a aprovação das reformas ocorreria a toque de caixa, sobretudo a da Previdência, unanimidade entre as classes dominantes e suas representações no mercado, na mídia e no parlamento, tanto entre caciques da "nova" como da "velha" políticas.

A ida triunfante de Bolsonaro à sala do presidente da Câmara parecia um sinal de que afinal o consenso político se estabelecera de uma vez por todas no planalto central e o país se preparava para "poupar" a mágica cifra de "um trilhão", fixada por Paulo Guedes, e com isto acabar de uma vez por todas o inferno fiscal em que arde a economia do país há décadas. O "consenso" político seria, assim, a chave que abriria as portas à prosperidade do investimento externo em profusão, do crescimento continuado, da geração de empregos, do aumento da renda nacional.

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Mas como na vida política real os consensos, em determinadas circunstâncias, só aparecem depois dos conflitos, logo se viu que era uma chave de palha. O governo sequer consegue ultrapassar , por enquanto, a primeira etapa da tramitação da PEC da reforma da Previdência - a admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

O governo Bolsonaro, como pináculo das forças de extrema direita, recolheu o consenso das classes dominantes e suas representações políticas apenas como instrumento para afastar do poder as forças de esquerda e centro-esquerda que buscavam pôr o Brasil na trilha do exercício da soberania nacional, da democracia e do progresso social.

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Mas o programa político, econômico e social de Bolsonaro pode ser muito bem e melhor aplicado, naquilo que tem de essencial, pelas forças políticas de direita e centro-direita que sempre governaram o Brasil ao longo de quase toda a vida republicana brasileira, que em novembro  completa 130 anos.

As representações políticas das classes dominantes julgam poder prescindir no governo e na maioria parlamentar de um clã analfabeto e furibundo, de fundamentalistas neopentecostais, de isolacionistas ultramontanos, de um populista tosco, de filósofos de fancaria, para pôr em marcha agendas e programas de opressão do povo e alienação da economia nacional aos interesses do capital monopolista financeiro.

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Essas representações políticas têm o savoir-faire no exercício de sua atividade e não consentem ser tratadas com moeda diferente da que julgam merecer.

É nesta base que funciona o famigerado e mal denominado "centrão". É assim que pensam e atuam caciques como os presidentes da Câmara e do Senado. A reforma da Previdência sairá, desde que os interesses desse setor - seja "novo" ou "antigo" da política sejam contemplados.

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Apoie o projeto Jornalistas pela Democracia - O país está num grave impasse, sendo o governo Bolsonaro e suas trapalhadas o principal  reflexo disto. As representações políticas das classes dominantes saberão tirar proveito da situação, vão negociar, e encontrar as soluções políticas, como sempre fizeram. Se não o fizerem é porque a situação terá chegado a um grau extremo e os poderes reais julgarem que está na hora de impor a agenda neoliberal e antipopular por outros meios, ou seja, a instauração da ditadura aberta.

Por isso, se instrumentalmente pode ser útil valer-se de manobras regimentais com o auxílio do "centrão" para atrapalhar os planos da camarilha bolsonarista, por outro lado é preciso acautelar-se, pois o que o centrão está negociando mesmo não é o impedimento da reforma da Previdência, e sim prebendas, cargos, influência, poder. E a manutenção do status-quo "republicano" sob sua batuta. O "centrão" não é solução.

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A esquerda precisaria retomar a iniciativa e encontrar na sua unidade e na mobilização dos movimentos populares e sindicais os caminhos para organizar a real oposição política e social ao governo de extrema direita. Praticar uma política de alianças amplas, sem a ilusão de que o protagonismo do centrão e caciques como Maia e Alcolumbre a levará a algum lugar.

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