O cavalo e o Cavalão
"Quando dois cavalos, em vez de puxarem a carroça para a frente, decidem sair, em disparada, cada um para um lado, é evidente que ela não vai sair do lugar, por mais que o cavalo se apegue à ciência e o Cavalão à religião", afirma o jornalista Alex Solnik
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Já deu para perceber que todas as tentativas e promessas de união e alinhamento entre o presidente da República e o ministro da Saúde foram por água abaixo e que não há nenhuma possibilidade nem esperança de que ambos rezem pela mesma cartilha.
Não se trata apenas de um embate entre a religião e a ciência, entre a sanidade e insanidade, entre o Bem e o Mal, mas de divergência intransponível de pontos de vista políticos, de duas paralelas que jamais vão convergir para um ponto comum.
É fácil verificar quem é o intolerante e quem é o ponderado, quem é o alucinado e quem é o sensato, quem é o lúcido e quem é o delirante; o problema é que é totalmente impossível seguirmos vivendo nessa esquizofrenia de dois governos no Planalto: o governo Bolsonaro e o governo Mandetta.
E que, mais do que não se entenderem, nitidamente provocam um ao outro, o que só resulta no aumento da insegurança e da incerteza dos brasileiros, que ficam em dúvida se devem obedecer à orientação desse ou daquele.
A situação se agravou dramaticamente nos últimos dias, com a radicalização insana do presidente que, reconhecendo não ter condições de impor suas decisões por meio de uma canetada, manda mensagens explícitas aos seus cada vez menos numerosos seguidores, que saíram ontem às ruas, em São Paulo, para pressionar o governador João Doria a aderir ao afrouxamento da quarentena praticada em 99% dos países e explicitamente recomendada pela Organização Mundial da Saúde que, no entanto, não tem poder coercitivo para impor, limitando-se a recomendar.
Quando dois cavalos, em vez de puxarem a carroça para a frente, decidem sair, em disparada, cada um para um lado, é evidente que ela não vai sair do lugar, por mais que o cavalo se apegue à ciência e o Cavalão à religião.
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