O carnaval fora de época da monarquia britânica

Olhando a cena, fiquei esperando o Neguinho da Beija-Flor aparecer gritando “olha o Charles aí, gente”, ou o Bel Marques pedindo à monarquia tirar o pé do chão

(Foto: Reuters)


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 Só eu acho patético que ainda se coroe reis e rainhas em pleno século 21? Justamente quando a nossa sociedade passa por um momento de desconstrução de alguns “valores” que nunca deveriam ter sido adotados como padrões, e de alguns padrões que nunca deveriam ter sido considerados como valores, vimos a Inglaterra exibir para o mundo a cerimônia de coroação do rei Charles III, sob um misto de circo medieval, desfile de escola de samba e funeral de um parente rico que não se dava bem com a família. Uma cafonice real para inglês ver.

 Vamos começar pelas fotos oficiais da família real, após a coroa já estar cravada na cabeça do novo rei. E que coroa ridícula! A do rei Momo do carnaval carioca é mais fashion. Olhando para a imagem, fiquei com a impressão de que as servas aposentadas do Inri Cristo tinham sido recrutadas para a ordem dos cavaleiros templários. A foto da família Adams é bem menos assustadora. Sem contar o fato de o príncipe Harry e sua esposa plebeia Meghan, além do príncipe Andrew, que perdeu o título de duque de York por ser um real abusador de menores, não estarem presentes na foto para não queimarem o filme da realeza.

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 A foto do rei sentado em seu trono, remete à de um Papa da idade média trajando um look desenhado pelo saudoso Joãozinho Trinta para um destaque do seu abre-alas. O desfile da carruagem real parece ter ficado aos cuidados do figurinista do rei Arthur e do organizador da parada de sete de setembro do governo Bolsonaro. Dava para jurar que era o Nelson Piquet quem guiava a charrete. Destaque para os pobres cavalos que tiveram suas crinas enfeitadas com tranças full laces azuis, que se destacavam entre cabrestos cintilantes e rédeas douradas. Para desespero dos jurados do quesito fantasia.

 Olhando a cena pela televisão, fiquei esperando o Neguinho da Beija-Flor aparecer gritando: “Olha o Charles aí, gente!” ou o Bel Marques pedindo para a monarquia tirar o pé do chão.  Porém, a julgar pela idade da maioria dos membros da realeza, pedir para que eles tirassem o pé do chão seria o mesmo que convidá-los para a festa da rainha Elizabeth em outro plano. Já a ala mais jovem da agremiação monarca, trouxe Catherine fantasiada como uma princesa da Disney, e o seu marido, o príncipe William, encarnando um cavaleiro da távola redonda. Confesso que temi ver as crianças da família real vestidas como os 7 anões e a rainha Camilla como a Branca de Neve. Mas ela foi de Hebe Camargo mesmo. Gracinha!

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 A igreja anglicana também teve papel de destaque no desfile. Teve coral gospel, leitura do evangelho, unção com óleo sagrado feito à base de especiarias vindas de Jerusalém e o tradicional grito de “Deus salve o rei!”, dado pelo arcebispo da Cantuária após a coroa de Santo Eduardo ter sido posta na cabeça do príncipe herdeiro. Aliás, a última cabeça que hospedou a tal coroa foi a da Rainha Elizabeth, que a herdou em 1953. Se nessa coroa estiver contido o segredo da longevidade, o reinado de Charles só acaba depois do apocalipse. Outro momento importante do desfile carnavalesco real, foi a coroação de dona Camilla como rainha consorte.

 Quando o guardião da casa das joias foi chamado para entregar o anel à esposa do rei, eu tomei um susto. Imaginei que o Coronel Mauro Cid também tivesse sido convidado para o evento. Daí me lembrei que ele estava preso. Bem que ele poderia ter assistido à coroação de Charles como parte da pena. O cetro de ouro carregado pelo novo rei também teve grande destaque. Mesmo fazendo com que a imagem de Charles alternasse entre a de São Nicolau e o mestre dos magos, a peça que contém um crucifixo e carrega o sobrenome de “soberano”, é uma das mais valiosas joias da coroa inglesa. Uma joia que Michele Bolsonaro adoraria receber e não ter que devolver.

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Em suma, a cerimônia de coroação de Charles III só não foi mais vergonhosa do que a cobertura do evento feita pela mídia tradicional brasileira, que parecia mais empolgada com a festa do que boa parte dos britânicos, que já não suportam mais ouvir falar em monarquia. Uma prova de que a essência colonizadora, escravocrata e classista, está impregnada em boa parte do tecido social brasileiro. Que Deus nos salve dos reis e das rainhas!

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