O cardeal e o topless

Na ditadura, Dom Helder foi ativista pelos direitos humanos, e fichado no DOPS/PE. Foi um dos bispos que abriram as portas da Igreja aos perseguidos políticos

Dom Helder Câmara
Dom Helder Câmara (Foto: Divulgação)


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Para alguns o topless é exibicionismo, provocação aos machos ressentidos. Para outros ou outras, topless são os peitos livres ao sol, na intimidade descontraída de praia. 

As feministas assumem o próprio corpo, no movimento organizado e na individualidade íntima. Expuseram-se como mulheres livres com os peitos de fora e fizeram o protesto da ‘queima dos sutiãs’ no Bra-Burning em 1968, na Atlantic City, Estados Unidos.

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O biquini aparecera em 1946, as minissaias vieram na época do golpe militar de 1964. Os cabeludos protestavam. O Jesus medieval, formoso, tornara-se um ‘desdentado em terra de banguelas’ – grupo Titãs. Maria é invocada por Milton Nascimento como “força, raça, gana e sonho sempre”, ou, Maria não é mais personagem passiva dos contos de fadas, nem troféu dos machos de cavernas, mas senhora de seus desejos, vontades, sonhos, amores e profissão. Da Mulher real Rita Lee já o disse – elas, todo o mês, sangram. Nem sempre pela menstruação, mas pelas brutalidades machistas.

Um repórter foi perguntar ao cardeal... o que o senhor acha do topless?

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No Brasil da ditadura militar, Dom Helder foi um ativista pelos direitos humanos, e fichado no DOPS/PE sob nº 16.906. Foi um dos bispos que abriram as portas da Igreja aos perseguidos políticos.

Homem franzino, de largo sorriso e inteligência, respeitado e conhecido internacionalmente, ameaçavam-no e atacavam seus auxiliares próximos, e mataram o padre Antônio H. Pereira Neto, para o intimidar. Temiam chegar a ele pela sua honorabilidade internacional. Era ameaçado anonimamente pelo telefone, ele ria. Numa dessas vezes, a ameaça fonada era como ele queria morrer. Dom Hélder respondeu que, se pudesse escolher, queria ser esquartejado e ter seus restos mortais jogados em várias partes de suas amadas Recife e Olinda.

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Já idoso, em seus passeios matinais pela Recife, era acompanhado por uma freira. Afável, vestia numa batina branca e, no peito, um crucifixo maior que ele mesmo. Espalhava sorrisos. Os pobres vinham e recebiam moedas dele. Numa destas vezes o pobre veio por duas vezes a Dom Helder, sabendo que receberia, mas a freira repreendeu o pedinte. O bispo deu as moedas mesmo assim, rindo, pela segunda vez e talvez por outras tantas e, ainda, protestou com a freira em que, “pobre, ora, não pode nem mentir!”. Por certo, o pobre carente mentiu por sua precisão e, a bem da verdade, quase todos mentem em seus interesses. O pobre é oprimido pela moral do rico, que não precisa comprovar a própria mentira e bate no peito a honestidade que prega.

Achavam imoralidade moças e senhoras mostrarem os peitos nas praias, mesmo num país campeão na produção de grãos e de famintos. O bispo, por fim, respondeu ao repórter o que achava do topless:

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 - Meu filho, eu estou preocupado com quem não tem roupa pra vestir! Mas quem as tem e quer tirar eu não me importo não. 

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