O capítulo final da epopeia de Lula
"Uma boa metáfora para a missão de Lula é a dos 12 Trabalhos de Hércules", escreve
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Os livros de história preparam a inclusão de personagem que irá figurar como patrono de uma nação que, antes dele, só teve governantes que, apesar de alguns terem sido bem-intencionados, foram todos incapazes de enxergar a dimensão do drama social brasileiro e de agir com sucesso contra ele.
A obra humanitária e administrativa de Lula, em seus governos anteriores, as superações épicas de sua origem humilde, do preconceito contra ela e a incrível vitória sobre uma das maiores conspirações que essa conturbada nação assistiu já fazem jus a serem inscritos nos anais da história. Todavia, o último capítulo certamente será o mais emocionante.
O desafio de Lula no quadriênio 2023 - 2026 é o maior porque ele enfrentará, desta feita, situação muito mais difícil que nos períodos posteriores às eleições de 2002 e 2006.
Comecemos pelo Congresso com o qual terá que lidar em mais um Capítulo épico da sua trajetória. Basta começar lembrando como, em fevereiro de 2003, o então deputado pelo PT de São Paulo João Paulo Cunha era o único concorrente à Presidência da Câmara dos Deputados no biênio 2003-2004. No Senado, o único candidato a presidi-lo foi o ex-presidente José Sarney, eterno aliado de Lula.
A hoje disputadíssima Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara nem teve disputa. Foi facilmente eleito o petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). E a comissão equivalente no Senado foi para outro aliado histórico de Lula e Sarney: Edison Lobão, do PMDB do Maranhão.
Exatos 20 anos depois, a configuração do Congresso não é nada fácil. Na Câmara, 13 partidos sobreviveram à cláusula de barreira: PL (com 99 deputados), a federação PT-PV-PCdoB (com 81 no total), União Brasil (59), PP (47), MDB e PSD (42 cada), Republicanos (40), PSDB-Cidadania (18), PDT (17), PSB (14), Psol-Rede (14), Podemos (12) e Avante (7). No Senado, apesar de ainda haver negociações para mudanças de siglas dos eleitos, a situação é a seguinte: PSD (com 15 senadores), PL (14), MDB e União Brasil (10 cada), PT (8), PP (6), Podemos (5), PSDB, PDT e Republicanos (3 cada), PSB (2), PSC (1) e Rede (1).
Ou seja, para ter maioria suficiente para mudanças na Constituição, o PT terá que negociar com partidos inconfiáveis como União Brasil, MDB, PSD e Avante. E terá uma oposição vitaminada com PL, PP, Republicanos, PSDB-Cidadania e Podemos. Só na Câmara, oposicionistas francos somam 224 deputados; no Senado, 31 senadores.
Mas não é só. No dia em que escrevo, pesquisa do Forum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 40% dos policiais do Brasil apoiam a causa dos golpistas de 8 de janeiro. No domingo, a imprensa informou que militares da ativa seguem dando declarações golpistas. No sábado, a informação de que o general Arruda, demitido por Lula do comando do Exército, conspira contra ele junto ao Alto Comando das Três Forças.
Na economia, no social, no mercado de trabalho, na Cultura, na Educação, terra arrasada e escassez de recursos.
Ufa! Uma boa metáfora para a missão de Lula é a dos 12 Trabalhos de Hércules. Contido o Leão da Nemeia (os militares golpistas e em pé-de-guerra), agora Lula terá que conter a serpente-dragão de 9 cabeças, a Hidra de Lerna, todos controlados pelo Touro de Creta, fugidio em seu exílio-labiríntico.
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