O capitalismo engole a democracia

No nível da global economia política, imaginem por um momento que as nossas moedas nacionais tenham uma taxa de câmbio livre flutuante, com uma moeda universal, global, digital, uma que seja emitida pelo Fundo Monetário Internacional, o G-20, em nome de toda a humanidade

Real-Moeda Nacional
Real-Moeda Nacional (Foto: Marcello Casal Jr/ABR)


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Em 2015, o ex-ministro da Economia da Grécia já dizia que o poder econômico já havia se apropriado da esfera política

Yanus Varoufakis ficou conhecido recentemente por ter sido o ministro das finanças da Grécia em 2015 no governo de esquerda liberado pelo partido Syriza. Na época participou das negociações para resolução da impagável dívida grega que fez o país entrar numa profunda crise de liquidez.

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Varoufakis é formado em Matemática e Estatística, tendo doutorado em Economia, na Universidade de Essex, concluído em 1987. Em 1988, passou um ano como pesquisador  na Universidade de Cambridge. Foi professor de Economia na Universidade de Sydney entre 1988 e 2000. Em seguida foi nomeado para a Universidade de Atenas. A partir de 2013, também lecionou na Universidade do Texas, em Austin .

Em 2010 ele fundou, com o artista Danae Stratou, a organização sem fins lucrativos Vital Space. A partir de 2012, trabalhou para a Valve Corporation, inicialmente como economista da empresa, em seguida, como consultor. Tem um blog com os resultados de sua pesquisa.

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Desde o início da crise global e do euro em 2008, Varoufákis tem sido um participante ativo nos debates sobre esses eventos. Juntamente com os economistas Stuart Holland e James K. Galbraith, ele é o autor de uma proposta modesta para resolver a crise do euro.

Em palestra realizada em dezembro de 2015 no ‘TED.com’, o economista grego faz uma previsão, afirmando que o capitalismo vai engolir a democracia. O economista grego que se considera um marxista libertário faz uma análise de como o poder econômico e corporativo se apropriou da esfera política em todos os sentidos, criando assim uma situação que pode significa o fim da chamada democracia liberal.

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“A esfera econômica está colonizando a esfera política, devorando o seu poder” — alertou.

Yanus Varoufakis afirma que o poder corporativo está aumentando em demasia sua influência, e que isso faz com que os bens políticos se desvalorizem, o que acarreta no crescimento da desigualdade social.

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Na palestra, o ex-ministro grego das finanças faz uma analogia bem interessante, usando dois sucessos do chamado cinema ficção cientifica para descrever dois cenários futuros da sociedade: a distopia de Matrix a partir de sua “hiperautocracia”, em que temos um poder absoluto que governa com a prática de uma vigilância desvairada sobre as pessoas, com um controle total sobre suas vidas e consumo.

A outra possibilidade, mais otimista, seria com um cenário construído sob a ótica de Star Trek, em que as máquinas servem incondicionalmente aos humanos, em um ambiente em que os próprios humanos gastam suas energias e recursos no universo e entregando-se aos longos debates sobre o sentido da vida, da mesma forma que se fazia na Grécia antiga, em uma “ágora tecnológica” — abrindo o portal do oráculo e o caminho a ser seguido em um futuro bem próximo.

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Mas voltando ao presente, Varoufakis diz que atualmente o capitalismo está operando um processo contra os trabalhadores de baixa qualificação, colocados como um grande problema pelo sistema, como ocorre agora no Brasil sob o governo Bolsonaro que implementa retirada de direitos como na MP 881.

“Existe uma solução: eliminar os trabalhadores pobres. O capitalismo está fazendo isso ao substituir trabalhadores de baixa renda com autômatos, androides e robôs. O problema é que, enquanto a esfera econômica e política estão separadas, a automação torna os picos gêmeos mais altos, o desperdício mais elevado e os conflitos sociais mais profundos, incluindo, em breve, eu acredito, lugares como a China” — criticou o grego, ao dizer que a China repete o processo de desenvolvimento da Grã-Bretanha do Séc.19, na transição para a segunda fase da Revolução Industrial.

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Um futuro imaginário e possível

De forma bem simples, Yanus Varoufakis descreveu uma proposta que leva em consideração a ênfase num mundo libertário e democrático que criaria novamente uma esfera político-econômica reunificada.

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“No nível empresarial, imaginem um mercado de capitais, no qual se ganha o capital com o trabalho, e no qual o seu capital segue você de um emprego a outro, de uma empresa a outra, e a empresa, qualquer uma que você esteja trabalhando em naquele momento, é de propriedade exclusiva daqueles que trabalham nela naquele momento. Então, toda a renda decorre do capital, dos lucros, e o próprio conceito do salário torna-se obsoleto. Não há separação entre proprietários, mas que não trabalham na empresa, e aqueles que trabalham, mas não são proprietários da empresa; não há mais o cabo de guerra entre capital e trabalho; nenhuma grande lacuna entre investimento e poupança; na verdade, nenhum pico duplo elevado.

No nível da global economia política, imaginem por um momento que as nossas moedas nacionais tenham uma taxa de câmbio livre flutuante, com uma moeda universal, global, digital, uma que seja emitida pelo Fundo Monetário Internacional, o G-20, em nome de toda a humanidade. E imaginem mais, que todo o comércio internacional seja denominado nessa moeda, vamos chamá-la de “o cosmos”, em unidades de cosmos, com todos os governos concordando em investir em um fundo comum uma soma de unidades cosmos proporcional ao déficit comercial do país, ou mesmo ao superávit comercial de um país. E imaginem que esse fundo seja utilizado para investir em tecnologias verdes, especialmente em partes do mundo nas quais o financiamento de investimentos é escasso.

Para Yanus Varoufakis essa não é uma ideia nova. “É o que, efetivamente, John Maynard Keynes propôs, em 1944, na Conferência de Bretton Woods. O problema é que naquela época, eles não tinham a tecnologia para implementá-la. Agora nós temos, especialmente no contexto de uma esfera político-econômica reunificada” — disse na palestra

Na sequencia ele pergunta: “O mundo que estou descrevendo a vocês é, simultaneamente, libertário, na medida em que prioriza indivíduos com poderes, marxista, uma vez que terá confinado para a lata de lixo da história a divisão entre capital e trabalho, e a keynesiana, keynesiana global. Mas acima de tudo, é um mundo no qual seremos capazes de imaginar uma democracia autêntica. Será que tal mundo surgirá? Ou devemos nos rebaixar a uma distopia tipo Matrix? A resposta reside na escolha política que deve ser tomada coletivamente. É nossa escolha, e é melhor fazê-lo democraticamente” — concluiu.

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