O Capitalismo como pandemia mundial

A ausência de políticas públicas de corte universalista e inclusivo só pode representar a nossa versão tupiniquim da eliminação em massa dos pobres, velhos e doentes. Uma variante do darwinismo social cruel, empregado como política de Estado

(Foto: Cecília Bastos/Usp Imagem | Reprodução)


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Foi Michel Foucault, ainda em sua fase da teoria disciplinar do Poder, quem introduziu a noção de “biopoder” e “biopolítica”. Depois da analítica do sujeito, brevemente festejada por aqueles que nunca aceitaram pacificamente o rótulo de “estruturalista” pespegado em seu mestre, seguiu-se a última etapa do pensamento foucaultiano que trata explicitamente dessa nova modalidade de poder e de política chamada “biopolitica (em defesa da sociedade). Aqui, o filósofo francês assume claramente a herança nietzschiana das relações de poder na natureza e sua universalização no mundo humano e extra-humano. 

Para Foucault “o biopoder” e a “biopolítica” estão associados ao neoliberalismo, como estratégia de uma faxina ou limpeza étnica ou social, através de políticas públicas voltadas para eliminação desses contingentes  humanos “ que não têm mais lugar na História”, segundo a judiciosa observação do professor Luciano Oliveira (“neofascismo, neomiséria”).  

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Quem seriam os “neomiseráveis” de nossa época! - Os pobres, doentes, desempregados, idosos, ou seja, aqueles indivíduos que não podem comprar, vender, emprestar, consumir, etc -. Esta massa “imprestável” para o mercado, o capital, que só representa despesas, não lucros (este é o significado da âncora fiscal). E aqui é onde entra a tese da necropolítica, que se vale do argumento de Foucault, para dizer que vem ocorrendo um extermínio deliberado de pessoas, seja em países pobres ou entre os pobres de alguns países, no sentido de uma limpeza não só étnica, mas também social. 

Como entender, assim, a disseminação de determinadas doenças em países populosos ou pobres, onde parece que teríamos um excelente demográfico à disposição dessas calamidades sociais! Existem na literatura muitos indícios de guerras químicas, bacteriológicas que dizimam as populações, ao tempo que fazem a alegria dos grandes laboratórios farmacêuticos do mundo. Foi assim com o aparecimento da Aids no continente africano: agora com o coronavírus na China. 

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É como se a pandemia se inserisse numa guerra econômica pela hegemonia do planeta entre as grandes potências. Uma catástrofe humana como essas, numa população de 2 bilhões de habitantes, poderia representar uma dura baixa nesse conflito bélico disfarçado de morbidez bacteriológica. 

E o Brasil, como fica nesse ensaio de necropolítica mundial? A situação brasileira é mais complicada em razão das políticas ultra -liberais postas em prática pela sandice do atual governo brasileiro. O corte sistemático do financiamento público à saúde, a educação, a assistência social se soma a um cenário de crescimento quase zero, produzindo um aumento exponencial de desempregados, famintos, doentes, desabrigados e idosos em situação de extrema pobreza.

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O Brasil se insere nessa pandemia universal como um sério candidato a ser um laboratório em grande escala das políticas exterminatórias dessa guerra planetária entre potências econômicas. A ausência de políticas públicas de corte universalista e inclusivo só pode representar a nossa versão tupiniquim da eliminação em massa dos pobres, velhos e doentes.

Uma variante do darwinismo social cruel, empregado como política de Estado, por uma elite cínica e cosmopolita sem nenhum compromisso com o povo brasileiro. Dessa vez, auxiliado pela pregação de igrejas que vão transferir o ônus da doença, da miséria e da morte para as vítimas, como uma punição moral.

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