O caminho do Brasil
"Precisamos da vontade política que o governo atual não dispõe, pois, acima de tudo, lhe falta capacidade", escreve Vivaldo Barbosa
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Por Vivaldo Barbosa
A Rússia tem demonstrado poderio e capacidade bélica baseada em alta tecnologia que tem assombrado o mundo. Mesmo que se considere guerra uma coisa deplorável e invasão de outro país inaceitável. As armas utilizadas representam desenvolvimento de tecnologia elevada e os meios de transporte, por misseis, aviões e outros apetrechos, tanques e caminhões sofisticados contêm geração avançada das últimas tecnologias.
Tudo isto aconteceu em meio a severo bloqueio dos Estados unidos e países europeus há mais de década.
Agora, em meio ao bloqueio atual, mais severo ainda, a Rússia está a desafiar a própria moeda em que os Estados Unidos sustentaram seu Império por praticamente um século, o dólar. Os russos reagiram ao bloqueio das suas reservas em moeda estrangeira, em grande volume, exigindo pagamento em sua moeda própria, o rublo, o que recompôs o valor intrínseco desta moeda, mantendo sua estabilidade monetária. E mais: estão procurando criar moedas digitais que se baseiem na riqueza real, e não nas riquezas derivativas fabricadas pelos domínios dos mercados, nas bolsas, transações impostas, dependências criadas, pelo Império, enfim.
É preciso ter em conta que a Rússia foi destruída como País que se fez desde os anos 1920 por aquele beberrão do Yeltsin, que saiu a distribuir as empresas russas, como caixeiro barato do Império, para pessoas e grupos. Mas havia uma nação anterior, uma economia, domínio de tecnologias e um povo forte e socialmente integrado, que havia recebido educação em todos os níveis e bem estar, que havia se imposto e derrotado a poderosa Alemanha. E havia o Estado nacional estruturado que garantia e possibilitava a nação se manter de pé, apesar de destroçada. Recuperaram o Estado em boa parte, reapossaram de suas riquezas básicas, o povo russo recompôs a sua história e voltou a se fazer presente no mundo. Com a consciência da sua soberania e dos seus interesses.
O mesmo pode se observar do que acontece com a China. Com a Revolução de 1949, liderava por Mao, o povo chinês recuperou sua autoestima, exerceu domínio sobre suas terras, voltou-se para a educação de sua gente, desde o nível de alfabetização, debruçou-se sobre tecnologia munido da ideia do desenvolvimento e bem estar de todos, e foram brotando as coisas feitos pelos chineses em todas as áreas, até despontar a grande economia que será a maior do mundo em breve, dizem.
Aliás, é preciso dizer que a economia americana se fez grandiosa e centro do Império no Século XX por que seguiu as diretrizes de Hamilton, seu primeiro Ministro da Fazenda, de proteger a economia nacional e não seguir as recomendações da Inglaterra que queria manter a economia americana secundária à Revolução Industrial inglesa. Além disse, se jogaram na educação, gerando um conjunto das maiores escolas e universidades do mundo.
E nós aqui, neste Brasil?
Já estivemos neste caminho. O trabalhismo dotou o Brasil da legislação trabalhista e Previdência Social pública, nos conduziu no caminho do desenvolvimentismo para superar o atraso, com diversas estatais estratégicas, estruturou o Estado Nacional para o exercício da nossa soberania e domínio de nossas riquezas. Avançamos com a Constituição de 1988 e com as políticas sociais de Lula e Dilma de superação da miséria e da pobreza e em áreas de ciências e universitária.
Com o ultraliberalismo de Collor e Fernando Henrique, o Brasil perde o rumo, até a Constituição foi mutilada. Com o massacre que o País sofreu com impeachment da Dilma, processos contra Lula e sua prisão e a eleição de Bolsonaro, o Brasil encontra-se, hoje, irreconhecível como País que compreende seu papel e se posiciona no mundo na defesa dos seus interesses. Até a área militar e de segurança nacional, que este governo diz tanto se preocupar, está em frangalhos. É deplorável a situação do ITA, IME e áreas da Marinha, em comparação ao que já representaram para o Brasil na garantia da sua soberania e independência. Dizem que do ITA saem, hoje, jovens para o mercado financeiro e não para trabalharem em nossos projetos estratégicos, já de resto inexistentes. Os nossos equipamentos, de tão dependentes, não se manteriam sem parafusos importados. Os inúmeros generais e outros oficiais no Governo andam atrás de cargos para si e familiares e não pensam estrategicamente o Brasil e as condições da segurança nacional. Vê-se, hoje, que Collor e FHC, assim como Temer e Bolsonaro, não passaram de meros lobistas dos interesses estrangeiros: romperam com a velha sabedoria da política de substituição de importações, em que se importa só o necessário.
A agricultura, diante da nossa responsabilidade de alimentar nossa gente e ajudar no abastecimento do mundo, vive atraso e dependência a produtos e tecnologias estrangeiras de forma até vexaminosa. Na área médica, não fomos capazes nem de produzir respiradouros para nossa gente desesperadamente necessitada diante do terrível quadro da covid. Vivemos um atraso industrial deplorável nos últimos tempos, nós que nas décadas de 1940, 1950 e 1960 fomos o país que mais crescemos no mundo.
Comenta-se entre lúcidas cabeças no mundo que os países que desfrutarem de um povo alimentado e educado, dispuserem de grandes territórios e usufruírem riquezas naturais apreciáveis, especialmente em energia, e dispuserem de tecnologias avançadas, terão lugar de destaque nesse novo quadro que se desenvolve no mundo. Tudo o que o Brasil dispõe e oferece. Diante da delicadeza da situação de petróleo e energia, no Brasil se procura destruir a Petrobras e privatizar a Eletrobras. Insanidade pura.
Precisamos da vontade política que o governo atual não dispõe, pois, acima de tudo, lhe falta capacidade, mas que o povo brasileiro está apontando.
As articulações políticas que se desenvolvem hoje em dia para possibilitar a mudança política que se anuncia, são necessárias e úteis. As ideias lançadas são importantes. Mas não são suficientes para colocar o Brasil no seu lugar. Inclusive o projeto já apresentado pelo PT para discussão ajuda no debate, mas não é suficiente. É preciso retornar ao trabalhismo com seu conteúdo nacionalista, às linhas básicas em que o Brasil melhor se fez até aqui e construir o projeto nacional que possibilite ao Brasil usufruir das suas potencialidades e se colocar no seu lugar efetivo no mundo. Um lugar mais especial para nossa gente do que estar no orçamento.
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