O caminho da mobilização social para resgatar o país da cloaca

O governo Temer não apenas comprou o próprio apoio institucional no Congresso como se prepara para fazer o próximo Legislativo. É o maior seqüestro da vontade popular em toda a história do país

Michel Temer 
Michel Temer  (Foto: Jose Carlos de Assis)


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Não estamos em crise. Estamos, sim, mergulhados numa cloaca. A expressão, se não me engano, é de Paulo Henrique Amorim. Eu sou menos metafórico. Descrevo a situação que vivemos, diretamente, como um derretimento geral das instituições republicanas. O Executivo apodreceu no meio de malas de dinheiro roubado. A maioria absoluta do Congresso se vendeu por cargos, ministérios e emendas. O Judiciário perdeu totalmente o crédito na medida em que arbitra sentenças e processos segundo preferências pessoais e partidárias.

Vista de uma perspectiva imparcial, a situação brasileira, por  culpa exclusiva das classes dominantes e das elites  dirigentes, indica o caminho da convulsão social. Não falo em guerra civil porque não existe organização para isso, pelo menos por enquanto, na sociedade civil. Entretanto, a sociedade está sufocada. Não tem por onde respirar. O Governo Temer não apenas comprou o próprio apoio institucional no Congresso como se prepara para fazer o próximo Legislativo. É o maior seqüestro da vontade popular em toda a história do país.

Alimentei por alguns meses a ilusão de que as forças progressistas deveriam se preparar para as eleições gerais de 2018, jogando tudo para conquistar maioria no Congresso, como uma espécie de âncora para a eleição presidencial. Não tenho mais essa ilusão. Depois da compra pública de apoio parlamentar por parte de  Temer e de seus fâmulos, explicitamente, pela televisão; depois da entrega a Moreira Franco de R$ 1,6 bilhão para financiar publicidade, me convenci de que, por algum caminho, esse Governo tem que ser derrubado em nome da defesa da soberania nacional e dos interesses do povo.

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O relevante não é a palavra de ordem fora Temer. É fora o Governo inteiro, Executivo, Legislativo e Judiciário. Isso, em termos práticos, significa eleições gerais para reconstituir o governo da República, logo seguidas de uma convocação de Constituinte. Sem  esta, é impossível nos livrarmos dos privilégios no  setor público, principalmente no Judiciário. Temos que limpar as cavalariças do rei. Diante da cloaca em que nos encontramos, não há solução de compromisso.  A estrutura jurídica atual tem que ser subvertida em nome do povo. Num processo de convulsão social, os progressistas podem ganhar as eleições gerais.

É importante  que se considere no entorno da cloaca o comportamento dos militares. Já escrevi sobre isso, mas vou avançar outros comentários. Muita gente teme que as elites dirigentes cancelem as eleições do próximo ano ou inventem algum artifício para desqualificá-las, como o parlamentarismo. Até onde eu saiba, os militares tem acompanhado com certa tolerância a degradação da República. Entretanto, no meu entender, a única coisa que não tolerariam era a completa desfiguração institucional com o cancelamento das eleições.

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Creio que os militares se portariam como guardiães da sociedade civil no caso de um grande movimento popular por um novo Governo. Não vejo como poderiam atacar o povo para defender a cloaca. Aliás, este seria um bom momento de reconciliação com eles. Na ditadura, os governos militares foram desenvolvimentistas e defensores da soberania nacional e do progresso social. Entretanto, eliminaram a liberdade. O Governo atual tolera a liberdade, mas é regressivo na economia, praticamente ignora o desemprego, entrega a estrangeiros a soberania nacional e liquida o progresso social.

Tenho percebido nos movimentos sociais um calor latente de revolta generalizada. A paciência do povo está próxima do esgotamento. A incitação à revolta que tem sido feita pelo senador Roberto Requião, por Ciro Gomes e por parlamentares progressisgtas não está caindo no vazio. As platéias que os acompanham pelo país, e seus seguidores na internet, revelam uma clara disposição para a luta. Estamos numa espécie de mudança de fase física no plano político. É quando a água líquida, abaixo de zero grau, torna-se gelo com uma pequena alteração no ambiente. Em outras palavras, voltando à política, estamos à espera da faísca.

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