O Brasil viu uma espiritualidade nas ruas: dos quilombos, de paz e plural
Mauro Lopes escreve sobre a espiritualidade que emergiu das ruas neste 15 de maio, muito diferente daquela das manifestações do golpe de Estado: "Em 2015/16 afirmou-se uma espiritualidade da Casa Grande; agora, uma espiritualidade da senzala mas, mais que isso, uma espiritualidade dos quilombos, livre, altiva, alegre, celebração da vida."
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Por Mauro Lopes, editor do 247 e do Jornalistas pela Democracia - O Paz e Bem desta quinta (16) celebra algo especial, único: nas manifestações que mobilizaram mais de 2 milhões de pessoas nesta quarta, o Brasil experimentou, vivenciou uma espiritualidade. Sim, havia uma espiritualidade proposta ao país ontem como houvera antes nas manifestações do golpe de Estado em 2015/16 -e elas são em tudo diferentes.
Que espiritualidade apresentou-se ao país ontem? Uma espiritualidade plural e de paz.
Paz - não havia ódio contra ninguém nas ruas. Por mais que Jair Bolsonaro e o ministro da Educação sejam personagens que provocam repulsa por sua desumanidade, as ruas não gritaram por sua morte; não havia bonecos que os ridicularizassem nem xingamentos como expressão corrente -essas foram marcas das manifestações da direita, em 2015-16. Tratava-se de uma causa, a defesa da educação, e não do ataque a pessoas. A polícia não estava nas ruas para proteger agressores, mas estava pronta para agredir as pessoas em paz, como de fato o fez em Porto Alegre e no Rio.
Plural - em 2015/16 desfilaram na rua as camadas médias lideradas pelos ricos; havia uniforme, as camisas amarelas da seleção brasileira, a predominância absoluta de pessoas brancas, uma única expressão religiosa, o cristianismo fundamentalista. Ontem, houve colorido; roupas de todas as cores, apesar do gosto pelo vermelho. E uma mescla de gentes que é a chance de um país que retome a trajetória dos governos do PT, baseado na aliança entre pobres e as camadas médias.
Vimos um retrato do Brasil, uma enorme colcha de retalhos representativa de nossa história. Havia brancas e brancos, mas os pretos e pretas e pardos eram maioria, como o são entre os pobres. Os jovens foram os principais protagonistas e líderes, com predominância do feminino enquanto em 2015-16 os homens do dinheiro, o machismo e o patriarcalismo mexia todos os cordões.
Não se manifestou uma religiosidade única, pois desfilou o país em sua diversidade, onde cabem todos e todas; nada de pai-nosso e ave-maria que, em vez de orações, foram instrumentalizados como como armas-símbolos de um projeto de hegemonia e submissão dos demais.
As ruas assistiram a um emocionante elogio ao conhecimento e à cultura, ao contrário de 2015/16, quando a arrogância das elites polarizadas pela extrema-direita gritou a ignorância e atacou a cultura e as artes.
Sim, foi momento de apresentar ao país o que é uma espiritualidade plural e de paz.
Em 2015/16 afirmou-se uma espiritualidade da Casa Grande; agora, uma espiritualidade da senzala mas, mais que isso, uma espiritualidade dos quilombos, livre, altiva, alegre, celebração da vida.
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