O Brasil se tornou uma causa perdida?
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No último dia 03 de agosto, o jornalista Leonardo Attuch postou o seguinte em seu perfil no Twitter: Respondam com sinceridade: o Brasil se tornou uma causa perdida? As respostas foram as mais variadas possíveis. Eu, por exemplo, respondi: sim. Faz tempo. No entanto, as respostas para a provocação feita pelo editor do Brasil 247 não são assim tão simples, uma vez que dependem de diferentes fatores e situações, que são delimitadoras dos direitos mais básicos da população brasileira desde muito tempo. Além disso, a pergunta em questão também está longe da simplicidade que aparenta conter, indo muito além da aparente dualidade otimismo/pessimismo.
Assim, para as pessoas que ainda ontem comiam carne, mas hoje não conseguem mais comer nem um arroz decente, certamente o Brasil se tornou uma causa perdida. E se tornou uma causa perdida faz muito tempo, uma vez que seus pais e, muito provavelmente, seus avós passaram em algum momento das suas vidas por situações semelhantes. Enquanto muitos passam fome de geração a geração, alguns privilegiados enriquecem a olhos vistos, ocupando cargos públicos e dilapidando o patrimônio do país. O que dizer, por exemplo, dos “marechais” que nadam em polpudos salários pagos pelo povo? Outros, por sua vez, enriquecem assustadoramente explorando a mão de obra barata de um povo refém das suas elites financeiras, cujo modus operandi em nada se diferencia daquele dos senhores de escravos, ou seja, sugar o sangue do trabalhador até o limite, descartando-o quando este já não consegue mais encher suas burras de dinheiro.
O Brasil é, sim, uma causa perdida, tendo em vista ter falhado (e continuar falhando) com a parte da população que mais precisa do Estado. Mas o Estado brasileiro não deseja ver essa parte do povo, muito menos ouvir seus gritos de lamento na fila do osso. A mão do Estado brasileiro é seletiva. Para os donos do poder está sempre a acenar com benesses e vantagens, sejam elas lícitas ou nem tanto. Para o pobre trabalhador, porém, acena com a palmatória e as condenações previstas em lei. Os presídios estão superlotados de pobres e pretos cada vez mais jovens. Quem é mesmo que se importa? Do inferno, Borba Gato gargalha.
A onda punitiva que se tem visto nos Estados Unidos, por exemplo (sobre isso, sugiro a leitura de Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos – a onda punitiva, de 2015, de Loïc Wacquant), tem sido replicada por aqui sem o menor pudor, dó ou piedade. Galo bom é Galo preso, diriam os donos da Casa-grande. E assim se faz. Para o Brasil que se tornou uma causa perdida, mais vale a inutilidade da estátua de um assassino do que a liberdade de um trabalhador.
O Brasil, no entanto, jamais será uma causa perdida para aqueles que registraram, por exemplo, lucro líquido contábil de mais de 7 bilhões de Reais apenas no primeiro trimestre de 2021. Esses senhores não dão a mínima para quem não tem o que comer nem onde dormir. Para eles não importam os “sem eira nem beira”, os “sem paixão sem alqueire”. O importante para eles é que, ao final de um dia de trabalho, possam pegar seu avião particular e ir jantar em Nova York, voltando à colônia ainda na mesma noite. Logo, quaisquer que sejam as tentativas de responder “com sinceridade” à pergunta feita por Attuch nos obriga a remexer no histórico de uma nação (ou seria apenas um Estado?), que nunca consegue se desvencilhar de seus eternos sonhos intranquilos.
As respostas dadas ao referido jornalista foram, na sua maioria, dadas por pessoas que têm o hábito de ler jornais, principalmente os portais da mídia progressista, como este 247. Infelizmente, muitos nem tomaram conhecimento do tweet em questão, uma vez que nem acessam a Internet (também não lerão esse texto), pois mal conseguem pagar, se é que conseguem, a conta de luz ou comprar comida. Caso pudessem fazê-lo, as respostas estariam mais próximas do real e nos dariam uma visão mais apurada daquilo que foi perguntado. Contudo, a impossibilidade de interação dessa parte da sociedade com a pergunta já pode ser considerada uma estridente resposta à provocação de Leonardo Attuch, cujo questionamento se mostra necessário e oportuno para um Brasil que ainda se pensa.
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