O Brasil por um punhado de jóias

É o preço da privatização de rapina, canalha, irresponsável, nociva à sociedade

Joias, Bolsonaro com Michelle e Polícia Federal
Joias, Bolsonaro com Michelle e Polícia Federal (Foto: Reprodução/Twitter | REUTERS/Ueslei Marcelino | Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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 Em mais um escândalo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, com o caso das jóias árabes, percebemos a gravidade a qual o Brasil foi submetido nos últimos anos. Mais, podemos ter uma ideia mais acabada do achincalhamento do país perante a comunidade internacional. O Brasil, durante os anos do desgoverno Bolsonaro, passou a naturalizar absurdos que não cessaram depois de sua derrota. Ao contrário. O caso das jóias parece retornar de algum lugar do passado recente para aterrorizar o ex-presidente Bolsonaro e a ex-primeira-dama. A Michelle, de quem nos lembramos, aliás, no envolvimento, em 2020, no escandaloso episódio do cheque de 89 mil reais depositado em sua conta por um ex-assessor de Fabrício Queiroz - o que lhe rendeu o ultrajante apelido de “Micheque”. O atual episódio, aliás, já começa a inspirar outros codinomes, não menos perspicazes. 

Mas a questão central, ignorada pela ala fanática do bolsonarismo que se apega ao episódio somente pela ideia de um mal-entendido sobre um “suposto presente”, não se esclarece fora do contexto da privatização da refinaria Landulpho Alves (Rlam) com capacidade de processar 333 mil barris de petróleo por dia, e seus efeitos catastróficos para a população da Bahia, que além de pagar mais caro o preço do gás, tem sofrido com sua escassez, já que mais de metade dos postos de venda de botijões de gás foram fechados após a nova gestão adotar uma política própria de combustíveis. É o preço da privatização de rapina, canalha, irresponsável, nociva à sociedade.

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Avaliada em torno de US$ 3 ou 4 bilhões, a refinaria foi vendida para o grupo Mubadala Capital, por apenas US$ 1,5 bilhão, valor que alarmou o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural, Biocombustível (Ineep) justamente porque o argumento utilizado, de que o valor fora ajustado em razão da pandemia, não fazia qualquer sentido em face do teor da negociação. Ao contrário, a negociação escancara, mais uma vez, a face perversa do capitalismo de desastre, sujeitando o povo brasileiro a condições de vida precárias em benefício do capital. O caso das jóias é o modelo exemplar, didático, de como funciona a corrupção. Um presente avaliado em 16,5 milhões (cerca de 3,18 bilhões de US$) - sendo, ou não, pedido pelo ex-presidente, sabendo ele, ou não, que o receberia - abre margens à interpretação. A indignante imagem que sobra é a de que, às custas do povo brasileiro, a commodity do petróleo, cujo lucro deveria ser utilizado em benefício da sociedade brasileira, termina por ser negociado de modo vulgar, orientado por uma mentalidade extrativista, irresponsável em relação à soberania nacional. 

Assim como boa parte do continente africano sofre as consequências do capitalismo - cuja miséria é inversamente proporcional a sua riqueza (urânio, ouro, diamantes e petróleo), assim também o Brasil tem sofrido ataques sistemáticos à sua soberania após a descoberta do pré-sal, em 2007. Os anos da barbárie brasileira que se iniciaram com o golpe contra a Dilma Rousseff e se estenderam até o final de 2022 sob o desgoverno de Jair Bolsonaro não podem ser vistos sem que se leve em conta o contexto da disputa econômica pelo lucro do petróleo, além de uma mudança sistemática - orientada pela elite do capital financeiro - na desregulamentação nas relações de trabalho, nas políticas sociais, na distribuição de renda, e na maior abertura para a privatização de áreas como educação e saúde. 

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E isso não deve parar por aqui. Boa parte da elite do dinheiro, insatisfeita com o retorno do governo Lula, seguirá em plena articulação para seguir avançando na exploração e extração da riqueza nacional. 

Obrigado, mas não podemos aceitar as jóias. 

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