O Brasil não pode prescindir do altruísmo e da solidariedade dos médicos cubanos
Mesmo que o Mais Médicos não retorne na forma original, é necessário restaurar a cooperação com Cuba na área da saúde, escreve José Reinaldo Carvalho
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Por José Reinaldo Carvalho, 247 - Há grandes expectativas no mundo quanto ao terceiro mandato do Presidente Lula, que se inicia no próximo 1º de Janeiro. Estas expectativas são ainda mais expressivas na América Latina e Caribe, onde é forte a convicção de que Lula será o mesmo parceiro de sempre, solidário com a causa comum de integração e solidariedade entre os povos fraternos da região.
Nesse quadro será paradigmática a restauração plena das relações amistosas e cooperativas com Cuba, país cujos governo e organizações sociais nunca pouparam esforços para desenvolver sólidos laços de solidariedade e cooperação mútuas. São inúmeros os exemplos positivos do quanto essas relações têm sido frutíferas para ambas as partes desde que os laços diplomáticos foram restabelecidos, em junho de 1986, no governo Sarney, 22 anos depois da ruptura pelo regime militar instaurado em 1964.
Eu me arriscaria a afirmar que o ponto alto da cooperação cubano-brasileira foi o Programa Mais Médicos, criado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff. Com este revolucionário programa, foram enviados profissionais de saúde para regiões pobres e que não tinham cobertura médica. Segundo a Opas (Organização Panamericana de Saúde), que é o escritório regional da OMS (Organização Mundial da Saúde) para as Américas e a agência especializada em saúde do sistema interamericano, mais de 60 milhões de brasileiros foram cobertos pelo Programa Mais Médicos.
De acordo com a Opas, o Mais Médicos foi “um dos projetos mais audaciosos para a cobertura equitativa e universal da atenção primária à saúde no mundo e como uma das melhores práticas de cooperação sul-sul na Região das Américas”. Este programa acarretou um aumento na cobertura de atenção básica de 77,9% para 86,3%, em mais de mil municípios que aderiram. Além do envio de médicos para áreas onde faltavam profissionais, o programa previa a ampliação do número de vagas nos cursos de graduação, especialização e residência médicas, além de melhoria na infraestrutura da saúde.
A exitosa execução deste programa foi assegurada principalmente pelos profissionais de saúde cubanos, constituindo 80% de todos os médicos participantes. Cerca de 20 mil colaboradores cubanos atenderam dezenas de milhões de pacientes em mais de 3.600 municípios durante cinco anos. Mais de 700 municípios brasileiros tiveram um médico pela primeira vez na história.
Infelizmente, devido a ameaças proferidas contra os profissionais de saúde cubanos em novembro de 2018 pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde Pública de Cuba decidiu não mais participar do Programa Mais Médicos no Brasil.
Na ocasião, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha lamentou a saída dos cubanos do programa que em sua gestão ele ajudou a criar. “Depois de reiteradas agressões feitas pelo presidente eleito Bolsonaro em relação à qualidade dos médicos cubanos, em relação à formação desses médicos, em relação à Opas que é o braço da Organização Mundial da Saúde para as Américas, o Ministério da Saúde de Cuba resolveu formalizar sua retirada do Programa Mais Médicos para o Brasil”, disse Padilha, para em seguida declarar que foi uma acontecimento "triste para a saúde pública brasileira e para a política externa do Brasil". Padilha criticou o espírito beligerante de Bolsonaro contra os cubanos e a ideologia de conflito colocada acima dos interesses do povo brasleiro.
Dentre os inúmeros problemas que o novo Ministério da Saúde terá de enfrentar a partir de 1º de janeiro de 2023, está o de suprir as carências do atendimento médico primário em centenas de municípios que permanecem desatendidos desde a retirada dos médicos cubanos. É possível que se estabeleçam novos programas, ainda que não seja a restauração do antigo Mais Médicos. É algo a verificar quando a nova equipe ministerial entrar em funções, estabelecer as prioridades da gestão na nova realidade e em face dos enormes novos desafios surgidos após o desastre provocado por Jair Bolsonaro e o general Pazuello na saúde pública brasileira.
Creio que em qualquer circunstância, não se pode ignorar a disponibilidade de Cuba para dispor seus profissionais de saúde em programas de cooperação com o Brasil.
Inspirada em princípios humanistas e de solidariedade internacional, a Revolução Cubana formou uma imensa legião de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, habilitados para enfrentar epidemias e situações calamitosas que afetam a segurança sanitária e a vida de numerosas comunidades, além da expertise para a atenção primária, segundo os melhores protocolos de Saúde Pública adotados pela Opas/OMS.
Mais de 60 países foram beneficiários da presença dos médicos cubanos. Durante a pandemia de covid-19 até mesmo países ricos, como Itália e Espanha, receberam a solidariedade médica cubana. Foi uma presença decisiva.
Por onde passam, os médicos cubanos recebem menções honrosas de autoridades, organizações políticas, sociais, humanitárias e veículos de mídia, um contraste com o que ocorreu no Brasil, onde apesar de os profissionais de saúde cubanos terem formado o contingente principal do programa Mais Médicos, foram alvo da agressividade das forças de extrema direita que empalmaram o poder a partir do golpe de 2016 e da eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
O Brasil não pode nem deve prescindir do altruísmo e da solidariedade dos médicos cubanos.
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